Artigo publicado originalmente na Folha de S.Paulo
Mais do que nunca, o indiscutível papel da educação cresce em nossa sociedade. No mundo do trabalho, essa importância se traduz na formação e na qualificação dos trabalhadores e no preparo das entidades sindicais para lidar com os desafios das novas condições e relações trabalhistas.
O tsunami tecnológico exige que os profissionais tenham acesso a qualificação ou requalificação. Pesquisa recente da Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento mostra que das mais de 1.700 horas trabalhadas por uma pessoa no Brasil por ano, somente 17 horas são reservadas a treinamentos.
Esse número precisa ser maior para atender às demandas de uma economia digital e global. Isso contribuiria para o crescimento da produtividade com redução da jornada de trabalho, que já está sendo discutida no Congresso. Quem está capacitado trabalha melhor e produz mais em menos tempo.
Tem-se ainda que manter os alunos na escola, evitando que cerca de 40 milhões dos 50 milhões de ingressantes nas salas de aula fiquem no meio do caminho. Esse conhecimento formaria cidadãos conscientes e críticos para identificar inclusive fake news, outro grande problema da atualidade.
No turbilhão de mudanças, as entidades sindicais precisam ser educadas para superar problemas ligados à saúde mental. Nesse cenário de competição e de avanços tecnológicos, doenças neuronais, como a depressão, o transtorno de déficit de atenção com síndrome de hiperatividade (TDAH), o transtorno de personalidade limítrofe (TPL) ou a síndrome de burnout (SB) são problemas novos. Essas doenças fazem parte do que os sociólogos chamam de sociedade do cansaço.
Para superar esses obstáculos e atuar na defesa dos direitos dos trabalhadores, nós, da UGT (União Geral dos Trabalhadores), vamos propor ações na esfera sindical, como a Sociedade do Cuidado.
O objetivo é preparar sindicatos (e seus líderes) para transformar o modo como vivemos em comunidade, priorizando o bem-estar das pessoas e do planeta em vez de um sistema econômico que valoriza apenas a produção e o consumo.
Essa iniciativa é importante para combater as desigualdades, melhorar a qualidade de vida e fortalecer a democracia.
A Sociedade do Cuidado tem entre seus objetivos distribuir recursos de forma justa —para que todos tenham acesso a serviços essenciais—, cuidar dos aposentados e valorizar o trabalho de cuidado, desempenhado principalmente por trabalhadoras domésticas, enfermeiras e assistentes sociais, só para citar algumas atividades.
As mulheres representam quase 80% do trabalho de cuidado não remunerado. A edição da revista Forbes de novembro de 2023 mostrou que elas teriam contribuído com US$ 10,9 trilhões para a economia global em 2020 se recebessem um salário mínimo pelas tarefas domésticas.
O futuro do movimento sindical dependerá de sua capacidade de adaptação e das respostas que trará a esse cenário inovador.
Se os sindicatos desejam continuar sendo uma força relevante na luta pelos direitos dos trabalhadores, devem se preparar para enfrentar os desafios impostos pela gestão algorítmica e pela revolução da inteligência artificial.
Ricardo Patah, presidente da UGT (União Geral dos Trabalhadores)