“Eu estou pronto para ser preso”. “Não vou sair do Brasil, não vou me esconder em embaixada. Não vou fugir”. “Vou estar na minha casa, chegando entre 20h e 21h, indo dormir às 22h, acordando às 5h para fazer ginástica”. As declarações são de Luiz Inácio Lula da Silva, registradas no livro “A verdade vencerá: o povo sabe por que me condenam”, assinado pelo ex-presidente. A publicação será lançada nesta sexta-feira, dez dias antes do julgamento do recurso do ex-presidente pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), que poderá levar o petista à prisão em regime fechado no fim deste mês. “Eu não preparo o espírito. Sou um homem de espírito leve. Tudo isso faz parte da história. Estamos num momento histórico importante para mim.”
Lula deu uma longa entrevista, publicada em 124 páginas do livro editado pela Boitempo, para apresentar sua versão sobre a condenação a 12 anos e 1 mês pelos crimes de lavagem de dinheiro e corrupção passiva no caso do tríplex no Guarujá. Em três rodadas de conversas no mês passado, o ex-presidente falou aos jornalistas Maria Inês Nassif e Juca Kfouri, ao professor de Relações Internacionais Gilberto Maringoni e à editora Ivana Jinkings, diretora da Boitempo, sobre sua eventual prisão, eleições e erros cometidos pela ex-presidente Dilma Rousseff.
O petista diz ter a perspectiva de ser preso, afirma que a palavra “fugir” não existe em seu dicionário e descarta qualquer enfrentamento com a Justiça. “Vou ficar aqui no Brasil, na minha casa. Se quiserem fazer história me prendendo, façam”.
“Jamais gostei da expressão ‘Eleição sem Lula é fraude’. Seria melhor ‘Queremos provar a inocência do Lula’
Lula afirma que não vai liderar um movimento de desobediência civil, mas imagina que uma ação dessas poderá acontecer. No livro, o ex-presidente reforça a narrativa de que é vítima de um processo orquestrado pela elite em conjunto com os meios de comunicação e setores da Justiça, do Ministério Público e da Polícia Federal para impedi-lo de disputar novamente a Presidência.
Ao ser questionado se seria humilhado na cadeia, Lula desconversa. “Eu não sei, esse negócio de humilhado na cadeia não é assim. Já houve momentos de muita humilhação na cadeia, de muita gente inocente. Vamos ver. Eu não tenho muita experiência porque só fiquei 30 dias preso”, diz, lembrando de sua prisão durante a ditadura militar. “Estou com 72 anos de idade, esses caras sabem que o que estão fazendo comigo é uma sacanagem política.”
Lula reitera que tem a consciência tranquila e afirma que aqueles que o condenaram serão julgados pela História e cobrados no futuro. “Tudo tem preço a pagar. Eles me proibirem de concorrer depois daquela decisão do TRF-4 vai ser muito complicado”, diz. “Eu não sou maior do que a lei, mas eles mexeram com quem não deveriam mexer, e eu não vou morrer com a pecha de ladrão”.
O ex-presidente critica a bandeira encampada pelo PT de que “eleição sem Lula é fraude” e diz que a sigla deveria ter defendido sua inocência. “Jamais gostei da expressão”, afirma. “Seria melhor que a gente tivesse trabalhado numa coisa mais positiva: Queremos provar a inocência do Lula para que ele seja candidato”.
O petista lembra que em 1982, quando foi candidato ao governo de São Paulo, também foi acusado de ter uma casa no Guarujá, apesar de não ser dono do imóvel.
Ao longo da entrevista, o ex-presidente afirma que poderá ser condenado a um tempo ainda maior de prisão por outras denúncias que recaem contra ele. “Eu até brinco com os advogados. Se no processo mais simples os caras me deram doze anos de cadeia, fico pensando nos mais difíceis”. O petista avalia também que além de sua possível prisão, o PT deve ser criminalizado.
“Se o golpe foi dado para evitar a progressão dos descamisados deste país, eles não podem tirar a Dilma e deixar o Lula voltar dois anos depois. Já falei isso duas vezes e volto a falar, porque é importante mesmo. Eu estou alertando o PT: eles vão tentar colocar o PT na ilegalidade”.
Na avaliação de Lula, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso teve “participação ativa no golpe”, que culminou com a saída de Dilma da Presidência, além de sua condenação na Justiça.
“Ciro é inteligente até certo ponto porque se fosse inteligente mesmo, estaria defendendo o PT agora”
Diante da possibilidade de não poder disputar a Presidência, o petista diz que o pré-candidato do PDT, ex-ministro Ciro Gomes, deve “aprender a conquistar o PT”. “Ninguém será candidato pela esquerda sem o apoio do PT. Ofender o PT e ofender o Lula é uma desnecessidade. Pode até me ofender, mas diga: ‘Não gosto do Lula, mas adoro o PT’. Ele [Ciro] não diz. Esculhamba o PT”.
Lula ironiza o aliado por “não perder a oportunidade” de falar mal de seu partido. “Acho que ele [Ciro] é uma figura inteligente. Inteligente até certo ponto, porque, se fosse inteligente mesmo, estaria defendendo o PT agora, se acredita mesmo que não vou ser candidato”.
Lula analisa também a pré-candidatura do líder do MTST, Guilherme Boulos, e diz que foi um erro o ativista ter se filiado ao Psol para concorrer à Presidência. Segundo o petista, Boulos deveria ter construído um caminho novo em vez de se filiar ao Psol. “Mas vai ser bom para Boulos, porque é um aprendizado legal. Vai perceber que as pessoas não gostam tanto assim da gente como a gente pensa que gostam, vai perceber que nem todo mundo que dá tchauzinho pra gente vota na gente”.
Ao falar sobre Marina Silva (Rede), diz que a pré-candidatura da ex-petista “já não é tão nobre assim”.
Na avaliação de Lula, o presidente Michel Temer tem articulado sua reeleição e, por isso, decretou a intervenção na segurança no Rio, em busca de uma marca para a gestão. Apesar do presidente ter sido um dos articuladores do impeachment de Dilma, o petista saiu em defesa de Temer e disse que o emedebista foi injustiçado durante as investigações da Operação Lava-Jato, com a gravação feita pelo empresário Joesley Batista. “Sejamos francos: o que tentaram fazer com Temer…”, diz. “A sordidez da mentira inventada, a troco de conseguir mais um mandato para [Rodrigo] Janot e de levar o atual presidente da Câmara [Rodrigo Maia] a ser presidente da República foi uma coisa sórdida. E ali sou obrigado a reconhecer historicamente que o Temer soube se impor”, diz.
Em seguida, Lula defende o direito de Temer de nomear a deputada federal Cristiane Brasil (PTB-RJ) como ministra e critica a atuação do Judiciário ao impedir a posse da parlamentar no ministério. “Como é possível que um presidente não possa escolher um ministro?” O ex-presidente afirma também que o problema não é o MDB de Temer, mas sim alguns integrantes do partido.
Na entrevista, que ocupa 124 das 216 páginas do livro, Lula registra sua insatisfação com o desempenho de Dilma na Presidência. Além de não gostar de negociar, a ex-presidente cercou-se de pessoas que não eram benquistas, como o ex-ministro Aloizio Mercadante, diz. “Em todas as conversas que eu mantinha, as pessoas queixavam-se 100% dele [Mercadante] e 101% da Dilma. E eu nunca vi tanta unanimidade de deputados e senadores contra; todo mundo reclamava. Eu cheguei a ponto de dizer pra companheira Dilma: ‘Olha, você vai passar para a história como a única presidente que nem os ministros defenderam”.
O livro registra a trajetória sindical e política do ex-presidente, com fotos e textos em defesa do petista. Ao fazer um balanço de sua gestão, Lula diz que seu governo está no banco dos réus. “Não estão julgando o Lula, estão julgando o governo do Lula, o período do PT no governo”.
Fonte: Valor
Silvano pedro
Existe um sugeito tão batalhador dentro do pt. Porque não lançalo, como candidato a presidente da República, o senador Paulo Paim, esse é o cara.