São Paulo – A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e outras seis entidades ligadas à defesa da justiça, dos trabalhadores, e da liberdade de imprensa divulgaram nota de repúdio às recentes “ações de violência”.
O documento é assinado também por Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Associação Nacional dos Magistrados do Trabalho (Anamatra), Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho (Sinait), Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho (ANPT) e Associação Brasileira dos Advogados Trabalhistas (Abrat).
Sem mencionar nomes, o documento faz referência direta à família Bolsonaro. Nos últimos dias, o candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro (PSL) teve seu nome ligado a um escândalo da fábrica de fake news que já classificado como a maior fraude eleitoral. Sua campanha tem sido beneficiada pelo financiamento, ilegal, por empresários, para a produção e disparo de notícias mentirosas contra o candidato Fernando Haddad, sua vice, Manuela D’Ávila (PCdoB) e o PT.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidenciável, chegou a ameaçar o fechamento do Supremo Tribunal Federal caso a candidatura fosse impugnada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O fato, que deixou muita gente estarrecida, foi divulgado por meio de um vídeo nas redes sociais neste final de semana.
Na nota, as entidades falam em “inquietantes episódios descortinados nos últimos dias, nas ruas e nas redes sociais, ao ensejo do processo eleitoral, de agressões verbais e físicas – algumas fatais – em detrimento de indivíduos, minorias e grupos sociais, a revelar crescente desprestígio dos valores humanistas e democráticos”.
Por isso, reiteram o compromisso com a preservação de um ambiente sociopolítico genuinamente ético, democrático, de diálogo, com liberdade de imprensa, exortam a renovação de respeito pela Constituição Federal, manifestam a defesa irrestrita e incondicional dos direitos fundamentais sociais e declaram a compreensão de que não há desenvolvimento sem justiça e paz social.
Leia a nota na íntegra:
As entidades signatárias abaixo nominadas, representativas da sociedade civil organizada, no campo do Direito e das instituições sociais, por seus respectivos Representantes, ao largo de quaisquer cores partidárias ou correntes ideológicas, considerando os inquietantes episódios descortinados nos últimos dias, nas ruas e nas redes sociais, ao ensejo do processo eleitoral, de agressões verbais e físicas – algumas fatais – em detrimento de indivíduos, minorias e grupos sociais, a revelar crescente desprestígio dos valores humanistas e democráticos que inspiram nossa Constituição cidadã, fiadores da convivência civilizada e do exercício da cidadania, vêm a público:
AFIRMAR o peremptório repúdio a toda manifestação de ódio, violência, intolerância, preconceito e desprezo aos direitos humanos, assacadas sob qualquer pretexto que seja, contra indivíduos ou grupos sociais, bem como a toda e qualquer incitação política, proposta legislativa ou de governo que venha a tolerá-las ou incentivá-las;
REITERAR a imperiosa necessidade de preservação de um ambiente sociopolítico genuinamente ético, democrático, de diálogo, com liberdade de imprensa, livre de constrangimentos e de autoritarismos, da corrupção endêmica, do fisiologismo político, do aparelhamento das instituições e da divulgação de falsas notícias como veículo de manipulação eleitoral, para que se garanta o livre debate de ideias e de concepções políticas divergentes, sempre lastreado em premissas fáticas verdadeiras;
EXORTAR todas as pessoas e instituições a que reafirmem, de modo explícito, contundente e inequívoco, o seu compromisso inflexível com a Constituição Federal de 1988, no seu texto vigente, recusando alternativas de ruptura e discursos de superação do atual espírito constitucional, ancorado nos signos da República, da democracia política e social e da efetividade dos direitos civis, políticos, sociais, econômicos e ambientais, com suas indissociáveis garantias institucionais;
MANIFESTAR a defesa irrestrita e incondicional dos direitos fundamentais sociais, inclusive os trabalhistas, e da imprescindibilidade das instituições que os preservam, nomeadamente a Magistratura do Trabalho, o Ministério Público do Trabalho, a Auditoria Fiscal do Trabalho e a advocacia trabalhista, todos cumpridores de históricos papéis na afirmação da democracia brasileira;
DECLARAR, por fim, a sua compreensão de que não há desenvolvimento sem justiça e paz social, como não há boa governança sem coerência constitucional, e tampouco pode haver Estado Democrático de Direito sem Estado Social com liberdades públicas.
Brasília (DF), 19 de outubro de 2018.
CLÁUDIO PACHECO PRATES LAMACHIA
Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)GUILHERME GUIMARÃES FELICIANO
Presidente da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra)LEONARDO ULRICH STEINER
Secretário-Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)ÂNGELO FABIANO FARIAS DA COSTA
Presidente da Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho (ANPT)CARLOS FERNANDO DA SILVA FILHO
Presidente do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho (Sinait)ALESSANDRA CAMARANO MARTINS
Presidente da Associação Brasileira dos Advogados Trabalhistas (Abrat)MARIA JOSÉ BRAGA
Presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj)
Fonte: Rede Brasil Atual