PUBLICADO EM 01 de ago de 2025

Brasil na encruzilhada: um convite à liderança em um novo amanhecer global

O quarto artigo da série sobre a geopolítica contemporânea, formulada pelo médico e dirigente sindical, Diógenes Sandim, “Brasil na encruzilhada: um convite à liderança em um novo amanhecer global”, aborda a situação do Brasil e seu papel no cenário global e econômico.

Entenda a importância do Brasil na encruzilhada, onde decisões agora afetarão seu papel no cenário global e econômico.

Entenda a importância do Brasil na encruzilhada, onde decisões agora afetarão seu papel no cenário global e econômico.

Por Diógenes Sandim Martins 

A história não anda em linha reta e há momentos em que a conjuntura de forças e ideias se condensa em um ponto de bifurcação, exigindo escolhas que moldarão o futuro por séculos. O Brasil, na aurora do século XXI, encontra-se precisamente nesse vértice histórico.

Sofre, do exterior, um ataque frontal enquanto nação livre e soberana — um recado sobre o que o Brasil representa como a primeira letra do acrônimo BRICS. Mais que uma letra, o Brasil é a décima economia do mundo, com recursos estratégicos suficientes para sustentar as transformações tecnológicas do século XXI. Portanto, uma força a ser cooptada ou, no mínimo, silenciada.

Esse ataque não se trata, como tantos outros, de uma ação pontual do império quando seus interesses regionais estratégicos são contrariados. Não. Trata-se de uma ação tático-estratégica diante de uma crise civilizacional que expõe as fraturas de um modelo exaurido. Diante disso, emergem dois caminhos diametralmente opostos — um deles clamando por nossa liderança em uma nova ordem mundial.

De um lado, vislumbra-se a rota do progresso genuíno, alicerçada na sustentabilidade da vida em todas as suas expressões e no Humanismo Sistêmico como um novo paradigma pós-moderno. Essa via propõe uma reconfiguração radical das relações globais, em que o respeito à soberania das nações não é mera formalidade, mas um princípio vital para a coexistência.

No campo econômico, a solidariedade em favor do desenvolvimento sustentável pauta uma diplomacia de ganha-ganha, superando a lógica predatória da acumulação. Trata-se de uma ontogenia do bem-viver coletivo, em que o sistema se co-cria a partir da interconexão e da responsabilidade mútua, ecoando a visão de Humberto Maturana sobre a coevolução e a autopoiese dos sistemas sociais.

Do outro lado, persiste a sombra do que fomos e do que, infelizmente, ainda teima em nos assombrar. Essa vertente representa a continuidade de um passado de exclusão social, violência e guerras, marcado pelo egoantropocentrismo, pela acumulação desenfreada de riquezas, pela fome e pelo mal-estar social. Edgar Morin, ao falar da necessidade de um pensamento complexo para lidar com a multidimensionalidade dos problemas contemporâneos, alertaria para o perigo de persistirmos em visões fragmentadas que alimentam essa lógica de desagregação.

A urgência dessa escolha é amplificada pela investida autoritária e imperativa do “Leviatã do Norte”. Essa entidade, cujo rugido ensurdece e cujos malabarismos de “bela aparência” enganam os menos avisados, representa a persistência do velho paradigma de dominação. É a força do Deep State, o Estado profundo que, ao alimentar essa máquina, busca manter a hegemonia de um sistema que beneficia poucos e precariza muitos — inclusive o seu próprio povo.

Contudo, o Brasil não é uma folha em branco na história. Somos uma nação com uma rica trajetória de resistências em busca do bem comum. Nosso povo, de sangue misturado, forjou na dor uma cultura que espanta o mundo pela beleza, pela música, pela poesia — fruto de um sincretismo cultural sem igual. Essa resiliência, essa capacidade de integrar o diverso, é um capital moral e social inestimável.

Temos um potencial que surpreende o mundo, especialmente no campo da tecnologia. Com poucos recursos, somos capazes de produzir aviões de ponta, desenvolver engenharia genética para alimentar o planeta e criar tecnologias digitais de serviço coletivo, como o PIX. Este último, em particular, incomoda o império do norte porque, ao ser copiado globalmente, abre a possibilidade de comercializar sem a necessidade da moeda do Leviatã — um passo fundamental para a autonomia e a soberania econômica das nações. Karl Marx, em sua análise da acumulação de capital e da hegemonia econômica, certamente veria no PIX um elemento disruptivo que desafia as estruturas do poder financeiro.

Neste confronto de paradigmas, o Brasil tem a oportunidade ímpar de mostrar ao mundo como se enfrenta um adversário que, em sua essência, é também adversário de seu próprio povo. A estratégia não é a confrontação militar, mas a união e o acolhimento. Devemos estender a mão aos cidadãos americanos — empresários, sindicalistas, associações — distinguindo o povo do Deep State. Ao forjar essa unidade interna e externa, o “Leviatã” se revela como realmente é: um mito sem poder real, um gigante com pés de barro.

É essa a luz para o século XXI que o Brasil pode — e deve — acender, como profetizou Stefan Zweig ao vislumbrar nosso país como o “país do futuro”. A encruzilhada nos chama a transcender a inércia e a abraçar nossa vocação de liderança em um mundo que anseia por um Humanismo Sistêmico, por uma cosmogonia que integre a vida em sua plenitude e que finalmente enterre as sombras de um passado de exclusão.

A escolha é clara: ou mergulhamos no abismo da repetição, ou ascendemos ao patamar de construtores de um futuro verdadeiramente humano e sustentável.

Diógenes Sandim Martins é médico, diretor do Sindnapi e secretário-geral do CMI/SP

Leia aqui os outros artigos da série sobre a geopolítica contemporânea, formulada pelo médico e dirigente sindical, Diógenes Sandim:

Entendendo o “Espírito do Tempo” e as Decisões de Guerra

O Declínio da Influência Imperialista dos EUA e a Ascensão de uma Nova Ordem Mundial.

O Crepúsculo da Unipolaridade: BRICS Desafia a Velha Ordem e Redefine o Jogo Global

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