PUBLICADO EM 09 de out de 2017
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A revolução russa sem os sindicatos

No que nos diz respeito lamento que a maratonística comemoração do centenário da revolução russa preparada pelo Departamento de História da USP e realizada de 3 a 6 de outubro com suas 95 (se contei direito) mesas temáticas não tenha abordado nelas o papel dos sindicatos. O prospecto que descreve os eventos nem mesmo registra a palavra sindicato.

A realidade sindical da Rússia pré-revolucionária e o decisivo papel dos sindicatos de trabalhadores nas revoluções (de fevereiro e outubro de 1917), na vitória na guerra civil e contra as intervenções estrangeiras, na construção do socialismo e na batalha da produção passaram ao largo na caleidoscópica diversidade dos temas tratados. Discutiu-se acidamente um pouco de tudo e mais alguma coisa, mas não se tratou das violentas lutas políticas sobre o papel dos sindicatos, organizações básicas dos trabalhadores, ao lado do partido comunista, dos sovietes (conselhos) e do Exército Vermelho.

Feitas essas críticas por quem trabalha há muitos anos com o movimento sindical brasileiro – e reconhece a sua importância – quero registrar o meu elogio ao evento e ao empenho do professor Osvaldo Coggiola e seus colaboradores.

Os que frequentaram o campus de estudos sociais da USP nesses dias puderam constatar o clima de feira de ideias – ideias de esquerda – que animou as muitas salas lotadas, quase em sessão contínua e os debates acalorados.

Acredito que no mundo inteiro (e principalmente na Rússia de hoje) não houve, em ambiente acadêmico ou fora dele, comemoração semelhante e com tal magnitude. A USP, a maior universidade da América Latina, pode disputar um registro no livro Guiness de recordes…

Em uma escala bem menor algumas entidades do movimento sindical brasileiro comemoraram também o centenário da revolução. Registro o debate que houve no sindicato dos eletricitários, a palestra (promovida pela editora Boitempo) no sindicato dos engenheiros e a mesa de discussão no Sinpro-SP.

É a história revolucionária sendo analisada e apropriada no terreno dos sindicatos, que ficaram ausentes da programação da USP.

João Guilherme Vargas Netto, consultor sindical

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