Falar de cinema sempre rende um bom papo. E, para quem gosta, fazer recortes temáticos é uma diversão instigante. Hoje, por exemplo, dia 25 de janeiro, aniversário de São Paulo, é um bom pretexto para listar em filmes que retratam a cidade.
Lancei essa pergunta na minha página do Facebook, já indicando São Paulo, Sociedade Anônima (de 1965, Luís Person) como minha principal referência.
Logo vieram outras:
Noite Vazia (1964, de Walter Hugo Khouri)
O Bandido da Luz Vermelha (1968, de Rogério Sganzerla)
Pixote, a Lei do Mais Fraco (1981, de Héctor Babenco)
Eles Não Usam Black Tie (1981, de Leon Hirszman)
O País dos tenentes (1987, de João Batista de Andrade)
Cidade oculta (1986, de Chico Botelho)
Ação entre amigos (1998, de Beto Brant)
Boleiros (1998, de Ugo Giorgetti)
Carandiru (2003, de Héctor Babenco)
Estômago (2007, de Marcos Jorge)
Que Horas Ela Volta (2015, de Anna Muylaert)
Racionais, das ruas de São Paulo pro Mundo (2022, de Juliana Vicente)
Acrescentaria ainda:
Gaijin, os caminhos da liberdade (1980, de Tizuka Yamasaki), que embora se passe em uma fazenda de café no interior do Estado, tem um desfecho na cidade, em meio a uma greve operária que, pela época, pode ser a Greve Geral de 1917. E que também é muito importante por abordar a imigração japonesa, um processo essencial para a formação da identidade paulistana.
Durval Discos (2002, Anna Muylaert), um filme que traz uma dimensão cultural e que circula por uma São Paulo mais alternativa, mas que também mostra, em suas relações confusas, a ansiedade e a melancolia típicas desta cidade.
E, no campo dos documentários, Botinada, A Origem do Punk no Brasil (2006, de Gastão Moreira) sobre o surgimento de uma contracultura nas periferias proletárias, rodeadas por fábricas, (a maioria já desativadas) e pelo comércio popular.
Minha primeira referência, São Paulo Sociedade Anônima, que assisti pela primeira vez no Centro Cultural Vergueiro, no aniversário de 450 de São Paulo, em 2004, é um filme ousado. Ele aborda um operário em crises existencial de forma elegante e sensível, sem chavões e, principalmente, sem ser panfletário, algo que destrói qualquer filme. Ele é, ao mesmo tempo, Fellini, Godard e Monicelli. Person, em uma palavra.
O diretor correu riscos ao dar profundidade a personagens moldados pelo trabalho e em uma cidade que explodia, e ganhou a aposta criando um filme que traz ao mesmo tempo questões psicológicas e de relacionamento, e o crescimento da cidade com seu movimento contínuo e intrincado. Um belo retrato em preto e branco.
De Gaijin a Que horas ela volta, a seleção que resultou das contribuições voluntárias de amigos da rede social, cobre o período em que o crescimento da cidade foi mais intenso. No conjunto os filmes revelam as contradições da megalópole: uma cidade pulsante, caótica, moderna, acolhedora, generosa, opressora, desafiadora e com muita história. Tratam da memória traumática da ditadura militar, da vida operária, das greves operárias, do lazer e do encontro entre velhos amigos, da desigualdade, da discriminação, da criminalidade onipresente, da violência, da marginalização, da presença massiva de nordestinos que chegaram em São Paulo em busca de trabalho, da dialética que se impõe entre centro e periferia.
Mais do que um centro comercial e econômico, a São Paulo é inspiração para refletir e expressar a condição humana no estado mais radical da relação capital/trabalho.
Carolina Maria Ruy é jornalista e pesquisadora