PUBLICADO EM 22 de jan de 2019
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Por uma geringonça de oposição

Segundo relatório global da Oxfam, a fortuna dos 26 mais ricos do mundo se equivale hoje a dos 3,8 bilhões mais pobres. Em 2018 os bilionários aumentaram sua fortuna em 12%, enquanto a metade mais pobre da população mundial teve suas posses reduzidas em 11%. Isso se chama neoliberalismo. As consequências dessa concentração de riqueza que só aumenta ano após anos, são drásticas e tendem a ampliar geometricamente, seja pelos efeitos do aquecimento global; da substituição da mão de obra pela inteligência artificial e a robotização; dos fluxos de especulação financeira; ou do poder das grandes corporações que passam a deter campos estratégicos e monopólios, tomando influência desproporcional nas decisões políticas.

No Brasil, 10° país mais desigual do mundo, os 10% mais pobres pagam proporcionalmente mais impostos que os 10% mais ricos e nenhuma outra discussão econômica deveria ocorrer por aqui até se resolver essa injustiça, mas a esquerda esteve no poder por 22 anos seguidos e não resolveu (em que pese inúmeros outros avanços). Talvez porque preferiu disputar entre si quem era mais social-democrata, mais progressista, ou com valores mais republicanos ao custo de ao invés de se entenderem entre si, se aliarem com partidos cujas raízes se originaram na ARENA, sacrificando parte importante do que seria uma agenda de esquerda/centro-esquerda e engendrando a partir de dado momento um sistema de corrupção de dimensões “nunca antes na história desse país” para dar sustentabilidade ao seu projeto de poder.

Hoje pagamos o preço por todos esses erros, os neoliberais venceram e podem seguir vencendo se a esquerda não for capaz de fazer a sua mea culpa, sem apontar o dedo pro lado, mas sim pra si mesmo e cada qual ao seu partido. Está na hora da esquerda brasileira deixar de personalismos, de retóricas esgotadas, de dar um tempo nas disputas por hegemonia, e assumir sim a responsabilidade de buscar o entendimento em torno de uma agenda mínima de consensos, que possa ser apresentada à sociedade em defesa da democracia, dos direitos humanos, da justiça social e da sustentabilidade, nos termos da nossa Constituição. Vou dar como exemplo a questão indígena, sob a mira desse governo protofascista. Aposto que conseguimos reunir do mesmo lado FHC, Haddad, Marina, Ciro, Boulos, Eduardo Jorge, Jarbas Vasconcelos, Cristovam Buarque, Flavio Dino, Carlos Siqueira e muitos outros e outras. Enfim, assim como a esquerda portuguesa se uniu formando uma aliança batizada de geringonça para governar, nós precisamos ter a mesma humildade e desprendimento de formar uma geringonça de oposição em defesa das minorias, dos mais humildes, dos direitos civis. O que estamos esperando pra começar?

Fernando Guimarães é coordenador do PSDB Esquerda Pra Valer

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