O Brasil vive uma das faces mais perversas da covid-19. O número registrado de mortes nas três primeiras semanas de 2021 já é superior ao que foi observado em todo o mês de dezembro de 2020.
A segunda onda de casos ou a continuidade de uma primeira fase de infecções – hipótese defendida por profissionais da saúde -, foram agravadas pelas festas de fim de ano e o descaso do governo federal com as políticas restritivas de combate ao vírus.
Diante desse cenário, a adoção de um novo lockdown nos estados brasileiros vem ganhando corpo no debate público, mas têm esbarrado na falta de medidas de proteção aos trabalhadores brasileiros, que sucumbem após o fim do auxílio emergencial.
O pneumologista Sebastião Costa, membro da Associação Médica da Paraíba, avalia que a adoção de um lockdown ainda em novembro poderia ter evitado, por exemplo, o colapso do Sistema Único de Saúde (SUS) em Manaus, capital do Amazonas, no início do mês.
“O lockdown poderia ter evitado tudo isso. O sufocamento de Manaus, necrotérios superlotados, as UTIs quase sem vagas. Era preciso que fosse feito com muito rigor ainda antes de novembro. Novembro foi o pontapé para poder realimentar essa curva epidêmica”, avalia.
E como fica a renda?
Apesar de se justificar do ponto visto clínico, a medida drástica de restrição social não condiz com a realidade econômica do país. É o que aponta Lúcia Garcia, economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Para ela, não há outra alternativa para conter a crise sanitária e econômica que não seja a vacinação em massa e a reimplantação do benefício emergencial – que tirou 15 milhões de brasileiros da extrema pobreza, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV).
“Pessoas sem renda, pessoas sem garantia, pessoas sem proteção, têm condições de permanecerem dentro de suas casas aguardando a vacina em um calendário tão prolongado? Não, isso não vai acontecer. Portanto, as medidas de lockdown, as medidas mais radicais para uma onda mais aguda da pandemia no Brasil, não consegue se efetivar”, opina.
O auxílio emergencial teve sua última parcela paga em 26 de dezembro de 2020 e chegou a 60% da população brasileira, segundo o Ministério da Cidadania. O benefício foi especialmente relevante nos estados das regiões Norte e Nordeste, que receberam quase 43% de todos os recursos.
Hoje, o país atinge uma taxa de desemprego de 14,3%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e passa por um processo de desindustrialização e perda de capitais internacionais, que segundo a especialista, aprofunda o desmonte da estrutura econômica no país.
“Há essencialmente uma ausência de governo, uma ausência de coordenação. O mercado não é capaz de por si só coordenar um movimento de reação a uma situação emergencial como a que temos com a pandemia”, define.
Fonte: Brasil de Fato