PUBLICADO EM 03 de maio de 2018
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Dificuldades da campanha salarial no setor do álcool

Após uma campanha salarial vitoriosa dos trabalhadores nas indústrias farmacêuticas do estado de São Paulo – com reajustes nos salários, nos pisos, na PLR e no cartão alimentação, significativamente superiores à inflação – a FEQUIMFAR e seus Sindicatos filiados enfrentam uma dura negociação nas usinas produtoras do álcool no interior do estado. Os grandes grupos econômicos que gradualmente monopolizam o setor adquirindo usinas familiares em dificuldades financeiras ditam o tom da intransigência negocial.

O atraso na pauta dos usineiros para a presente negociação, com data-base em 1º de maio, se inicia com a proposta de variação real dos salários em 0% (zero por cento), sugerindo unicamente uma recomposição das perdas inflacionárias de aproximadamente 1,87%, percentual bastante distante do verdadeiro crescimento no custo de vida dos trabalhadores no setor. Contudo, a tragédia das propostas apenas começa no índice de reajuste dos salários, mostrando seu maior retrocesso na tentativa de incorporação indistinta de pontos da Reforma Trabalhista, como por exemplo, a prorrogação da jornada de trabalho em ambientes insalubres, o termo de quitação anual, dentre outros.

A movimentação de trabalhadores divulgada pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho (CAGED-MTb) demonstra que no acumulado dos últimos doze meses (abril/2017 a março/2018) no estado de São Paulo, o salário mensal médio de um trabalhador formal admitido foi 22,5% menor que o do trabalhador desligado, percentual por si só preocupante, porém acentuado por uma taxa de rotatividade média de 64%.

Este grave processo de redução da massa salarial se dá com a contratação de novos trabalhadores por salários reduzidos para execução das mesmas funções dos demitidos. Ressaltamos que estes números se remetem exclusivamente aos trabalhadores empregados na atividade industrial e não no cultivo da cana-de-açúcar, assim sendo, não se explicam pela sazonalidade, ainda que existente, mas já abrandada pela fase de vasta mecanização do processo produtivo que ocorre no estado de São Paulo.

Mesmo em um cenário de recuo na moagem da cana-de-açúcar, os grandes grupos econômicos que dominam o setor são capazes de definir seu produto final – açúcar ou álcool – a depender da cotação destes no mercado nacional e internacional, considerando ainda que da cana-de-açúcar nada se perde, até mesmo o bagaço tem sido cada vez mais destinado à cogeração de energia. A despeito dos problemas de gestão, endividamento e ausência de uma política governamental consistente para o setor, contra os trabalhadores soma-se ainda a ofensiva dos usineiros na tentativa de avançar com a nefasta Reforma Trabalhista de Temer na negociação coletiva do setor. É de suma importância resistir! Estamos, por exemplo, apresentando uma contra proposta para a quitação anual com base no acesso à informação.

Os trabalhadores da indústria sucroalcooleira não deixaram de se dedicar à produção e não merecem assumir o ônus do descaso dos empresários e do governo. Longe disso, inclusive, já foram às ruas em defesa do setor, reivindicando a revitalização do Proálcool e a garantia de emprego! A categoria não merece esse tratamento precarizante dos “senhores patrões do setor sucroalcooleiro”. Os trabalhadores merecem, isso sim, gratidão e reconhecimento por sua dedicação na atividade produtiva sucroalcooleira, com reajustes salariais dignos, capazes não somente de recompor as perdas inflacionárias, mas também de assegurar ganhos reais!

Sergio Luiz Leite, Serginho é Presidente da FEQUIMFAR e 1º secretário da Força Sindical

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