Por José Carlos Ruy
No último sábado (1º), cerca de 20 mil pessoas participaram, em Berlim (na Alemanha) de uma manifestação contra as medidas de contenção da pandemia do Covid-19, que se mantém e exige do governo medidas mais duras contra a pandemia.
A manifestação foi convocada principalmente por grupos de extrema-direita.
Entre as múltiplas faixas que traziam slogans direitistas, e muitas exigiam o “fim de Angela Merkel”.
Houve também alusões à celebração do “Dia da Liberdade”, com uma frase que lembra um filme sobre o congresso do partido nazista de 1935, dirigido por Leni Riefelstahl, a cineasta favorita dos nazistas e de Adolf Hitler.
A concentração foi muito menor do que seus promotores esperavam – chegaram a prever a presença de 500 mil pessoas, o que não ocorreu, ficando em cerca de 4% desse total – os cerca de 20 mil que se calcula tenham participado.
A organização da extrema-direita neonazista na Alemanha é muito forte, de acordo com matérias de “O Globo” e “The New York Times” neste fim de semana. A matéria de “O Globo” (na segunda-feira, 3), teve um título significativo: “Bolsas para cadáveres e listas de inimigos: por dentro dos planos da extrema direita alemã para o ‘Dia X'”.
Pesquisadores afirmam que a manifestação em Berlim no sábado foi fragmentada, mas a radicalização é real. “O extremismo de direita é a principal ameaça à segurança interna da Alemanha hoje” disse à “Folha de S. Paulo” o professor Hans Joachim Lauch, da Univerdidade de Würzburg, que é especialista no assunto.
A ameaça é real, mostra o artigo publicado em “O Globo”, que relata o encontro, por investigadores da polícia alemã, de listas de adversários em poder de militantes da direita.
São grupos que se preparam para um misterioso “Dia X”. A ação ameaça adversários políticos e aqueles que defendem imigrantes e refugiados. Um membro do grupo comprou 30 sacos para cadáveres e óxido de cálcio, usado para decompor material orgânico, revelou a investigação da polícia alemã. Entre os investigados está um homem chamado Marko Gross, atirador de elite da polícia e ex-paraquedista, uma espécie de líder informal do grupo.
Esse grupo se formou através de uma rede na internet, integrada por soldados e simpatizantes da extrema direita. A rede foi criada por um membro da força de elite militar da Alemanha, a KSK e, em janeiro de 2016, recebeu o nome de “Nordkreuz” (“Cruz do Norte”), e age principalmente em Mecklemburgo-Pomerânia-Ocidental, no nordeste da Alemanha.
O grupo se caracteriza pelo “negacionismo” ante a crise do coronavírus e, assim, não aceita as medidas do governo contra a pandemia. Eles planejavam, diz a polícia, ações ameaçadoras. A Alemanha trata de maneira dura as redes de extrema direita, que são muito extensas, chegando a ser alarmantes nas Forças Armadas. A Nordkreuz é investigada há mais de três anos, mas a ação da extrema direita não é restrita a ela, e afeta muita gente na sociedade alemã.
No início, as ações e motivações da extrema direita pareciam tão absurdas e fantasiosas, que os investigadores, de início, não as levaram muito a sério. Os extremistas de direita esperam o “dia x”, quando – pensam – a ordem social da Alemanha desmoronará – exigindo dos extremistas de direita uma ação de salvação nacional.
Hoje, com o crescimento da extrema-direita, as autoridades passaram a considerar esse cenário como um pretexto para atos de terrorismo. “Temo que só tenhamos visto a ponta do iceberg”, Dirk Friedriszik, um deputado de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, o Estado onde a Nordkreuz foi fundada.
O Nordkreuz fazia preparativos para o “Dia X”. A inteligência alemã recebeu denúncias em 2016, e iniciou uma investigação. Mas levou tempo até que membros da rede (ou uma pequena parte deles) fossem levados aos tribunais. Mesmo assim, só um membro do grupo, Marko Gross, foi formalmente acusado, por posse ilegal de armas, e não por conspiração.
Heiko Böhringer, um político da região onde o Nordkreuz tem sua atuação mais forte, no nordeste da Alemanha, recebeu uma ameaça de morte. “Eu pensava que essas pessoas eram malucos sem solução que assistiram a muitos filmes de horror”, disse. “Mudei de ideia”.
Com o tempo, a Nordkreuz se tornou uma irmandade com o objetivo de se preparar para o “Dia X”.
Em seu trabalho de investigação, que durou dois anos, a inteligência alemã descobriu armas, munição, listas de inimigos e uma lista de pedidos para o “Dia X” que incluía sacos para cadáveres e óxido de cálcio – apetrechos que podem indicar a natureza das preparações para o tal “dia x”!.
A chanceler Angela Merkel “merece estar no banco dos réus”, disse Gross. E continuou – as cidades multiculturais no Oeste da Alemanha “são o califado”. E disse ainda que a melhor forma de escapar da imigração é a mudança para o Leste do país, “onde as pessoas ainda se chamam Schmidt, Schneider e Müller”.
Com informações de “The New York Times”, “O Globo” e “Folha de S. Paulo”