Em suas entrelinhas, o filme vai além da história de um aposentado rabugento, ex-operário da indústria automobilística e ex-combatente da Guerra da Coreia (1950-53) que, com a recente morte da mulher, se vê obrigado a lidar com os próprios filhos e com os vizinhos orientais.
Quem leu o romance São Bernardo, de Graciliano Ramos, pode se lembrar da angústia do rude Paulo Honório, que, ao fim da vida, sente o peso de seu passado. Formado em uma cultura machista, Honório aprendeu a ser “homem” à moda antiga, conforme o atraso cultural lhe ensinou. Seu desgosto se dá por sua inabilidade de lidar com as pessoas e, sobretudo, consigo mesmo, com suas emoções e com seus sentimentos.
Embora, a diferença entre Walter Kowalski e Honório seja grande, foi nas resenhas sobre São Bernardo que encontrei o fio da meada para pensar em Gran Torino. Sobre o protagonista do filme, o macho provedor, que se vê na condição de lidar consigo mesmo, também pesam as histórias do passado.
A figura do aposentado, ex-metalúrgico e veterano de guerra Kowalski, é moldada por uma trajetória de trabalho duro, contínuo e necessário. Seus modos, suas expressão facial, sua postura física, seus ensinamentos, tudo está orientado pela lógica de quem se formou na vida por meio do trabalho. Desta forma Gran Torino trata da vida e da subjetividade de um trabalhador.
Diferente de Paulo Honório, Walter Kowalski busca seu próprio resgate. E descobre, de forma inusitada, que ainda pode ser útil ao proteger a família de descendentes da cultura hmong, etnia do Sudeste Asiático, do assédio das gangues do bairro.
Surge aí outra importante mensagem do filme: a de que o homem se salva quando vence seus preconceitos, abre-se à diversidade étnica, cultural, social etc., e passa a contar com o outro para dar sentido a si mesmo.
Gran Torino (Gran Torino)
País:EUA, 2008
Direção: Clint Eastwood
Elenco: Clint Eastwood, Bee Vang, Ahney Her, Christopher Carley
Confira o Trailer Oficial
Carolina Maria Ruy, jornalista, coordenadora do Centro de Memória Sindical
Fonte: Livro ” O mundo do Trabalho no cinema”, Centro de Memória Sindical
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Muito … conteúdo espetacular!!!