A música “O dia em que o morro descer e não for carnaval”, de Wilson das Neves, é uma crítica à realidade das favelas e áreas marginalizadas do Brasil.
Ela aponta para a ideia de ruptura do papel e do lugar predestinado aos pobres e excluídos. Isso porque, é considerado normal “o morro descer” para festejar o carnaval, mas, fora isso, deve permanecer limitado naquele que é considerado seu espaço, a favela.
Mas se o morro descer fora do Carnaval, é sinal de que o povo tomou consciência que aquelas regras subentendidas não servem a ele. Que são discriminatórias e opressoras. E se o povo, com sua força, se revoltar contra isso, e mostrar sua dor, não será como uma escola de samba atravessando a Avenida. Será a realidade, nua e crua, para a qual a sociedade fecha os olhos.
O Dia em que o morro descer e não for carnaval
(Composição: Paulo Cesar Pinheiro e Wilson das Neves / 1996)
Intérprete: Wilson das Neves
O dia em que o morro descer e não for carnaval
ninguém vai ficar pra assistir o desfile final
na entrada rajada de fogos pra quem nunca viu
vai ser de escopeta, metralha, granada e fuzil
(é a guerra civil)
No dia em que o morro descer e não for carnaval
não vai nem dar tempo de ter o ensaio geral
e cada uma ala da escola será uma quadrilha
a evolução já vai ser de guerrilha
e a alegoria um tremendo arsenal
o tema do enredo vai ser a cidade partida
no dia em que o couro comer na avenida
se o morro descer e não for carnaval
O povo virá de cortiço, alagado e favela
mostrando a miséria sobre a passarela
sem a fantasia que sai no jornal
vai ser uma única escola, uma só bateria
quem vai ser jurado? Ninguém gostaria
que desfile assim não vai ter nada igual
Não tem órgão oficial, nem governo, nem Liga
nem autoridade que compre essa briga
ninguém sabe a força desse pessoal
melhor é o Poder devolver à esse povo a alegria
senão todo mundo vai sambar no dia
em que o morro descer e não for carnaval.
Fonte: Centro de Memória Sindical
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