PUBLICADO EM 20 de out de 2019
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A crise política no Brasil: o PSL e o anátema de Maharbal

Logo após a vitória na batalha de Canas contra Roma, consta que o general cartaginês Aníbal Barca foi provocado pelo chefe de sua cavalaria, Maharbal, a aproveitar as circunstâncias e marchar em direção a Roma. Aníbal refutou a ideia. Segundo seus biógrafos, teria havido entre ambos um áspero diálogo, cuja última frase em latim, segundo Tito Lívio, teria sido pronunciada por Maharbal: “Vincere scis, Hannibal; victoria uti nescis”. As traduções livres usam a expressão para criticar todos os vencedores que terminam por desperdiçar suas vitórias, ou que, dito de outra forma, vencem quando não estão preparados para vencer.

Por Aldo Rebelo

Batalha de Zama, por Cornelis Cort (1567). Por I, Sailko,.

Logo após a vitória na batalha de Canas contra Roma, consta que o general cartaginês Aníbal Barca foi provocado pelo chefe de sua cavalaria, Maharbal, a aproveitar as circunstâncias e marchar em direção a Roma. Aníbal refutou a ideia. Segundo seus biógrafos, teria havido entre ambos um áspero diálogo, cuja última frase em latim, segundo Tito Lívio, teria sido pronunciada por Maharbal: “Vincere scis, Hannibal; victoria uti nescis”. As traduções livres usam a expressão para criticar todos os vencedores que terminam por desperdiçar suas vitórias, ou que, dito de outra forma, vencem quando não estão preparados para vencer.

Antes das eleições de 2018, o PSL era um pequeno partido, integrante de um universo de legendas pouco significativas em busca de sobrevivência. A eleição para a presidência da República do seu filiado Jair Bolsonaro catapultou-a do desconhecido para a celebridade, com a eleição de governadores, uma grande bancada de deputados e a garantia de generosos espaços na máquina administrativa do País, além de fartos recursos dos fundos partidário e eleitoral.

O que parecia a redenção tornou-se rapidamente maldição, desencadeando uma tempestade de horrores nas disputas internas pelo controle da máquina partidária e das influências por ela proporcionadas. As lideranças do PSL passaram a sofrer duras contestações internas, inclusive vindas do próprio presidente da República.

Caim matando Abel

Caim matando Abel (1608-1609) – Peter Paul Rubens.

A luta interna desencadeada removeu a líder do governo no Congresso, integrante do partido, deputada Joice Hasselmann (SP), e o próprio líder partidário na Câmara, deputado Delegado Valdir (GO). O presidente da legenda, deputado Luciano Bivar (PE), foi alvo de comentários desairosos por parte do próprio presidente da República e de muitos outros integrantes da agremiação.

A desinteligência, segundo observadores perspicazes, não se explica apenas pela disputa dos chamados espaços políticos, mas também pelo controle dos 360 milhões de reais que constituem a soma dos fundos eleitoral e partidário já definidos, além dos mesmos fundos que se acumularão até as eleições de 2022.

A verdade é que a crise no coração do partido do presidente da República atinge em cheio a governabilidade, imobiliza os principais responsáveis pela condução dos destinos do país, desorienta possíveis aliados no plano institucional e enche de perplexidade todos aqueles que esperam do Poder Público convicções e mínima segurança para tomar decisões no âmbito dos negócios.

O drama do PSL parece confirmar a maldição de Maharbal no seu diálogo com Aníbal: O vencedor que não sabe o que fazer com sua vitória. A pergunta posta é como um partido incapaz de unir e fazer marchar por um objetivo as suas próprias fileiras, alcançaria a meta de coesionar forças heterogêneas, em País marcado por tantos desequilíbrios como o nosso.

Quando a batalha eleitoral tem como estratégia dividir o País para tentar ficar com a maior parte, é muito difícil o processo posterior de restabelecer a unidade mínima em torno de interesses comuns. Mas este mesmo processo torna-se impossível quando os vencedores continuam a achar que dividir o país é o melhor método para continuar acumulando vitórias.

Aldo Rebelo é jornalista, foi ministro da Coordenação Política e Relações Institucionais; do Esporte; da Ciência e Tecnologia e Inovação e da Defesa nos governos Lula e Dilma.

Fonte: Bonifácio

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