É sempre bom desconfiar quando culpam unicamente a pandemia pelo quadro de recessão no Brasil. O PIB negativo do 1º trimestre de 2020, apontado pela PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), é anterior ao fechamento do comércio imposto pelo coronavírus no final de março_
Aliás, a economia brasileira já vinha em queda desde 2014, “coincidindo” com a ascensão moralista e conservadora que culminou com o retorno de governos neoliberais inimigos do trabalhismo e do movimento sindical, incapazes de gerar empregos de qualidade e fomentar o desenvolvimento econômico geral da nação.
Vamos aos números, índices e previsões. No período 2014-2019 a média de evolução no PIB é negativa, de -0,51, e os dados recentes do Banco Central, a visão do mercado e a avaliação de experientes economistas indicam que o Brasil infelizmente continuará em recessão, com uma queda neste ano no Produto Interno Bruto (PIB) entre 5 e 11%.
Também nos afligem: saber que 50% do comércio fechado na quarentena não voltará a funcionar, a delicada situação dos milhões de trabalhadores colocados pelas empresas em situação de suspensão de contratos de trabalho ou de diminuição de jornada e salário e o crescente desemprego que pode alcançar em setembro próximo o índice de 14,5%, o mais alto já verificado na história do País.
Estes 14,5%, apesar de representarem 15 milhões de famílias atingidas, não é o número real, pois não contabiliza os desalentados (pessoas que nem procuram mais empregos) e os que estão subocupados, fazendo bicos. Quando se contabilizam estes, chegamos ao número de quase 60 milhões de brasileiros sem emprego de fato, sobrevivendo um dia de cada vez, sem condições dignas, e sofrendo o pior dos desesperos: ver as necessidades da sua família crescerem dia após dia sem encontrar as condições para resolvê-las.
A atual geração e a anterior, portanto, não conheceram uma situação tão dramática e desesperadora como a que estamos vivendo neste momento. Este é o grande debate a ser enfrentado por nós durante um bom tempo. A retomada da economia, a implantação de uma renda mínima contra a miséria, a criação de milhões de empregos e a garantia de direitos trabalhistas.
Esta luta não será pacífica. O governo prepara uma terra arrasada sobre todos os direitos trabalhistas que nos restaram. Argumentam que é melhor trabalhar como escravo, sem direitos, do que ficar desempregado. Exatamente o mantra que jogou o País no buraco. Afinal, onde estão os 6 milhões de empregos que seriam criados pela reforma trabalhista em 2017?
Devemos, enfim, nos preparar para a maior guerra já travada pelos trabalhadores brasileiros. Pela vida, pela saúde, pela democracia e, sobretudo, pelo emprego e pelo trabalho decente, com direitos e dignidade. Mais do que nunca, o movimento sindical unificado e atuante e as lutas trabalhistas e sociais serão as grandes armas do povo brasileiro contra a exploração e a miséria que bate em nossas portas.
Rodrigo de Morais, bacharel em Ciências do Trabalho, dirigente sindical do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes e ativista social