PUBLICADO EM 26 de nov de 2021
COMPARTILHAR COM:

Nas áreas rurais perda de qualidade de vida é quase o dobro

A perda na qualidade de vida das pessoas que vivem nas áreas rurais do país é quase duas vezes superior à daquelas que vivem nas áreas urbanas. Essa é uma das conclusões do módulo Perfil das despesas no Brasil: indicadores de qualidade de vida, da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018, divulgado hoje (26), e que traz dois indicadores novos que medem a qualidade de vida da população. O estudo integra o conjunto de estatísticas experimentais do IBGE.

Foto: Otávio Nogueira

O índice de perda de qualidade de vida (IPQV) leva em conta moradia, acesso aos serviços de utilidade pública, saúde e alimentação, educação, acesso aos serviços financeiros e padrão de vida e transporte e lazer. O indicador vai de 0 a 1 e, quanto mais perto de zero, melhor a qualidade de vida.

Entre 2017 e 2018, o índice foi de 0,158 para o país.  Na área urbana, esse valor foi 0,143, enquanto na rural foi de 0,246. Isso significa que na área rural, onde viviam cerca de 15% da população do país, a perda era 1,7 vez maior do que na área urbana.

“Esses indicadores mostram coisas interessantes que não conseguimos observar quando olhamos só para a renda, especialmente as diferenças entre as dimensões. O IPQV, por exemplo, indica que nas áreas rurais a perda de qualidade de vida é mais elevada e que por isso a contribuição dela é muito grande (22,9%) para o resultado do Brasil”, diz o analista da pesquisa, Leonardo Oliveira.

O Norte (0,225) e o Nordeste (0,209) foram as regiões que apresentaram as maiores perdas de qualidade de vida. Já o Sul (0,115) e o Sudeste (0,127) tiveram o IPQV abaixo do nacional. O do Centro-Oeste foi de 0,159. “Essa é a terceira divulgação da série do Perfil das despesas no Brasil. Com os resultados das duas divulgações anteriores, já era possível apontar que havia perdas mais concentradas no Norte e no Nordeste, mas não podíamos mensurar precisamente a proporção dessas privações. O IPQV apresenta esses dados de forma concreta”, explica.

Embora tenha a população 35% menor, o Nordeste (35,9%) contribui proporcionalmente mais que o Sudeste (33,8%) para o resultado nacional. “O Nordeste tem 27,3% da população do país e o segundo maior IPQV entre as regiões. Consequentemente, a contribuição dele para o resultado observado no Brasil é a maior, por ter uma população grande e o índice ser relativamente elevado”, diz Leonardo.

Nas famílias em que a pessoa de referência era homem, o IPQV foi de 0,151, um valor menor do que aquele apresentado quando a família era liderada por mulher (0,169), que ficou acima do índice do Brasil. Já nos domicílios onde a pessoa de referência se declarou branca, o índice foi de 0,123, menor do que o registrado nas famílias em que a pessoa de referência era preta ou parda (0,185).

“Isso quer dizer que a perda de qualidade de vida do grupo em que a pessoa de referência é preta ou parda é praticamente 50% acima do que se observa no grupo em que a pessoa de referência é branca. E essa diferença não é pequena, pois faz com que esse grupo em que a pessoa de referência é preta ou parda concentre 66% das perdas reportadas no Brasil”, afirma.

Maior ainda é a diferença quando se observam os décimos de renda. Entre os 10% que recebem as menores rendas, o IPQV foi de 0,260, o maior nesse recorte. Já para o último décimo, ou seja, aqueles que recebem as maiores rendas, o valor foi de 0,063. Isso significa que a perda de qualidade de vida entre aqueles com menor renda foi mais de quatro vezes superior à do grupo com maior renda.

Ainda que as rendas mais elevadas estejam relacionadas a níveis menores de perda da qualidade de vida, o IPQV não chegou a zero entre as pessoas com maiores rendimentos. “Mesmo para níveis muito altos de rendas, as perdas não são completamente eliminadas. Isso aponta que existem outros fatores para melhorar a qualidade de vida. É possível observar também que há pessoas, entre os 10% com menores rendas, com níveis de perda muito abaixo do IPQV do décimo em que estão inseridas”, aponta o analista.

“Ou seja, apesar de não ter uma renda tão alta, essas pessoas conseguiram eliminar parte das perdas. Isso depende de vários fatores, entre eles, as políticas locais, como a escola onde os filhos estudam. Quando há acesso aos serviços de saúde, o IPQV é reduzido. O indicador consegue captar as melhorias em várias dimensões, que vão além da renda”, exemplifica.

A perda de qualidade de vida também era maior nas famílias com pessoa de referência com pouca de escolaridade. Entre aqueles que não tinham instrução, o IPQV foi de 0,255. Esse valor diminui à medida que os níveis avançam, chegando a 0,076 quando pessoa de referência tinha o ensino superior completo.

Outro aspecto a ser observado é a perda de qualidade de vida relacionada à ocupação. Nesse recorte, o IPQV teve o menor valor (0,093) quando a pessoa de referência era empregador e o maior valor (0,203) quando a pessoa de referência era empregado doméstico.

No Maranhão a situação é pior

O índice de desempenho socioeconômico (IDS) é o indicador que apresenta a capacidade de a sociedade gerar recursos e convertê-los em qualidade de vida. O IDS do Brasil, entre 2017 e 2018, foi 6,201. Entre as unidades da Federação, Distrito Federal (6,970) e São Paulo (6,869) registraram os maiores valores.

Todos os estados do Norte e do Nordeste ficaram abaixo da média nacional. Mesmo registrando o maior IDS entre os estados nordestinos, Sergipe (5,879) ficou 5,2% abaixo da média brasileira. O mesmo aconteceu com Roraima (5,874), que teve o maior índice entre os estados do Norte, mas não conseguiu superar a média nacional.

O Maranhão, além de ter o maior valor de IPQV (0,260), tem o menor IDS (4,897) do país. O Pará (5,099) vem em segundo lugar nesse indicador. “No Distrito Federal e São Paulo, as maiores concentrações de perdas estão no transporte e lazer, o que é diferente do que acontece nos estados com os menores valores de IDS do país. Apesar de também apresentarem perdas nessa dimensão, nesses estados, as privações estão mais concentradas em outras dimensões. No Pará, por exemplo, elas estão mais relacionadas ao acesso aos serviços de utilidade pública”.

A dimensão denominada acesso aos serviços de utilidade pública inclui os serviços de energia elétrica, água, esgotamento sanitário e coleta de lixo. “Há também avaliação que os moradores fizeram desses serviços que estão disponíveis para eles. Então quando os moradores indicam a ausência de um serviço ou o avaliam como ruim, isso é contabilizado como perda de qualidade de vida”, explica Leonardo.

Fonte: IBGE

Leia também:

Câmara aprova texto-base da MP do Programa Auxílio Brasil e inicia discussão de destaques

ENVIE SEUS COMENTÁRIOS

QUENTINHAS