Por Marco Damiani
Com a partida repentina de Tito de Oliveira, aos 71 anos, após infindáveis dias de luta contra a covid-19, o Brasil perde um modelo exemplar de lutador pelos mais vulneráveis. Ao contrário daqueles que gostam de se exibir com suas caras amarradas, vozes guturais e permanente mau humor, o que só os afasta dos necessitados e segrega ainda mais os trabalhadores em relação ao todo da sociedade, Tito era o homem do sorriso. O líder que se pautava pela reflexão. O militante que não jogava para a plateia, contando vantagem sobre seus feitos, sua coragem, valentia etc. Nada disso. Era gregário em sua empatia, efetivo em cada uma das missões político-sindicais que abraçou ao longo da vida, firme ao extremo em suas convicções sem jamais, repita-se, ter perdido a ternura. Um verdadeiro homem de novo tipo, capaz de bem cuidar do outro como de si próprio.
Quando a noite era mais escura, nos anos 1970, ditadura militar sanguinária no Brasil, Tito, então muito jovem, filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro para passar a fazer o que fez durante toda a sua vida: lutar pelos trabalhadores. Fábrica a fábrica, na qualidade de dirigente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, ele semeou amigos, firmou companheiros, honrou camaradas e venceu, junto a eles, batalhas épicas pela manutenção e ampliação de direitos trabalhistas, sindicais e civis. Perdeu a conta de quantas greves e negociações participou, nunca tergiversando na defesa de relações de trabalho dignas e justas. Se havia luta – e muita luta havia -, lá estava o Tito, com sua postura altiva, presença de espírito marcante e o sorriso que encorajava e tranquilizava a todos naqueles momentos de extrema tensão e grande risco.
Tito era assim porque sabia lutar. Compreendia a dimensão humana. Gostava das pessoas. Sabia que amor pelo próximo e a ojeriza pela injustiça não deviam intoxicar sua alma, torná-lo mais um radical de tabuleta. Era sincero em seus princípios. Equilibrava com maestria a atividade patriótica da qual nunca se desligou com profunda dedicação e amor por sua família. Dele, muitos hoje relembram momentos especiais, nos quais uma palavra, uma atitude do Tito faziam clarear situações difíceis, animar quem já se cansava, empolgar massas inteiras em seus discursos em portas de fábrica e assembleias.
“O Tito foi um patrimônio inestimável dos comunistas brasileiros”, resume o ex-integrante do Comitê Central do PCB Régis Savietto Frati, que com o líder que se foi nesta madrugada travou incontáveis lutas clandestinas e à luz do dia. “A democracia só prosperou no Brasil pelo trabalho obstinado e corajoso de pessoas com o Tito, um camarada do qual me orgulho de ter sido amigo”.
Em nota, o ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo Luiz Antônio Medeiros lamentou a perda repentina e lembrou a trajetória do camarada:
“Estou pessoalmente chocado com o falecimento de um amigo com quem convivi na luta pelos direitos dos trabalhadores e pela democracia desde a época da ditadura, nos terríveis anos 70. Tito de Oliveira foi um militante metalúrgico do PCB na luta clandestina, combateu o duro e difícil combate e será sempre lembrado pelo seu jeito afável com todos, e ao mesmo tempo combativo e corajoso em defesa dos trabalhadores. Tito trabalhou comigo no Sindicato dos Metalúrgicos e também em minha assessoria parlamentar. Esse vírus maldito levou um querido e amigo companheiro. Que a Cláudia e seus filhos recebam todos os meus sentimentos e o testemunho dessa figura tão positiva, querida e honrada que hoje nos deixou. Adeus, querido Tito!”
Fonte: br2pontos.com.br