PUBLICADO EM 15 de nov de 2017
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Acertar três vezes: lutar, ampliar, avançar!

Foi assim na ditadura militar, quando as forças políticas mais consequentes optaram por resistir e disputar por dentro de todos os espaços institucionais possíveis, no parlamento, nos sindicatos e na sociedade civil, a linha da restauração da democracia e da denúncia de suas atrocidades

Se há uma lição já provada na longa trajetória das lutas democráticas, sociais e trabalhistas em nosso país e em todo o mundo, é a necessidade de os trabalhadores estarem preparados para travar o bom combate em qualquer terreno e sem descartar aliados nas várias etapas da luta, sejam eles quem forem.

Foi assim na ditadura militar, quando as forças políticas mais consequentes optaram por resistir e disputar por dentro de todos os espaços institucionais possíveis, no parlamento, nos sindicatos e na sociedade civil, a linha da restauração da democracia e da denúncia de suas atrocidades. Destacou-se neste período a frente ampla que se constituiu dentro do MDB. Apesar dos paradoxos internos, de eleição em eleição e contra a tese do voto nulo, o chamado ‘partido omnibus'(1)  foi quitando apoio político à ditadura até viabilizar, via Colégio Eleitoral e sustentada por uma ampla mobilização social (Diretas Já), a derrota do projeto continuísta.

Não eram poucos os que, sobretudo nas camadas médias mais radicalizadas, ficaram desorientados pela implantação do regime militar, optaram por desprezar os espaços de luta democrática e investiram na aventura da luta armada, sem apoio social, terminando isolados e derrotados e, o mais grave, prejudicando a própria restauração da democracia e de um ambiente de direitos.

Como no passado, no momento atual, especialmente no movimento sindical, a luta deve ser travada em diferentes planos: na base do movimento, mobilizando as categorias para derrotar, na prática, na negociação coletiva, a reforma trabalhista, conquistando Convenções e Acordos Coletivos que mantenham e ampliem o leque de direitos econômicos, sociais e sindicais; na luta política, mobilizando o conjunto dos trabalhadores, os sindicatos, federações, confederações e as centrais contra a ofensiva eliminadora de direitos, cuja bola da vez é a reforma da Previdência Social e seu intento de jogar nas costas do contribuinte o ajuste do que chamam de déficit; no Congresso Nacional, ampliando diuturnamente nossas alianças parlamentares, visando construir uma alternativa equilibrada, seja no que diz respeito à própria reforma da Previdência, seja à questão do financiamento sindical e outros ajustes necessários à reforma trabalhista já concluída. Estas necessárias correções à reforma trabalhista têm o sentido de beneficiar os trabalhadores e a sua estrutura organizativa básica, os sindicatos.

Nesse ponto, há unanimidade.

Da base à direção, o movimento sindical é o mesmo. Em todos os níveis citados a luta é legítima e pertinente. Um movimento sem base não tem representatividade. Por outro lado, um movimento que não tem direção nem interlocução com as instituições da sociedade civil e com o Estado, está condenado a ser um gueto facilmente derrotado, como foram os anarquistas, aqui mesmo em nosso Brasil, na greve de 1917. Houve, naquela época, um ganho momentâneo, que com o tempo foi negligenciado pelos patrões. Mas, é notório que o modo de ação radical, intransigente e sem instituição partidária ou sindical mostrou-se ineficiente e acabou ali mesmo.

Isso porque a falta de diálogo leva, inexoravelmente, ao isolamento. É o que queremos? Claro que não!

As negociações em torno do Projeto de Lei que atenuam e melhoram pontos da reforma trabalhista perseguem todas as hipóteses de entendimentos políticos para avançarmos, com a clara percepção de que se trata de um governo e um Congresso que estamos, sim, longe de controlar. É, porém, o Congresso que temos, eleito legitimamente e onde nossos representantes estão inseridos. Numa casa política, eles fazem política – e não a negação da política.

Em nenhum momento as negociações parlamentares à volta da reforma trabalhista esfriaram as manifestações dos trabalhadores, que, em 2017 foram muitas e históricas. Um exemplo foi a Marcha à Brasília que, como todos os que militam no movimento sabem, não é fácil de ser repetida a qualquer hora. Depende, para o seu sucesso, de inúmeros fatores. Convocar fracassos, isso sim, é um grande erro.

Somos muito mais prejudicados por rachas, desarticulações e posturas isolacionistas, do que por um otimismo pretensamente cego, que na realidade não existe. O tudo vai dar certo nunca foi um slogan do nosso time.

As centrais sindicais aceitaram dialogar com o governo, ainda que a CUT, com mais timidez, e expor suas posições em defesa das reformas que mais interessam aos trabalhadores. Não há nenhum erro em fazer isso. Negociar sempre fez parte da nossa luta. O que vem sendo tratado nas várias esferas de negociação se dá às claras, em consenso com os integrantes das diferentes centrais e de modo objetivo. Está, sim, sobre a mesa nosso pleito de estabelecimento de financiamento sindical para equilibrar o conceito do negociado sobre o legislado. Do jeito que ficou é que não dá.

Somos muitas vezes cobrados, e até acusados, por dialogar com o governo. Agora, pergunto aos meus botões: e se não tivéssemos investido neste diálogo com o governo e na interlocução com o parlamento, tendo, ainda que em minoria, palamentares do nosso lado, não seriamos cobrados também? Ou aqueles que nos acusam preferiam retornar ao isolamento daquele passado derrotado que tratamos acima?

A hora agora é de luta, ampliar e avançar, o que significa acertar três vezes. Cometer hoje os mesmos desvios do passado, isso sim seria o maior dos erros.

(1)do latim, todo, toda a gente, tudo

 

João Carlos Gonçalves Juruna

Secretário Geral da Força Sindical, vice presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo

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