Portanto, reduzir a jornada ou mudar escalas é perfeitamente possível e necessário. E fará bem à saúde, física e mental.
Quando se discute jornada de trabalho, geralmente, se conta apenas o tempo que o empregado permanece em seu local de trabalho. Mas essa conta é incompleta.
Na Capital paulista, o tempo médio diário do trabalhador no transporte coletivo é de duas horas e 47 minutos. Multiplique por 23 dias, dá quase 57 horas. Divida 57 horas por oito (que é a jornada diária) e o cidadão terá um acréscimo de sete dias em sua jornada mensal de trabalho.
Sete dias dentro de ônibus lotados, trens abarrotados, metrôs cheios, sem contar o tempo de espera em pontos de ônibus ou estações de trem. Aqui em Guarulhos o sufoco também é grande, porque o transporte público deixa a desejar e há muitos trechos que congestionam tudo.
Evidentemente que esse sistema de trabalho se tornou insuportável, danoso à saúde e prejudicial à própria produtividade. Então, ele tem que ser mudado e melhorado.
Dá pra fazer isso de um dia pro outro ou por meio de uma PEC? Não dá, pois o Congresso Nacional é conservador e as características de cada categoria profissional (metalúrgicos, químicos, petroleiros, navais, aeronautas, comerciários etc.) requerem estudos e adaptações.
O que não pode haver, porém, é má vontade, da parte dos congressistas ou do patronato. A classe patronal e os políticos estão no dever de levar a sério esse debate, em conjunto com as entidades de trabalhadores.
Bandeira – Qual a bandeira clássica do sindicalismo brasileiro, no setor produtivo? Jornada de 40 horas. Essa demanda vem desde os anos 80, foi levantada de novo na Conclat 2010 e outra vez reafirmada na Conclat 2022.
Até o advento da CLT, por Getúlio Vargas, o trabalhador era levado à exaustão. Getúlio fixou a jornada em 48 horas semanais. Quando da Constituição de 1988, a pressão sindical conseguiu baixar pra 44 horas. No governo Dilma, quase conseguimos jornada de 42 horas. Mas deram o golpe na Presidente e a conquista foi adiada.
A redução da jornada e a adoção de escalas mais saudáveis se tornaram necessidade imperiosa. O sindicalismo tem consciência disso e fará o que deve ser feito. Ou seja, dialogar com o governo, o Congresso Nacional e o patronato. Mas sempre mobilizando as nossas bases.
Não temos ilusão de que tudo será resolvido num passe de mágica. O avanço terá que ser negociado, como é comum nas democracias. Mas as melhorias precisam começar a ser feitas, e já.
Josinaldo José de Barros (Cabeça), presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região