“Antipolítica da esquerda” – Gostaria de falar um pouco sobre o último ato deste sábado (02). Com alguma demora, é verdade, mas demora essa que é fruto de um sentimento de reflexão profunda. O que foi que aconteceu com a esquerda?
Companheiros, todos nós estamos carecas de saber que não só temos muitas diferenças na esquerda, como também temos uma história de mais de 200 anos de convívio que nos obrigou a nos organizarmos em torno, ANTES DE QUALQUER COISA, do enfrentamento ao inimigo comum.
Em tempos de neoliberalismo, pode até ser que este inimigo não esteja tão claro, já que, por conta da conjuntura e das diferentes abordagens táticas, podemos ou não assumir uma certa postura diante de nossos inimigos de classe, seja compondo com estes para um bem maior possível, seja enfrentando-os de maneira direta.
Afinal, a máxima do um passo em frente, dois passos atrás não é mera estética vulgar. É dialética aplicada. É a práxis revolucionária!
Se divergimos no meio disso, como não poderia deixar de ser, sabemos que o que nos faz de esquerda é não negar a política!
Faz algum tempo, é verdade, que esse inimigo em comum não fica tão evidente como é hoje. Bolsonaro não é só o movimento da estética vulgar do fascismo, é sua própria realização no curso da história.
Se isso ainda não está evidente para todos nós, o que falta para convencer a ampla maioria da esquerda, primeiro, e então, das massas? Por que raios não conseguimos colocar mais gente nas ruas?!?
Não venho trazer respostas, pois acredito que toda solução se dá através do movimentar das contradições em jogo.
Se o revolucionário bem-sucedido mostrou que a verdade está no olhar mais interno das contradições em jogo, esse é um princípio que precisa estar na ordem do dia de nossas ações!
Os episódios de violência deste sábado podem até ser movimentos pensados, portanto, políticos, de um grupo majoritário na esquerda.
Mas demonstram na prática a antipolítica no exato momento em que combatemos, juntos, a violência que surge dessa negação, o fascismo.
O intuito está mais do que evidente, como podemos perceber. O que não está evidente é o que vão fazer quando a cadela do fascismo estiver mais uma vez no cio e implorando por sangue. A ver…
Antonio Neto, trabalhista, presidente do Diretório Municipal do PDT de São Paulo e da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB)