PUBLICADO EM 06 de maio de 2024
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A terceira guerra mundial já começou?

Por Andrew Murray e John Wojcik

Riscos de uma terceira guerra mundial: nos EUA, para Republicanos e Democratas a derrota de Vladimir Putin é necessária para que os EUA permaneçam como “a nação mais forte da terra".

Riscos de uma terceira guerra mundial: nos EUA, para Republicanos e Democratas a derrota de Vladimir Putin é necessária para que os EUA permaneçam como “a nação mais forte da terra”. Foto: Agência Brasil

A Terceira Guerra Mundial já começou? O imperialismo dos EUA e seus aliados negam isso, mas suas ações não combinam com essas negativas. A administração Biden diz que é pela paz e que quer evitar a “escalagem” das muitas guerras em que está envolvida. Ainda assim, ela continua, com seus aliados europeus próximos, a bombardear o Iêmen, a proteger Israel das consequências de suas agressões, e se esforça para manter a guerra na Ucrânia. Isso lembra o ladrão, durante sua fuga, gritando “Pare o ladrão”!

Assim como a invasão japonesa da Manchúria em 1932 e a Guerra Civil Espanhola de 1936 marcaram o real início da Segunda Guerra Mundial, convencionalmente datada apenas de 1939, a história pode registrar que a terceira grande conflagração já está em andamento.

Os agressores que apoiam as políticas genocidas de Israel não querem ser vistos, contudo, pelo seu trabalho mortal. A trepidação de Biden, Sunak e Cameron no Reino Unido, e Macron na França, quando se trata de tomar responsabilidade pelos resultados horríveis de suas manobras é, na verdade, bastante compreensível e não deve vir como surpresa.

A “ordem mundial” de Biden e os líderes do Reino Unido e França depende da força militar para sua própria sobrevivência. Ao mesmo tempo, contudo, se essa força é usada muito pesadamente, o sistema imperialista que eles sustentam pode rapidamente entrar em colapso.

“A nação mais forte da terra”

Nos EUA, o dilema é enfrentado por líderes de ambos os partidos políticos. O porta-voz do Partido Republicano nos EUA, Mike Johnson disse que os legisladores têm um “dever” de fornecer os US$ 60 bilhões em armas que Biden solicitou para a Ucrânia, se for para os EUA preservarem sua posição como a nação “indispensável” do mundo.

O Senador Democrata Chris Coons de Delaware ecoou essa posição dizendo que disposições dessa ajuda militar para a Ucrânia “e a derrota de Vladimir Putin da Rússia são uma necessidade” se for para os EUA permanecerem como “a nação mais forte da terra”.

Então, eles não querem uma Terceira Guerra Mundial, mas parecem estar dispostos a arriscar uma para preservar a posição de “superior” dos EUA.

Para atingir seus objetivos, eles sustentam e prolongam a violência, de Kharkiv a Khan Younis, enquanto, ao mesmo tempo, pedindo desesperadamente ao seu cliente israelense para evitar novas provocações, e eles hipocritamente ordenam a Ucrânia a abster-se de ações militares contra a Rússia. Por quê? Porque seus preciosos mercados de energia podem ter problemas se a Ucrânia ataca a Rússia diretamente.

Consenso de Washington e a Pax Americana acabaram

Um artigo recente no Financial Times colocou o dilema dessa maneira: “O Consenso de Washington – que esperava que as nações emergentes se alinhassem com as regras de livre mercado escritas pelo Ocidente – e a Pax Americana pós-guerra acabaram”. Então eles alcançam, mais e mais, as armas. Não é pelo benefício da luta pela democracia, ou das classes trabalhadoras do mundo, é claro, mas sim para manter o poder que eles veem escapando.

A hegemonia imperialista e norte-americana no Oriente Médio se tornou desequilibrada, e uma guerra regional se moveu de possibilidade para probabilidade, seguida do ataque de Israel ao consulado iraniano em Damasco e a inevitável resposta iraniana.

Enquanto isso, o esforço extensivo e caro para manter a Ucrânia em campo contra a Rússia está vacilando, com alguma forma de vitória para Moscou parecendo mais possível, embora não sem mais miséria e destruição. E a China continua a crescer em força econômica e influência global, apesar dos esforços liderados pelos EUA no cerco militar. Fundos sobre mais fundos são necessários para sustentar todos esses conflitos, novamente às custas de programas para os trabalhadores.

Outras armas financeiras

Também há as outras armas financeiras sendo implantadas; novas rodadas de sanções econômicas impostas por Biden contra a China e outros países foram anunciadas. “Não ataque o Irã”, ele diz a Israel, mesmo quando sua Secretária do Tesouro, Janet Yellen, anuncia que novas sanções contra esse país podem vir em questão de dias. A administração continua e até intensifica tornar o dólar como arma como um instrumento do imperialismo, agravando ainda mais a situação internacional.

Ainda, os EUA e seus aliados europeus mais próximos, acima de tudo, estão investidos até a morte em preservar a presente ordem mundial, da qual seus bancos e negócios lucram tão poderosamente. Eles não têm Plano B, não mais do que o Kaiser alemão e o Czar tinham na Europa em 1914. Determinada a manter a Rússia diminuída, a administração Biden manteve a guerra na Ucrânia, quando a paz é pelo menos possível.

O apoio dos EUA para a continuidade da supremacia de Israel no Oriente Médio está por trás da devastação e sofrimento espalhados pelas múltiplas guerras lançadas na região nesse século, e é chave para o genocídio em Gaza presentemente, tendo luz verde de Washington. Muito dessa ação suja já foi feito. Gaza está quase completamente destruída, e a maioria da população deixada viva está passando fome.

E agora há a ascensão econômica e política da China, sobre a qual a elite política do G7 não sabe o que fazer. O perigo é que quando eles chegam a uma solução, ela vai envolver bombas e navios de guerra. Eles já estão construindo essas armas na área, e estão intensificando as conversas sobre guerra, “defendendo” Taiwan da China. Não importa para eles que a própria Taiwan é uma parte da China. A última e a Rússia são pelo menos, até certo ponto, diplomaticamente e militarmente conectadas, oferecendo apoio mútuo em se defender da pressão dos EUA.

Essas políticas prejudicam os trabalhadores

E, como nos anos de 1930, a internacional “tem”, os EUA e seus aliados europeus, manobras para evitar seus muitos conflitos de se tornar mais ampla e geral, porque sua posição pode dificilmente ser melhorada por uma grande guerra mundial. Ainda, eles nem podem diminuir seu militarismo e interferência, uma vez que sem esses apoios a ordem imperialista colapsaria completamente.

A contradição é resolvida no disparo simultâneo de mísseis, ou na provisão de mísseis para serem disparados por procuradores, enquanto, ao mesmo tempo, como a administração Biden, emitindo homilias sobre contenção.

Embora tenha havido progresso pelas organizações de trabalhadores no Ocidente no questionamento de algum desse militarismo, particularmente nos pedidos por um cessar fogo em Gaza, há um longo caminho a percorrer em aumentar a conexão do movimento trabalhista com o militarismo de gastos de guerra com a luta por justiça econômica no front de casa.

O fracasso em controlar os traficantes de guerra vai ser pago através de cortes em gastos sociais, corte de serviços públicos, impostos mais altos sobre os trabalhadores, e muitas outras coisas.

As exigências para acabar com a política de guerra devem ser apresentadas pelo movimento pacifista, o movimento trabalhista, e todos os seus aliados. Os EUA não têm nada a ver com bombardear o Iêmen, armar e defender as políticas genocidas de Israel, trabalhar para prolongar o conflito Ucrânia-Rússia, ou navegar porta-aviões e submarinos nucleares em toda a região Ásia Pacífico. Essas políticas devem TODAS ser combatidas, porque elas prejudicam os trabalhadores e aumentam o perigo do desenvolvimento da Terceira Guerra Mundial.

A política da administração de Biden no Oriente Médio não está agindo em nome da lei internacional, nem de considerações humanitárias. Ela está defendendo o privilégio sistêmico do capital financeiro dos EUA – gastando sangue por petróleo e dinheiro, em última análise.

A paz, é claro, é a primeira e principal exigência essencial, incluindo um fim para todas as aventuras militares dos EUA, Grã-Bretanha e França no Oriente Médio e ao redor do mundo.

O grande problema enfrentado pelas pessoas do mundo não é o Irã, nem a Rússia, nem a China. São os poderes imperialistas que não vão parar por nada para apoiar mais e mais guerras no exterior, como parte de sua intensificação da exploração da maioria em seus países natais.

O crescimento do movimento de paz dá esperança de que nós podemos detê-los em seu caminho.

Tradução: Luciana Cristina Ruy

Andrew Murray é ativista do Partido Trabalhista do Reino Unido.

John Wojcik é editor chefe do People’s World.

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