A paralisação de caminhoneiros nos mais diversos cantos do País já alcançou um feito: o de chamar a atenção do povo brasileiro para a criminosa política ultraliberal que, desde o golpe de 2016, assalta o governo federal e promove o desmonte da Petrobras. Mais do que isso: é o próprio golpe que está em xeque, diante da falta de rumos para reverter a crise política e econômica que avança no Brasil.
Como pauta central da greve, os caminhoneiros exigem a estabilidade no preço dos combustíveis, sobretudo do diesel, cujo valor disparou em virtude da nova – e inconsequente – “política de preços” da Petrobras. Em julho de 2017, a empresa determinou que seus insumos passariam a ser precificados de acordo com a taxa de câmbio e com a cotação do petróleo no mercado internacional.
A medida, obviamente, agradou aos acionistas da Petrobras e aos investidores internacionais, mas pôs em risco setores importantes da economia brasileira. Como bem alertou o presidente da CTB, Adilson Araújo, essa política “é particularmente danosa para os caminhoneiros, mas prejudica também os agricultores, outros ramos da economia e os consumidores em geral”.
Nas últimas semanas em particular, com as crescentes altas no câmbio e no valor internacional do petróleo, o preço dos combustíveis ficou incontrolável, afetando produção e distribuição. O custo de um caminhão de grande porte apenas com diesel chegou a R$ 2 mil por dia – cifra que praticamente inviabiliza a prestação do serviço de transporte de carga. Em outras palavras, é o governo ultraliberal e entreguista de Michel Temer – e não a greve dos caminhoneiros – que provoca o caos e o desabastecimento.
Os caminhoneiros cruzaram os braços numa ação já histórica, que dá voz às entidades representativas da categoria. É o caso da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), da União Nacional dos Caminhoneiros do Brasil (Unicam) e da Associação Brasileira de Caminhoneiros (Abcam). Parte dessas entidades chegou a apoiar o golpe contra a ex-presidenta Dilma, mas agora convergem numa plataforma correta – e essa posição deve ser valorizada. A CTB e outras centrais sindicais, bem como a Frente Brasil Popular, também manifestaram apoio à paralisação.
A categoria se aproveitou do êxito da mobilização para cobrar outras demandas justas. Além da redução dos impostos sobre os combustíveis e da revisão da fracassada política de preços da Petrobras, os caminhoneiros lutam por pontos como a redução dos pedágios, a renegociação de suas dívidas e a boa conservação das estradas. O governo Temer, inevitavelmente, terá de dialogar mais com os trabalhadores e dar respostas satisfatórias a essas reivindicações.
É evidente que, dado o interesse comum na estabilidade do preço dos combustíveis, as empresas do setor – com as transportadoras à frente – aderiram à paralisação. Elas também foram importantes para consolidar o caráter nacional dos protestos. De acordo com os organizadores, ocorreram manifestações em 253 pontos, de 23 estados e do Distrito Federal. Cerca de 500 mil caminhoneiros pararam o trabalho.
A despeito disso, reduzir a greve dos caminhoneiros a uma ofensiva essencialmente patronal – tratá-la unilateralmente como um locaute – é um desserviço. Não há como negar o envolvimento espontâneo, direto e consciente dos trabalhadores. Da mesma maneira, o engajamento empresarial atrai a simpatia da grande mídia e inibe a repressão policial – reações inimagináveis em greves de outras categorias e em grandes atos exclusivamente trabalhistas.
Ao manifestar solidariedade aos caminhoneiros do Brasil e apoio à greve, o movimento sindical e o conjunto do campo democrático e progressista ajudam a contextualizar e a qualificar o debate. Que essa paralisação impulsione a luta contra o desmonte e a entrega da Petrobras, contra os desmandos e os retrocessos do governo ilegítimo de Temer, contra a política econômica anti-industrial e desnacionalizante.
É tempo de fortalecer a campanha por um novo projeto de desenvolvimento nacional, a ser referendado pelo povo brasileiro em outubro, nas eleições 2018. Um projeto que priorize a reindustrialização, o crescimento econômico e a geração de empregos, com reforço do papel do Estado, reformas democráticas, distribuição de renda, ampliação de direitos e valorização do trabalho. É a partir dessa perspectiva que se deve sair em defesa dos caminhoneiros, da Petrobras e do Brasil.
Marcelino da Rocha é presidente da FITMETAL (Federação Interestadual de Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil) e dirigente nacional da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil).