
Os atores Stephen Graham e Owen Cooper como Eddie e Jamie Miller na série Adolescência. Graham é também um dos criadores da série.
O impacto causado pela série Adolescência, que estreou na Netflix em março de 2025, mostra como o debate social pode se beneficiar de fontes alternativas aos estudos formais, como programas de TV.
Enxuta e direta, a série teve a proeza de tocar em pontos muito sensíveis da atualidade como: a influência das redes socias, distanciamento entre pais e filhos, nova linguagem, feminismo, masculinidade tóxica, sistema prisional, maioridade penal, sistema educacional, bullying enfim, temas de grande relevância que falam diretamente sobre o dia a dia das pessoas comuns.
Adolescência prova que não apenas séries documentais, como Privacidade Hackeada (2019) ou Ponto de Virada, a bomba e a Guerra Fria (2024), ou históricas, como Os Bórgias (2011), Roma (2005) ou Tudors (2007), geram bons debates.
Este é o ponto em que quero chegar: a criação cultural tem o poder de interferir a realidade exprimindo, a partir da própria percepção de mundo do autor, aspectos racionais e emocionais contidos em uma situação de maneira que as fontes formais de conhecimento não alcançam. Servem, assim, como uma forma de representação de seu contexto histórico.
Por exemplo, uma história bem contada sobre os arranjos sociais que levam um garoto de 13 anos a matar com frieza uma garota da mesma idade pode dar mais sentido a um estudo sobre como a masculinidade tóxica se manifesta na adolescência. Mesmo que a história em questão seja o trabalho de atores, diretores, roteiristas e produtores. Existe uma ideia sendo formulada a partir deste trabalho e isso é o que faz com que a série seja pertinente para tantas pessoas. A obra captou questões que estão no ar, muitas delas ainda mal formuladas.
Séries, assim como filmes, teatro, literatura, músicas etc, nos permitem entrar em contato com uma variedade de temas. Elas podem não fornecer informações detalhadas e completas, mas geram interesse, envolvimento emocional e provocam questionamentos. Também ajudam a ter uma relação menos intimidadora e mais dinâmica com o processo de formação intelectual e podem incentivar o hábito da crítica e da interpretação.
Não se trata, claro, de ocupar o lugar da educação formal. Mas sim prestar a atenção em fontes que podem elevar o debate, ampliando o leque para a aventura do conhecimento.
Carolina Maria Ruy é jornalista e coordenadora dos Centro de Memória Sindical
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