
Todos os homens do presidente. Divulgação.
Por Carolina Maria Ruy
Ao longo da história, não foram poucos os momentos em que políticas, tramas e dados sigilosos vieram a público, mudando radicalmente o curso dos acontecimentos.
Durante a Guerra do Vietnã, por exemplo, o jornal The Washington Post publicou documentos confidenciais vazados por Daniel Ellsberg, ex-analista militar dos Estados Unidos, revelando detalhes comprometedoros sobre a atuação do país no conflito.
Poucos anos depois, em 1972, a imprensa norte-americana expôs um dos escândalos políticos mais emblemáticos do século XX: o caso Watergate, que culminou na renúncia do presidente Richard Nixon, em 1974.
Mais recentemente, o site WikiLeaks, liderado por Julian Assange, tornou-se símbolo dos vazamentos de informações sigilosas ao divulgar uma série de documentos e comunicações entre líderes mundiais.
Outro caso marcante é o de Edward Snowden, ex-analista de sistemas da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA), que, a partir de 2014, revelou ao mundo os bastidores de programas secretos de vigilância global conduzidos pelo governo norte-americano. No Brasil, esses vazamentos ganharam ampla repercussão por meio do jornalista Glenn Greenwald, que recebeu o Prêmio Pulitzer de Jornalismo por esse trabalho.
A seguir, confira alguns desses casos reconstituídos em filmes instigantes, listados em ordem de lançamento:
Todos os homens do presidente (EUA, 1976. Direção: Alan J. Pakula)
Lançado no calor do desfecho do caso Watergate, apenas dois anos depois da renúncia de Nixon, Todos os homens do presidente mostra a tensa relação entre o informante, Garganta Profunda (Deep Throat), e os repórteres do jornal Washington Post, Bob Woodward e Carl Bernstein, o peso de obter informações secretas, a pressão do governo e os possíveis riscos que o jornal e os jornalistas corriam ao se envolver nesta arriscada operação.
Woodward e Bernstein, interpretados por Robert Redford e Dustin Roffman, se dedicaram, durante meses a percorrer as pistas fornecidas pelo informante e estabeleceram as ligações entre a Casa Branca e o assalto ao edifício de Watergate durante a campanha eleitoral dos EUA, de 1972. Suas descobertas incriminaram o presidente Richard Nixon quem em 24 de julho de 1974, foi julgado pela Suprema Corte dos Estados Unidos e, em 9 de agosto, ele renunciou à presidência.
O quinto poder (EUA, 2013. Direção: Bill Condon)
Embora tenha sido criticado e rejeitado por Julian Assange, o filme conta a versão de seu colega Daniel Domscheit-Berg, sobre a criação do Wikileaks. Domscheit-Berg ajudou Assange a fundar o site para fornecer uma plataforma para que denunciantes anônimos pudesse expor segredos do governo e crimes corporativos.
Lançado em dezembro de 2006, em meados de novembro de 2007, o Wikileaks já continha 1,2 milhão de documentos. Sua glória viria em 2010, quando o publicou uma série de documentos sigilosos do governo dos Estados Unidos que haviam sido vazados pela ex-militar transexual, Chelsea Manning. Um deles era um vídeo de 2007, que mostrava o ataque de um helicóptero Apache estado-unidense, matando pelo menos 12 pessoas – dentre as quais dois jornalistas da agência de notícias Reuters – em Bagdá, durante a ocupação do Iraque. Outro documento polêmico mostrado pelo site naquele ano foi a cópia de um manual de instruções para tratamento de prisioneiros na prisão militar de Guantánamo, em Cuba. Para dar conta de processar e divulgar as informações que recebia o Wikileaks criou parceria com os jornais El País, Le Monde, Der Spiegel, The Guardian e The New York Times,.
Para Julian Assange, o filme foi feito para denegrir a imagem do Wikileaks. Por outro lado, de pessoas que conviveram com ele alegam que o longa desmistifica a imagem heroica do jornalista.
Citizenfour (EUA, 2014. Direção: Laura Poitras)
O documentário revela as conversas dos jornalistas Laura Poitras e Glenn Greenwald com o analista de sistemas, ex-administrador de sistemas da CIA e ex-funcionário da Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA, na sigla em inglês), Edward Snowden, nas quais ele revela a extensão da vigilância global e de ações de espionagem feitas pelos EUA.
O encontro registrado no filme, que ocorreu em Hong Kong, em junho de 2013, foi justamente o ato das revelações, e não uma conversa sobre as revelações. A conversa, divulgada pelos jornais The Guardian e The Washington Post, apontou detalhes de comunicações e tráfego de informações executada através de vários programas, entre eles o programa de vigilância PRISM dos Estados Unidos.
Após as revelações, o Governo dos Estados Unidos acusou Snowden de roubo de propriedade do governo, comunicação não autorizada de informações de defesa nacional e comunicação intencional de informações classificadas como de inteligência para pessoa não autorizada.
Desde agosto de 2013, Snowden vive em asilo político na Rússia.
Snowden (EUA, 2016. Direção: Oliver Stone)
Snowden é o filme que encena o encontro revelado em Citizenfour, com a vantagem de abordar os impactos na vida pessoal do protagonista, após ele se tornar inimigo número um da nação. No filme, sua namorada dele, Lindsay Mills, aparece como alguém que o instiga politicamente e que pode ter alguma influência em suas ações radicais.
The Post (EUA, 2017. Direção: Steven Spielberg)
The Post dramatiza a história real dos jornalistas do Washington Post ao tentar publicar documentos secretos sobre o envolvimento dos Estados Unidos na Guerra do Vietnã, vazados pelo ex-funcionário do Pentágono, Daniel Ellsberg, e apelidados pelo jornal The New York Times, a quem parte deste documento foi entregue em 1971, de Pentagon Papers.
As revelações, que foram divulgadas em séries de artigos nos jornais The New York Times e The Washington Post, mostraram que os Estados Unidos deliberadamente expandiram sua ação na guerra, depois de o presidente Lyndon Johnson prometer que isso não aconteceria.
A guerra, que começou na década de 1950 (os EUA, que já atuava ali a pretexto de oferecer “apoio humanitário” desde o início, entrou em peso no Vietnã em 1965), atravessou vários governos, e teve um custo altíssimo aos EUA, tanto em termos de vidas, quanto em recursos e também em moral. Aquelas revelações escandalizaram a opinião pública causando um grande desgaste ao presidente Richard Nixon.
Este caso também é mostrado, com registros documentais, na série A Guerra do Vietnã: Um filme de Ken Burns e Lynn Novick (2017).
Mark Felt – O Homem que Derrubou a Casa Branca (EUA, 2017. DIREÇÃO: Peter Landesman)
Mais de quarenta anos do lançamento de Todos os homens do presidente, Mark Felt – O Homem que Derrubou a Casa Branca, conta a mesma história, mas do ponto de vista da fonte dos jornalistas Bob Woodward e Carl Bernstein, o Garganta Profunda, “Deep Throat”. O filme também tem a vantagem de contar com as descobertas levantadas ao longo destas décadas, entre elas identidade do informante: o ex-vice-presidente do FBI, William Mark Felt.
Privacidade hackeada (EUA, 2019. Direção: Karim Amer, Jehane Noujaim)
O angustiante documentário releva as relações entre a empresa Cambridge Analytica, com a eleição do presidente Trump, nos Estados Unidos, e o referendo Brexit, no Reino Unido.
Criada em 2013, a função da empresa era compilar e analisar dados com comunicação estratégica. Em outras palavras, comprava e decupava dados das redes sociais com fins eleitorais. Em 17 de março de 2018, os jornais The New York Times e The Observer revelaram que a Cambridge Analytica usou informações pessoais de 50 milhões de perfis do Facebook. Em resposta, a rede social baniu a Cambridge Analytica e proibiu a empresa de fazer publicidade em sua plataforma. Em 4 de abril do mesmo ano o Facebook anunciou que as contas de pelo menos 87 milhões de pessoas foram atingidas em 10 países, e, segundo suas estimativas, os dados pessoais de milhões de brasileiros foram usados sem consentimento. Nos Estados Unidos foram atingidas mais de 70 milhões de pessoas.
O filme mostra a saga de David Caroll, professor de design de mídia da Parsons School for Design, de Nova Iorque, ao mover um processo por ter seus dados usados sem consentimento ao responder um quiz no Facebook. Mostra também a luta da jornalista do The Guardian, Carole Cadwalladr, contra a apropriação e uso ilegais de dados que interferem diretamente nas democracias e soberania dos povos.
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