A CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil) foi fundada em 2007 tendo como presidente em seu início com Wagner Gomes, que faleceu no ano passado e foi um grande líder sindical brasileiro.
Desde 2013, a entidade é presidida pelo bancário baiano, Adilson Araújo. Ele está em seu terceiro mandato e afirma: “Espero que seja o último”.
Araújo tem forte convicção nas suas ideias sobre o sindicalismo, o atual momento do país, na política e economia.
O Brasil passa por um momento no qual o governo brasileiro que tem como ministro da Economia Paulo Guedes, um Chicago Boy, que quer vender tudo que o Brasil tem de bom e que foi construído, como é o caso da Petrobras.
“Eu sempre repito, o Paulo Guedes tem causado ciumeira na Maria Luiza Trajano, dona da Magazine Luiza. Ele só fala em liquidação, quer vender tudo. Eles vendem a falsa sensação de que vender tudo salvarão o Brasil”, afirmou Adilson.
O palácio do planalto foi tomado por militares que querem mamar na máquina pública e um bando de milicianos que não promovem nada de bom para o povo brasileiro. O governo Bolsonaro já é considerado o pior da história desde Marechal Deodoro da Fonseca, o primeiro presidente do Brasil República. Para Adilson “a pior coisa que o povo brasileiro fez foi entregar a faixa de presidente para um miliciano”.
Quando se trata de falar sobre o nosso atual mandatário, Adilson Araújo não esconde seu sentimento em relação ao presidente Jair Bolsonaro (PL), como quando fala sobre ele idolatrar a bandeira dos EUA em visita ao então presidente Donald Trump em que ele bate continência para o símbolo americano.
“O Bolsonaro idolatra a bandeira dos EUA. Ele beijou os sapatos de Donald Trump”, disse Adilson.
Precarização do Trabalho
A taxa de desemprego no Brasil é 10,5%, são cerca de 11,3 milhões de brasileiros, esse número são daqueles que estão procurando emprego, temos os desalentados que desistiram de procurar trabalho e estão na informalidade e este grupo está se sujeitando a trabalhar mais de oito horas por dia, seja em um carro trabalhando para Uber ou 99, ou em cima de uma moto ou bicicleta fazendo entrega de comida pelas ruas das cidades em todo o país. A pergunta que Adilson Araújo faz é: “Até onde isso é moderno?”.
A comemoração do dia do trabalho surge da luta de trabalhadores que tinham jornadas diárias de mais de 10 horas e nenhum direito que hoje existem, como férias e descanso remunerado. Os trabalhadores das plataformas digitais voltaram para esse período. Eles trabalham 10, 12 horas por dia, sem nenhum direito.
“A bandeira principal da greve dos operários de Chicago era a redução da jornada de trabalho para 8 horas, não é concebível em pleno século XXI, diante de todas as possibilidades da contemporaneidade sobretudo, a partir do avanço tecnológico, indústria 4.0, inteligência artificial, tecnologia 5G, um trabalhador ser obrigado a vender a sua força de trabalho por 10, 12 e até 15 horas de trabalho por dia, tendo a subtração automática da sua mais valia”, fala indignado Adilson. A única coisa moderna nessa relação de trabalho é a utilização da tecnologia. No restante é regressão nas conquistas trabalhistas que muitos deram suas vidas para ser conquistadas e para Adilson Araújo, é um trabalho análogo a escravidão.
“Esse governo é a reprodução de um tempo medieval. É a volta da casa grande da época do Brasil colônia e imperial”, fala o presidente da CTB. As condições do Brasil não eram boas antes da pandemia, quando a taxa de desemprego já estava alta, depois de 2020, foi um verdadeiro tsunami de pessoas indo para o trabalho informal para conseguir ter um dinheiro para sustentar sua família.
Durante o período pandêmico o governo federal tentou, com a desculpa de gerar emprego, impor mudanças na legislação trabalhista. A famigerada reforma trabalhista de Temer mostrou que mudança na legislação não gera emprego, mas gera desemprego e aumenta o trabalho informal.
Bolsonaro faz o discurso que o trabalhador teria que escolher entre trabalhar e ter menos direitos ou ter direitos e ficar desempregado. A mensagem da precarização do trabalhador brasileiro e a favor do patrão.
“A lógica de que o custo do trabalho é caro no Brasil, é uma ignorância tacanha. Como você desenvolve força produtiva, como você se torna competitivo se você impõe um regime de escravidão. Onde isso vai atingir na produtividade? A empresa não conseguirá um bom resultado precarizando”, explicou Adilson.
Pobres cada vez mais pobres e os ricos cada vez mais ricos
Durante os governos do PT, nos dois mandatos de Lula e nos dois mandatos de Dilma Roussef, apesar do golpe contra ela, o salário mínimo tinha uma política de valorização com aumento real, ideia das centrais sindicais, não repor somente a inflação do ano anterior, mas incorporar a variação do PIB para completar o valor que seria dado de aumento. Isso fez o salário mínimo avançar bastante e ter um poder de compra maior, mas agora vivemos uma reversão drástica.
Bolsonaro será o primeiro presidente desde a criação do Real em 1994 a deixar o governo com o salário mínimo com o menor poder de compra.
Essa diminuição no poder de compra do brasileiro mostra outra face da economia do Brasil, a concentração de riqueza.
Adilson Araújo abordou: “Você tem 33 milhões de pessoas passando fome, 128 milhões com insegurança alimentar e você vive em um país que o 1% mais rico tem quase 50% da riqueza nacional”, disse Adilson.
“Não há perspectiva nenhuma”, afirma Araújo, pois o Brasil com esse governo é uma grande tragédia nacional na vida das pessoas. Durante o governo do PT viviamos em crescimento e desenvolvimento, com transposição do Rio São Francisco, Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida e outros programas, que permitiram que os mais pobres sonhassem com uma vida melhor.
Unidade das Centrais Sindicais
Desde 2017 com a reforma trabalhista que tentou acabar com o movimento sindical, principalmente tirando o sustento financeiro, às entidades sindicais vem se fortalecendo neste cenário de dificuldade.
A unidade das centrais sindicais se tornou essencial para este novo caminho diante de um governo que quer acabar com os direitos trabalhistas e com o movimento sindical, como disse Adilson Araújo. Bolsonaro conseguiu unir as centrais sindicais.
Adilson fala que é necessário promover uma mudança no Congresso Nacional a começar pelo teto de gastos que travou o investimento público.
“Nós precisamos desatar esse nó para que o Brasil possa ter uma nova condição, ou seja, o público e o privado precisa criar um entrelaçamento para criar o desenvolvimento social”, disse o presidente da CTB.
Outro ponto debatido entre as centrais sindicais e apresentado na Conclat realizada este ano é a revogação da reforma trabalhista.
“É um retrocesso gigante que chegou ao ponto de trazer modalidades que vão degradar o ambiente de trabalho, por exemplo, o trabalho intermitente, não se pode atribuir uma modalidade de trabalho que fere a Constituição, por si só. Quando você permite um tipo de contrato onde as pessoas receberão um salário menor que o salário mínimo, isso é ferir de morte a própria Constituição. Nós temos que criar mecanismos para que o Brasil seja um pólo fomentador do desenvolvimento social e econômico e nós temos tudo para que isso aconteça”, explicou Adilson Araújo.
Neste contexto de dificuldade, a unidade das centrais sindicais foi essencial para pavimentar um caminho para estimular o debate para o movimento sindical seguir defendendo mais investimento para saúde, educação, moradia e segurança pública.
“O Brasil tem jeito. O que se vislumbra é um governo democrático popular. As pesquisas estão indicando que o presidente Lula reúne as melhores condições para dar um passo que possa objetivar a construção de um Brasil mais humano”, afirmou Adilson Araújo.