PUBLICADO EM 07 de nov de 2022
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A direita da América é há muito apaixonada por fascistas no exterior

“O fascismo é, por sua natureza, caótico, incoerente e camaleônico – é por isso que ele precisa de um homem forte para organizar em torno. A confusão e a falta de rigor ideológico no trumpismo, que alguns apontam como prova de sua impotência final, é parte da natureza do fascismo.”

Invasão ao Capitólio (EUA) por extremistas de direita em 6 de janeiro de 2021. Foto: Tyler Merbler from USA

Por Berry Craig (People’s World)

Há amplo precedente histórico para Donald Trump e o movimento Republicano “Fazer a América Grande de Novo” abraçarem políticos europeus de direita, se não fascistas descarados. Seu último herói é Giorgia Meloni, a nova Primeira Ministra da Itália.

Deixe para lá que seu autoritário, racista, nacionalista cristão, anti-imigrantista e anti-LGBTQ Partido Irmãos da Itália foi fundado depois da Segunda Guerra Mundial por apoiadores obstinados do ditador fascista Benito Mussolini, parceiro do Eixo do ditador nazista Adolf Hitler na Segunda Guerra Mundial. Ela encantou os fiéis de Trump quando falou na Conferência Ação Política Conservadora (CPAC, na sigla em inglês), em agosto.

Assim fez o racista, homofóbico e nacionalista cristão homem forte húngaro Viktor Orbán. Ele convida a comparação com os ditadores Miklós Horthy e Ferenc Szálasi, que aliaram a Hungria com Hitler.

Em um discurso do Velho Mundo antes de voar para Dallas para a CPAC, Orbán disse que os europeus não deviam “se tornar povos de raças mistas.” Em outro lugar em suas observações, ele pareceu estar brincando sobre as câmaras de gás de Hitler, quando comentou sobre um plano da União Europeia para racionar gás nacional: “O passado nos mostra o know-how alemão nisso.”

Orbán elogiou os húngaros que lutaram nas forças de Hitler. “Deve ser evidente agora que, diferente de todos os outros governos húngaros pós-guerra, que se abstiveram de um abraço apertado ao passado militar da Hungria na Segunda Guerra Mundial, o governo Orbán olha para o presente exército húngaro como o herdeiro legítimo daqueles que lutaram ao lado da Alemanha nazista, e se orgulha de suas conquistas,” de acordo com o Hungarian Spectrum online.

O historiador e autor John Hennen disse que muitos direitistas americanos foram fãs do fascismo e nazismo antes da Segunda Guerra Mundial. Assim, disse o professor de história aposentado da Universidade Estadual de Morehead, “a paixão do ‘Fazer a América Grande de Novo’ com um criptofascista autoritário como Orbán não deve surpreender.

O ‘nacionalismo cristão’ esposado por acólitos do Q-Anon, cruzados da ‘integridade do eleitor,’ e adoradores apocalípticos da AR-15, como Kari Lake, Doug Mastriano e Marjorie Taylor Greene, está confortável como uma luva com o dogma de pureza racial jorrado pelo valentão húngaro.”

Quando Hitler ameaçou entrar em guerra na Europa nos anos de 1930, muitos da direita da América estavam “mais atraídos pelo antissemitismo de Mussolini e Hitler do que por quaisquer sentimentos filiais em relação aos britânicos,” de acordo com Hennen.

Ele citou o isolacionista Comitê América Primeiro. “Ele se originou como um grupo pacifista baseado em princípios do campus, mas foi logo tomado por apologistas pró-autoritários. Um próspero grupo pró-nazista americano floresceu por poucos anos, até que Hitler declarou guerra contra os EUA no final de 1941.” (Em fevereiro de 1939, o grupo alemão-americano fez um comício no Madison Square Garden, em Nova York, que atraiu uma multidão estimada em 20.000.)

Até o momento que os EUA se juntaram na guerra no lado dos britânicos, “os mais proeminentes apologistas para o sentimento isolacionista foram Henry Ford e o herói aviador Charles Lindbergh, um devoto eugenista acólito, namorador e disseminador de retórica antijudeus,” disse Henner.

Ford, o famoso milionário fabricante de carros, publicou o jornal furiosamente antijudeu Dearborn Independent (Ele também era ferozmente anti-sindical e até contratou um exército particular de bandidos para manter o Trabalhadores Automotivos Unidos acuado.) Em 1938, o regime nazista premiou Ford com a Grande Cruz da Águia Alemã, a mais alta condecoração da Alemanha para estrangeiros. (Depois que os EUA entraram na guerra, Ford mudou suas fábricas para construir bombardeiros B-24, muitos dos quais bateram em alvos na Alemanha e Europa ocupada pelos nazistas.)

Antes da guerra, Lindbergh viajou para a Alemanha, onde ele foi festejado pelos nazistas, que impressionaram profundamente Lindbergh e sua esposa, Anne Morrow Lindbergh, que compartilhava suas políticas reacionárias. Eles admiraram o que viram. Em 1938, em nome de Hitler, Herman Goering, chefe da Força Aérea Nazista, apresentou a Lindbergh a Cruz de Serviço da Águia Alemã. Lindbergh disse que a máquina militar alemã, especialmente a força aérea, era invencível, e ele e Anne planejaram uma mudança permanente para Berlim. (Com os EUA na guerra, Lindbergh voou 50 missões de combate no Pacífico como um piloto civil. Mesmo assim, ele nunca admitiu que estava errado sobre Hitler.)

O movimento América Primeiro também estava por trás do Padre Charles Coughlin, “o Padre do Rádio”, cujas transmissões regularmente atacavam judeus. “Sua rede de violentas gangues de ruas foram um prenúncio dos Oath Keepers, Three-percenters e Proud Boys de hoje,” disse Hennen.

Coughlin representou um tipo de fusão entre o fascismo e o nacionalismo cristão. “O paralelo mais perto do século XX ao atual ‘movimento’ nacionalista cristão é a versão dos anos de 1920 da Ku Klux Klan, que explorou os medos que os brancos americanos tinham dos negros migrando do Sul para o Norte industrial, e da presença duradoura dos imigrantes europeus sulistas e do leste. Quando ficou óbvio que esses ‘novos’ imigrantes estavam colocando raízes permanentes no país, uma reação pós Primeira Guerra Mundial despertou suspeitas de suas supostas simpatias radicais e inabilidade ou falta de vontade de se tornar totalmente assimilados.

“Antinegros, anti-imigrantistas, antissemitas, anti-católicos e anti-trabalhistas radicais, a Klan dos anos de 1920 estabeleceu o modelo para outros movimentos reacionários, como a Legião Negra, Cruzados para a América e os Cavaleiros da Camélia Branca. William Dudley Pelley organizou uma banda bandida de Camisas Prateadas, com visões de tomar o país e expulsar os judeus.”

O historiador e autor canadense Seva Gunitsky similarmente escreveu que, nos anos de 1930, a crescente aceitação de ideias fascistas “foi refletida no energético crescimento de organizações nazistas. Os comícios da Ku Klux Klan eram comuns e numerosos; o próprio pai de Trump foi preso em um dos tais comícios, reportadamente enquanto usando uma roupa da Klan. Um livro de 1941 descobriu que mais de 100 tais organizações tinham sido formadas desde 1933.”

Em seu artigo no Washington Post, Gunitsky também citou Ford e os Lindberghs. Ele citou o elogio de Lindbergh de Hitler como “indubitavelmente um grande homem.” Em seu livro mais vendido, Anne Morrow Lindbergh saudou o totalitarismo como a “Onda do Futuro” e uma “enfim boa concepção de humanidade.”

Gunitsky adicionou que os judeus preenchiam “o mesmo papel para os fascistas dos EUA que os imigrantes, muçulmanos e outras minorias servem hoje: uma vaga, mas maliciosa ameaça, que eles acreditavam estar minando a grandeza da América. Pesquisas de opinião pública dos EUA dos anos de 1930 são apenas um surpreendente lembrete de quão generalizadas essas atitudes se tornaram.

“Até julho de 1942, uma pesquisa do Gallup mostrou que 1 em cada 6 americanos achavam que Hitler estava ‘fazendo a coisa certa’ com os judeus. Uma pesquisa de 1940 descobriu que perto de um quinto dos americanos viam os judeus como uma ‘ameaça’ nacional – mais do que qualquer outro grupo, incluindo alemães. Quase um terço antecipou ‘uma campanha generalizada contra os judeus’ – uma campanha que 12% dos americanos estavam dispostos a apoiar.”

Coughlin, que se gabava da segunda maior audiência de rádio do país – seguindo apenas dos bate-papos à beira da lareira de Franklin D. Roosevelt – “frequentemente citou o ministro de propaganda nazista Joseph Goebbels, e elogiou a busca nazista por emprego total e pureza racial,” de acordo com Gunitsky. Coughlin começou seu próprio partido político em 1936; seu candidato obteve quase um milhão de votos. Não até o começo de 1942 a Igreja Católica conseguiu silenciar o clérigo.

Gunitsky explicou que “escritores tradicionais, presidente de importantes associações, e editores de jornais populares” também foram simpáticos ao fascismo. “Em seu discurso presidencial de 1934, o presidente da Associação Americana de Ciência Política – a mais velha e maior organização da nação de cientistas políticos – protestou contra ‘o dogma do sufrágio universal’ e argumentou por abolir uma democracia que permitisse ‘os elementos ignorantes, desinformados e antissociais’ de votar. Se essas reformas cheiravam a fascismo, ele concluiu, então ‘nós já reconhecemos que há um grande elemento da prática e doutrina fascista que nós devemos nos apropriar.”

Em seu romance distópico de 1935, “It Can’t Happen Here”, Sinclair Lewis escreveu sobre a ascensão de um Hitler americano. Isso não aconteceu aqui então.

As evidências estão se instalando de que o trumpismo está se transformando em uma forma de fascismo (O Presidente Joe Biden chamou o trumpismo de semi-fascismo).  “O fascismo é um estilo e prática específicos de políticos autoritários, que Trump , e agora o trumpismo , recriam – um que tem traços de caráter específicos sem ter qualquer ideologia axiomática, tomando novos aspectos em cada nova nação que ele aflige,” escreveu Adam Gopnik no The New Yorker, no último mês.

“O fascismo é, por sua natureza, caótico, incoerente e camaleônico – é por isso que ele precisa de um homem forte para organizar em torno. A confusão e a falta de rigor ideológico no trumpismo, que alguns apontam como prova de sua impotência final, é parte da natureza do fascismo.”

Gopnik citou de O Fascismo Eterno, o famoso ensaio de 1995 de Humberto Eco:

O fascismo se tornou um termo para todos os fins, porque alguém pode eliminar de um regime fascista uma ou mais características, e ele ainda vai ser reconhecível como fascista. Tire o imperialismo do fascismo, e você ainda tem Franco e Salazar. Tire o colonialismo, e você ainda tem o fascismo balcã dos Ustashas.

Adicione racismo, sexismo, misoginia, nativismo, xenofobia, homofobia, anti-intelectualismo, nacionalismo cristão, militarismo e bromances com neofascistas como Meloni e Orbán, e você tem Donald Trump.

Berry Craig é professor emérito de história da Faculdade Comunitária Técnica do Oeste do Kentucky, em Paducah, e escritor freelancer. Ele é membro da Federação Americana de Professores Local 1360, secretário de gravação para o Conselho da Área do Oeste do Kentucky do AFL-CIO, editor de webmaster para o AFL-CIO do Estado do Kentucky e membro do Conselho Executivo do AFL-CIO do estado.

Tradução: Luciana Cristina Ruy

Fonte: People´s World

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  • Rita de Cássia Vianna

    Eles sempre vão existir, se escondem reaparecem. E importante enfraquecer eliminar para o bem da humanidade

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