Os trabalhadores, em geral, e os dirigentes sindicais, em especial, devem pautar suas ações e decisões pelos dados da realidade. Há pouco ou nenhum espaço para sonhar neste momento árduo e difícil da nossa história. O momento é de sermos mais objetivos do que estridentes, mais calculistas do que passionais. Trata-se, sim, de uma orientação simples, mas que merece ser frisada em mais este momento de acirramento das posições políticas.
A meu ver, a missão urgente que se apresenta ao movimento sindical, devendo ser cumprida com diálogo franco e entendimentos às claras, é a de inserir nos programas dos presidenciáveis as pautas social e trabalhista. Não podemos permitir que a eleição se resuma em um debate de ajustes sobre ajustes, nos quais, bem sabemos, os primeiros e mais prejudicados seremos nós.
Cabe, assim, confrontar os pré-candidatos de todas as matizes ideológicas com nossas reivindicações históricas, de modo e ter claro quais deles, efetivamente, atenderão nossos interesses, no todo ou em parte. Esse comprometimento deve pautar nossas escolhas e nossos apoios ao longo da campanha. Assim, entre os presidenciáveis que já se apresentam e os que ainda pretendem entrar na corrida, todos podem ter a preferência da maioria ou de parte dos trabalhadores e seus líderes sindicais. A premissa é atuar estritamente dentro do campo democrática.
Revisões minuciosas da reforma trabalhista e, também, do projeto de reforma da Previdência são balizadores claros sobre o perfil dos candidatos que verdadeiramente podem representar os trabalhadores. Resgatar os programas sociais, ativar o mercado interno de consumo, incentivar o crescimento da indústria nacional e da agricultura, com os trabalhadores participando dos benefícios desse crescimento, são outros.
Os setores menos atrasados do patronato igualmente já perceberam que a desorganização provocada pela derrubada abrupta da legislação trabalhista é contraproducente e tensiona os ambientes de trabalho. Por fim, a promessa de que a reforma criaria milhares de empregos, de uma hora para outra, se mostrou uma balela que custará caro aos políticos que se associaram a ela. Os candidatos à presidência, assim, precisam entender que revisar a reforma trabalhista e fortalecer as estruturas sindicais será positivo para todo o setor produtivo.
Com o ex-presidente Lula na disputa, esses assuntos, necessariamente, serão discutidos em campanha. Caso ele não possa ser uma opção nas urnas eletrônicas de outubro, outros concorrentes precisam ser levados a se comprometer com essas e outras bandeiras populares. O risco, em caso de vazio de propostas neste sentido, é o de os trabalhadores, simplesmente, não terem peso real e organizado na disputa de outubro. Seríamos meros espectadores em lugar de atores importantes.
Os candidatos a presidente precisam ser confrontados diretamente com as reivindicações mais específicas e também gerais dos trabalhadores. E é tarefa dos dirigentes sindicais cumprir esse papel de levar até esses personagens as nossas posições, brigar por elas, argumentar por elas, fazê-los entender da sua importância para a grande maioria dos brasileiros e, nessa medida, para o País.
Pessoalmente, ao lado dos companheiros que fazem parte da direção da Força Sindical, tenho procurado cumprir essa delegação. Assim como, de modo permanente, troco ideias e impressões com o ex-presidente Lula, também tenho participado das iniciativas para fazer os demais pré-candidatos do campo democrático entenderem a importância de um cessar-fogo contra os trabalhadores e o reinício de um período de debate mais honesto sobre os rumos para os quais o Brasil vai sendo direcionado. Na marcha de insensibilidade executada pelo governo Temer, o que teremos será não mais do que uma terra arrasada se os trabalhadores não voltarem, urgentemente, a serem ouvidos.
Sergio Luiz Leite é presidente da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas e Farmacêuticas do Estado de São Paulo (Fequimfar) e 1º secretário da Força Sindical