PUBLICADO EM 29 de ago de 2020
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EUA: O apoio de Trump aos supremacistas brancos e à violência

 

O assassino de Kenosha, Kyle Rittenhouse, na rua no momento da onda de assassinatos na terça-feira (25); ele havia , participado de um comício de Donald Trump em Des Moines (Iowa), em janeiro. Foto via C-SPAN e Twitter

Por Mark Gruenberg (*)

Uma das “pessoas de bem” de Donald Trump, Kyle Rittenhouse, um jovem de 17 anos de idade que, segundo a imprensa, “admira a polícia”, foi preso depois de atirar, na quarta-feira (26), em três pessas que se manifestavam, em Kenosha, Wisconsin (EUA), pacíficamente, contra o racismo e a violência policial.

Uma das vítimas está no hospital. Os outros dois – baleados na cabeça – estão no necrotério – morreram.

E enquanto a polícia prendia o atirador Rittenhouse, autor dos assassinatos, o que se destaca é a luz verde que o atual ocupante da presidência, Donald Trump, dá a tais extremistas de direita. Ele elogiou os neonazistas que protestaram em Charlottesville, Virgínia (EUA) três anos atrás – um dos quais também cometeu assassinato, ao atropelar com seu carro a manifestante Heather Heyer, de 32 anos de idade. E os neonazistas feriram 39 outras pessoas naquela ocasião.

Apesar do assassinato, Trump elogiou os neonazistas, algo que não foi mencionado na atual convenção republicana que o indicou para concorrer a um novo mandato presidencial. Em vez disso, a própria resolução da convenção denuncia grupos que fazem o importante trabalho de denunciar supremacistas brancos, terroristas de direita e racismo sistêmico, incluindo o racismo de Trump.

Os partidários do presidente, na TV a cabo de direita e na mídia online, liderados pelo apresentador da Fox News, Tucker Carlson, descrevem Rittenhouse como algo próximo a um herói lutador pela lei e pela ordem. “Ficamos chocados com o fato de jovens de 17 anos terem decidido, armados com rifles, que precisavam manter a ordem quando ninguém mais o faz?”, perguntou Carlson em seu programa, na noite de quarta-feira (26), atribuindo a culpa pelos assassinatos aos democratas da cidade.

A defesa de Rittenhouse vem na esteira da valorização, pela convenção republicana, de Mark e Patricia McCloskey, os advogados que enfrentam acusações de ameaçar, armados, manifestantes pacíficos do Black Lives Matters em St. Louis, em junho.

O perigo de que mais bandidos armados de direita saiam às ruas e atirem nas pessoas é agora uma ameaça muito real nos EUA.

Outra grande preocupação são os sinais crescentes de aliança entre supremacistas brancos e elementos das forças policiais. Um vídeo mostra que, depois que Rittenhouse deixou na rua suas vítimas mortas ou feridas, ele pôs sua arma semiautomática no ombro e caminhou em direção a um veículo policial próximo, passando sem ser perturbado. Os policiais não fizeram nenhuma tentativa de detê-lo. No início da noite, as forças policiais disseram a um grupo de milicianos armados, que incluia Rittenhouse, que os “apreciavam”.

Qual foi a reação de Trump aos assassinatos de Rittenhouse? Ele não proferiu nenhuma palavra de condenação, mas anunciou que estava enviando tropas federais, incluindo o FBI, para a aplicação da lei e dispersar os manifestantes, não as pessoas que atiraram e mataram.

Os últimos assassinatos racistas e o fato de Trump alimentá-los com seus discursos inflamados ocorrem apenas semanas após o aparecimento da documentação da longa história de racismo do presidente, em um livro escrito por sua sobrinha, Mary Trump. Segundo ela, havia diatribes racistas regularmente em torno da mesa da sala de jantar de Trump.

Trump e seus aliados alimentaram o ódio racial ao longo dos anos. Eles variam desde proibir ilegalmente o acesso de famílias negras a moradia assistida pelo governo federal, que ele construiu em Nova York, até seus pedidos fanáticos pela execução do “Central Park 5” – cinco jovens negros acusados ​​de estuprar, no Central Park, em Nova York, uma corredora branca, em 1989. Mais tarde, testes de DNA provaram que eram inocentes.
Esses são apenas sintomas, no entanto, da doença maior do racismo sistêmico. Grupos de direitos civis, a Coalizão de Sindicalistas Negros (CBTU), a Aliança do Trabalho Asiático-Pacífico Americana (APALA) e dois grandes sindicatos, AFSCME e dos Professores (AFT), juntamente com a AFL-CIO, entendem assim.

“Os corpos continuam a serem empilhados. Os abusos continuam. Aparentemente, meses de protestos ainda precisam provar que a vida negra é importante”, disse a CBTU depois que a polícia de Kenosha, sem provocação, atirou em Jacob Blake sete vezes nas costas em 24 de maio, quando ele entrava em seu carro.

Blake está em um hospital, paralisado da cintura para baixo. A violência contra ele desencadeou os protestos BLM [Black Lives Matters ] em Kenosha, onde Rittenhouse atacou três noites depois.
“Haverá os provocadores de sempre, que vão acentuar seu racismo e ódio e, tolamente, justificar suas ações violentas. ‘Se você apenas ouvir, não terá problemas’ ou ‘Se você não fizer nada de errado, não terá problemas’” – é o que dizem os racistas, acusa a CBTU.

São argumentos que não justificam “a morte de um ser humano. Como virar as costas para um policial explica ter sido baleado sete vezes? O que dizer aos nossos filhos? Como explicar que uma vida negra tenha menos valor do que um charuto ou cigarros ou uma nota de 20 dólares?”, perguntam. “Não haverá paz até que haja justiça. Não aceitamos explicações ou justificativas. Não aceitamos só investigações. Não aceitamos ajoelhar-nos. Exigimos justiça. Nós merecemos justiça. Nós morremos pela justiça. Comece com justiça para Jacob Blake.”

A Conferência de Liderança sobre Direitos Civis e Humanos apontou que uma resolução da convenção do Partido Republicano condena não os que odeiam ou o racismo sistêmico, mas o maior rastreador de ódio da nação, o Southern Poverty Law Center [SPLC – Centro de Direito dos Pobres do Sul].

Em uma declaração, também assinada pela APALA, AFSCME, os Professores (AFT) e duas dezenas de outras organizações, a Conferência de Liderança declarou: “Incidentes e crimes de ódio aterrorizam comunidades inteiras e assistimos a um aumento sem precedentes dessas ações. Esses atos de ódio causam danos devastadores às pessoas e minam nossa democracia, pois as pessoas temem por suas vidas.

“Ainda assim, durante esta crise, o RNC [Comitê Nacional Republicano] condenou uma organização por fazer um trabalho que ajuda os líderes comunitários, as forças de segurança e os governos estaduais e locais a combater o ódio.”

O SPLC “documentou um aumento de 50% no número de grupos de ódio nacionalistas brancos no ano passado”, acrescentou a Conferência da Liderança. Observou que até o diretor do FBI “reconheceu que a maioria dos ataques racistas são alimentados por algum tipo de supremacia branca”.

Isso é uma mudança. Na era J. Edgar Hoover, o FBI tinha como alvo tanto comunistas quanto líderes de direitos civis. Não só espionou e incomodou Martin Luther King Jr., mas também o chamou de comunista. Agora chama o nacionalismo branco de “uma prioridade de ameaça nacional”, diz a CBTU.

A resolução republicana “visa minar a verdade e permitir que nacionalistas brancos e grupos de ódio como QAnon [movimento de extrema direita, pró-Trump] continuem direcionando o ódio contra as comunidades que representamos”. O Partido Republicano e o governo “continuam a esconder as evidências” de racismo sistêmico ”, diz a CBTU.

“Enquanto não considerarmos as muitas maneiras pelas quais o nacionalismo branco e os grupos de ódio continuam a devastar nosso país, não podemos manter as pessoas seguras nem chegar mais perto de realizar um país tão bom quanto seus ideais.”

O SPLC, alvo do GOP [Grand Old Party – uma forma de designar o Partido Republicano], condenou “o padrão e prática do governo Trump de trabalhar com indivíduos e organizações que difamam grupos inteiros de pessoas – imigrantes, muçulmanos e a comunidade LGBTQ … Segue a mesma linha da afirmação de Trump de que havia ‘muito gente boa de ambos os lados’” em Charlottesville.

“Simplificando, é uma tentativa audaciosa de Trump e do Partido Republicano para esconder a intolerância e o racismo que permitiram infectar suas políticas.”

Joe Biden, o candidato democrata à presidência, disse: “A justiça igual não tem sido real para os negros dos EUA e tantos outros. Estamos em um momento de inflexão. Devemos desmantelar o racismo sistêmico. É uma tarefa urgente que enfrentamos”, disse ele depois que Jacob Blake foi baleado. “Devemos lutar para honrar os ideais estabelecidos na promessa americana original, que ainda precisamos alcançar: que todos os homens e mulheres sejam criados iguais, mas o mais importante é que devem ser tratados com igualdade.”

Os democratas que dirigem a Câmara concordam. Em 25 de junho, aprovaram a lei inspirada em George Floyd, Lei de Justiça no Policiamento, que chamaram de a primeira etapa no ataque ao racismo sistêmico arraigado nos EUA.

Os democratas apoiaram esse projeto de lei. E também três republicanos, um dos quais, Will Hurd do Texas, é o único representante negro do Partido Republicano. Mas os outros 181 republicanos votaram “não”. Alguns republicanos também concordaram com a lei, mas não vieram para a convenção, entre eles o ex-presidente nacional do Partido Republicano Michael Steele, que é negro. Endossaram Biden, poucos dias antes de Blake e os outros negros serem baleados.

“Infelizmente, vimos o ocupante daquela cadeira” – a cadeira presidencial no Salão Oval – “atacar nossos medos e ressentimentos com um narcisismo que alimenta apenas o caos e a confusão”, tuitou Steele. “Dr. King [Martin Luther] nos lembra que ‘nossas vidas começam a terminar no dia em que nos calamos sobre coisas importantes’. Meu país é importante ”, concluiu.

A liderança da AFL-CIO tem se manifestado a favor da reforma da polícia. “O assassinato de George Floyd revelou uma realidade em toda a história da violência nos EUA contra os negros e outras pessoas de cor”, escreveu o diretor da federação, o sindicalista Bill Samuel. “É fundamental… o Congresso tomar medidas abrangentes para mudar as regras básicas de policiamento que permitem que esse padrão e prática continuem”.

“Os membros do sindicato vivem e trabalham em todos os estados e comunidades, então quando ocorre a brutalidade policial, ela acontece em nosso quintal e contra nossas famílias. Também representamos dezenas de milhares de policiais que vão trabalhar todos os dias e arriscam suas vidas para proteger o público.”

“Como tal, acreditamos que temos a responsabilidade de desempenhar um papel de liderança para garantir que desta vez seja diferente. Seja proibindo estrangulamentos, aumentando o uso de câmeras corporais, acabando com o perfil racial, desmilitarizando nossas forças policiais ou acabando com mandados de segurança, a Lei de Justiça no Policiamento tem o potencial de criar um sistema de justiça mais justo e equitativo ”, explicou.

(*) Mark Gruenberg dirige o escritório do “People’s World” em Washington. É também editor da Press Associates Inc. (PAI), um serviço sindical notícias em Washington.
Fonte: “People’s World”; tradução: José Carlos Ruy

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