A confiança da construção cresceu 2,1 pontos para 82,8 pontos em junho sobre maio, feito o ajuste sazonal. Em junho do ano passado, o indicador marcava 79,4 pontos. Mas a parcela das empresas que consideram a demanda insuficiente cresceu de 49,4% para 54,7% neste ano em comparação com 2018. Este é, segundo os empresários, o fator que mais limita a melhora dos negócios, seguido de longe pela competição dentro do setor (31%). “A questão da demanda é ainda muito grave em todos os segmentos da construção”, diz Ana Maria Castelo, coordenadora de projetos do Ibre-FGV.
O Índice de Expectativas (IE) – um dos dois componentes da confiança – cresceu 3,1 pontos em junho sobre maio, movimento que pode ser mais creditado ao avanço das discussões sobre a reforma da Previdência no Congresso do que a um cenário concreto mais promissor. “As pesquisas têm mostrado aumento de confiança em outros setores também. Depois de uma incerteza maior, parece que a reforma da Previdência vai ser aprovada”, diz Ana Castelo. Ela também pondera que os índices subiram num movimento de correção, depois de seguidas quedas ao longo do primeiro semestre.
A economista ainda observa que a confiança da construção fechou o primeiro semestre abaixo dos 85,4 registrados em dezembro. “A confiança aumentou ao longo do segundo semestre de 2018, mas não se sustentou. As perdas dos últimos meses não foram recuperadas, mostrando que houve uma piora na percepção empresarial ao longo do período”, diz.
Ainda não se pode dizer que há uma reversão positiva na construção, afirma Ana, em meio a um cenário de desaceleração do crescimento da economia e do alto nível de desemprego. Neste mês, o Ibre-FGV baixou a estimativa para o crescimento do PIB da construção de 2% para 0,5%, após uma queda de 2,5% em 2018, o quinto recuo anual consecutivo.
Se as expectativas subiram por causa da Previdência, o Índice de Situação Atual (ISA) aumentou 1,2 ponto por causa da sinalização do governo quanto à continuidade dos repasses de recursos para o Minha Casa, Minha Vida, programa responsável por cerca de 70% da venda de imóveis no país. O ISA das empresas ligadas ao programa deu um salto de 12 pontos em junho, após recuo de 8 pontos entre março e maio por causa dos atrasos nos pagamentos dos projetos já contratados. Mas a avaliação dos negócios correntes entre as empresas que estão fora dos programas governamentais cai há dois meses.
“Vemos que uma dependência desses programas para sustentar a confiança, o que é preocupante”, diz Ana Castelo, para quem a agenda de infraestrutura e de melhoria do ambiente de negócios caminhou pouco após os leilões. “Há discussão intensa dentro do governo para formar essa agenda. Mas, efetivamente, não há medidas concretas”, diz.
Fonte: Valor Econômico