
Zeca Baleiro, cantor e compositor brasileiro
Lançada em 2008, a canção “Vai de Madureira”, de Zeca Baleiro, se inscreve na tradição da música popular brasileira que, com lirismo e ironia, retrata as desigualdades sociais do país a partir do ponto de vista do cotidiano popular. Em meio a um Brasil marcado pela ostentação crescente da classe média e pelo apelo consumista, a música apresenta uma crítica sutil, porém contundente, aos valores elitistas que associam bem-estar à ostentação de grifes, destinos turísticos luxuosos e experiências gourmetizadas.
Baleiro constrói, com leveza e senso de humor, um retrato do brasileiro que reage à exclusão social com criatividade, afeto e senso de comunidade, substituindo o inacessível pelo possível sem perder a alegria. Ao invés de uma Perrier francesa, uma boa cachaça; no lugar do restaurante Fasano, a feijoada da vizinha Zilá; e se Nova York está distante, Madureira é logo ali — cheia de cultura, história e pertencimento.
A música não apenas exalta o valor da simplicidade e do afeto comunitário, como também ressignifica a periferia como espaço legítimo de identidade, resistência e prazer, invertendo as hierarquias simbólicas entre centro e margem, luxo e necessidade. Nesse sentido, “Vai de Madureira” pode ser lida como um manifesto bem-humorado da dignidade popular frente à lógica do consumo e da exclusão.
Vai de Madureira
(Composição: Zeca Baleiro/2008)
Intérprete: Zeca Baleiro
Se não tem água Perrier eu não vou me aperrear
Se tiver o que comer não precisa caviar
Se faltar molho rose no dendê vou me acabar
Se não tem Moet Chandon, cachaça vai apanhar
Esquece Ilhas Caiman deposita em Paquetá
Se não posso um Cordon Bleu, cabidela e vatapá
Quem não tem Las Vegas, vai no bingo de Irajá
Quem não tem Beverly Hills, mora no BNH
Quem não pode, quem não pode
Nova York vai de Madureira
Quem não pode Nova York vai de Madureira
Se não tem Empório Armani
Não importa vou na Creuza costureira do oitavo andar
Se não rola aquele almoço no Fasano
Vou na vila, vou comer a feijoada da Zilá
Quem não pode, quem não pode
Nova York vai de Madureira
Quem não pode Nova York vai de Madureira
Se não tem água Perrier
Se tiver o que comer
Se faltar molho rose
Se não tem Moet Chandon, cachaça vai apanhar
Esquece Ilhas Caiman
Se não posso um Cordon Bleu
Quem não tem Las Vegas vai
Quem não tem Beverly Hills…Madureira
Quem não pode, quem não pode
Nova York vai de Madureira
Quem não pode Nova York vai de Madureira
Se não tem Empório Armani
Não importa vou na Creuza costureira do oitavo andar
Se não rola aquele almoço no Antiquarius
Vou na vila, vou comer a feijoada da Zilá
Quem não pode, quem não pode
Nova York vai de Madureira
Quem não pode Nova York vai de Madureira
Só ponho Reebok no meu samba
Quando a sola do meu Bamba, a sola do meu Bamba
chegar ao fim
#Música&Trabalho
Fonte: Centro de Memória Sindical