Tarcísio Tadeu Garcia Pereira foi reeleito presidente da Associação Henrich Plagge dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Volkswagen do Brasil, vitimados por perseguições políticas e ideológicas no período da ditadura civil-militar. A chapa que tomou posse na última segunda-feira, 12, na Sede, cumprirá mandato de três anos.
O presidente afirmou que o maior desafio do mandato é organizar a luta em outras empresas, a exemplo do que foi feito na Volks.
“Nossa meta é estabelecer relação com trabalhadores em outras fábricas para que nossa experiência na Volks sirva de exemplo de como resgatar a memória, justiça e reparação dos trabalhadores perseguidos em outras empresas”.
Atrocidades
Além desse compromisso, a Associação também pretende ampliar a luta em defesa da memória em relação às atrocidades vivenciadas por aqueles que passaram pelos tempos duros da ditadura militar no Brasil. Estão sendo programadas atividades, por exemplo, junto ao núcleo de memória da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) como debates, palestras e mobilizações.
“Essas ações são essenciais, especialmente neste momento em que estamos vendo mais uma vez os integrantes da CIA tentando entrar na América Latina para desestabilizar as estruturas políticas populares. No Brasil estão tentando impor um retrocesso político, é uma aliança feita contra os interesses dos trabalhadores e o interesse popular”, afirmou Tarcísio.
“Existe uma geração corrompida em termos de memória e de valores. Certamente um dos papeis que cabe a nós é abrir esse debate e tentar esclarecer para que não caiam nos incautos do conto da sereia. É uma missão difícil, mas somos acostumados a enfrentar grandes batalhas”, completou.
Em atividade em setembro de 2020 na Sede, ex-trabalhadores e representantes legais tomaram conhecimento dos detalhes do acordo inédito assinado pela Volks, que reconheceu a colaboração com a ditadura e assumiu o compromisso de destinar R$ 36,3 milhões a ex-trabalhadores da empresa presos, perseguidos ou torturados durante o regime militar e a iniciativas de promoção de direitos humanos.
A vaga na executiva do companheiro Vilmo Oliver Franchi, que faleceu em abril deste ano após a luta contra a Covid-19, foi ocupada pelo companheiro José Miguel, figura histórica da luta da resistência. Aos 78 anos, ele é o último dos trabalhadores na Volks que foram presos e barbaramente torturado no Doi-Codi, de acordo com Tarcísio.
Zé Miguel conta que só soube que era perseguido quando foi preso em 1971. Ele era militante político e foi levado ao Doi-Codi, órgão subordinado ao Exército, sob comando do coronel Brilhante Ustra.
“Eles queriam saber sobre o sequestro do embaixador suíço, me arrebentaram inteiro, tenho um joelho quebrado. Esse trabalho que a Associação vem fazendo é muito interessante, mas é preciso lembrar que a perseguição não foi só depois do golpe, antes mesmo havia perseguição aos trabalhadores”.
Sobre a situação atual do país, comentou: “O Brasil está muito confuso, é uma excrescência, é uma bomba que pode explodir a qualquer hora. É um absurdo, a única coisa que os brasileiros podem fazer é tirar Bolsonaro do poder. Eles vão acabar com a industrialização no Brasil que já não era boa, estamos voltando a ser um país rural”.
Fonte: Metalúrgicos do ABC
Leia também:
Volks reconhece colaboração com a ditadura e ex-trabalhadores perseguidos serão reparados