Ao contrário do que apregoam setores da suposta esquerda, o governo Bolsonaro tem projeto. Por ser diferente do nosso e contra o nosso, muitos não querem enxergar a realidade. Mostram isso as redes sociais, onde os valentes do Facebook tentam desqualificar o pensamento crítico.
Comecemos pelo começo, junho de 2013, quando a operação ganhou corpo com as jornadas de massa contra aumento de 20 centavos na passagem em SP. A agitação obteve dimensão nacional, com apoio da mídia hegemônica e fraqueza de governantes, como o Haddad. Setores esquerdistas e a própria Dilma viram no fato vigor democrático do povo brasileiro. Beberam, gostosamente, o veneno da CIA, da NSA etc.
Outro passo desse projeto foi eleger o inimigo público número 1. O escolhido, no caso, foi o PT. Ao afinar ainda mais a campanha, elegeram Lula o inimigo principal, até metê-lo na cadeia, sem provas. Construído e massificado o discurso, era preciso avançar. Um dos golpes mais duros foi o impeachment de Dilma.
Na conspiração desde há muito, Temer cuidou de vender a alma ao mercado, o que fez no documento “Uma ponte para o futuro”, de liquidação do Estado nacional. Daí vieram lei da terceirização irrestrita, engessamento dos recursos para a saúde e educação, lei trabalhista, reforma da Previdência, fatiamento da Petrobras e venda da Embraer.
Nesse quadro, com Lula preso e a população tomada pela histeria direitista, eleger Bolsonaro foi mais fácil que tomar doce de criança. De padrão mental ainda a ser diagnosticado, o ex-capitão ganhou e tripudiou. Todos os seus atos administrativos, até agora, têm sido contra o povo trabalhador e o Estado Nacional.
Vejamos:
• Salário mínimo. Dois ataques. Primeiro, reduziu em R$ 8,00 seu valor. Agora, com o fim da política de reajuste acima da inflação. Golpeia o mercado interno e, portanto, a economia nacional.
• Sindicalismo. MP 871, contra os rurais, e MP 873, que fere de morte as fontes de custeio das entidades sindicais, do setor privado e público também.
• Embraer. O Brasil está entre os cinco países que fabricam avião grande. Vamos perder um instrumento estratégico ao desenvolvimento. A Boeing herdará uma empresa com cinco mil engenheiros. Ou seja, capital humano excepcional, gente formada aqui pra passar a dar lucro a uma múlti que vive derrubando seus próprios aviões.
• Reforma da Previdência. Além dos ataques a direitos e redução na renda dos segurados, o Ippon é a desconstitucionalização da Seguridade Social. Com isso, se desmonta o Capítulo da Ordem Social. Sai a ordem e entra, portanto, a desordem social.
• Entreguismo. A cessão da Base de Alcântara, na linha do equador, aos Estados Unidos, é um ato de vassalagem sem precedentes. Derruba qualquer perspectiva brasileira para a indústria aeroespacial.
• Sabujice. O alinhamento político automático ao Departamento de Estado coloca o Estado brasileiro sob tutela do Império. Além disso, nos intriga com a China, criando problemas junto ao maior consumidor mundial de produtos brasileiros. Haveria aqui mais uns 15 exemplos. Mas seria escrever demais.
A questão, portanto, persiste: tem ou não projeto o Bolsonaro? Os fatos mostram que sim e eles são muitos. Negar isso é abrir mão da racionalidade, da análise mais singela e, por consequência, da mínima possibilidade de enfrentamento e resistência.
Eu não gosto da direita, por ser de direita. E não gosto da esquerda que serve à direita. Aliás, essa é ainda mais estúpida e venal.
João Franzin é jornalista e diretor da Agência de Comunicação Sindical