O TST – Tribunal Superior do Trabalho iniciou, nesta terça-feira (8), o curso “Letramento racial: reeducar para construir”.
Até novembro, com o intuito de debater temas como colonialismo, filosofia africana, saúde mental, sistema de justiça e ações afirmativas, serão promovidas mesas redondas com palestrantes negros.
O curso é voltado para o público interno (integrantes da magistratura, servidores, prestadores de serviços, estagiários e menores aprendizes do TST e de outros órgãos).
O objetivo é estimular o combate a atitudes racistas. O curso foi idealizado pelo Centro de Formação de Assessores e Servidores do TST (Cefast), em parceria com a Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados do Trabalho (Enamat).
Sonhos e projetos
“Por que o negro incomoda tanto?” questionou Simone Diniz na abertura do curso.
Simone tem atuado na defesa dos direitos das mulheres negras desde que sofreu discriminação quando trabalhava como empregada doméstica, ao se deparar com um anúncio de jornal que exigia que a candidata à vaga fosse branca.
Após ter sido rejeitada para o trabalho, ela denunciou o caso à Ordem dos Advogados do Brasil em São Paulo (OAB/SP) e à Delegacia de Crimes Raciais.
Em abril de 1997, a Justiça determinou o arquivamento do processo, mas, no mesmo ano, o caso foi levado à Corte Interamericana de Direitos Humanos
Mesmo depois de anos de luta, Simone diz que a sociedade continua extremamente preconceituosa.
“Os negros têm sonhos e projetos, mas seguem sendo julgados quando almejam cargos ou posições. Por que o negro incomoda tanto? Por que ele é julgado incapaz ou é alvo de tanto deboche?”, perguntou à plateia.
Continuidade
Para o ativista cultural e militante do movimento negro Rafa Rafuagi, que fez a primeira palestra do curso, a iniciativa do TST de capacitar seu público sobre a temática é essencial, contudo a ação não deve ser pontual.
“A cada ciclo, se renovam servidores e magistrados. É preciso que esses temas sejam discutidos de forma permanente para chegar a todos”, defendeu.
Rafa considera muito importante saber a origem de expressões racistas, como “mulata”, e não mais utilizá-las, além de agir de forma mais ativa contra o racismo.
“Esses termos são humilhantes, racistas, excludentes e violentos. É melhor pensar antes de falar e de ofender o outro”, orientou.
Pioneirismo
O presidente do TST, ministro Lélio Bentes Corrêa, destacou o pioneirismo da iniciativa de capacitação e formação do público interno do Tribunal num assunto tão necessário para “avançar no patamar civilizatório”.
“Esse evento nos dão a oportunidade de trocar experiências e saberes. Temos muito a aprender, e esse processo de instrução não é fácil e, muitas vezes, é doloroso”, afirmou.
Projeto Simone
O ministro aproveitou a ocasião para anunciar o lançamento do Projeto Simone Diniz, que promoverá ações de capacitação permanente no âmbito da Justiça do Trabalho contra o racismo e o sexismo nas relações de trabalho, com ênfase no trabalho doméstico.
O projeto também pretende criar uma rede interinstitucional com órgãos da administração pública, entidades da sociedade civil, organismos internacionais e países de língua portuguesa para compartilhamento de informações.
com informações do TST
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