PUBLICADO EM 10 de ago de 2022

Venezuelanos vão às ruas para exigir liberação de bens estatais bloqueados no exterior

Manifestantes pedem devolução da refinaria Citgo, de avião retido na Argentina e das reservas de ouro na Inglaterra

Ato contou com a participação de sindicatos e movimentos populares contra o bloqueio – PSUV

Sindicatos e movimentos populares venezuelanos foram às ruas de Caracas nesta terça-feira (09) para exigir a liberação de bens estatais que estão bloqueados no exterior.

Os manifestantes percorreram avenidas da capital e concentraram suas reivindicações nos casos da refinaria Citgo, nos EUA, de avião retido na Argentina e das reservas de ouro que estão presas no Banco da Inglaterra.

Pela manhã, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, havia reiterado a convocatória feita pelo governo. “A Venezuela marcha hoje pela defesa e pelo resgate dos bens nacionais ilegalmente retidos e sequestrados. Queremos eles de volta. Devolvam o ouro, a Citgo, o avião e o dinheiro que pertence ao povo. Exigimos respeito”, afirmou o mandatário.

Nesta segunda-feira (08), Maduro já havia prometido iniciar uma campanha pela liberação dos ativos venezuelanos que contaria com “todas as nossas armas comunicacionais, sociais e políticas”.

O caso do Boeing 747

O presidente do partido governista PSUV, Diosdado Cabello, também mencionou o bloqueio dos bens da Venezuela na segunda-feira (8) e fez críticas ao governo argentino pela retenção de um avião venezuelano no país que já dura dois meses.

“O avião é da Venezuela e está sequestrado pelo governo do presidente [Alberto] Fernández, que é o único responsável pelo que pode ocorrer com esse avião e com a tripulação venezuelana”, disse Cabello.

Um Boeing 747 pertencente à empresa venezuelana Emtrasur, filial da estatal Conviasa, pousou no aeroporto de Ezeiza, na Argentina, no dia 6 de junho. De tipo cargueiro, o avião estava ocupado por uma tripulação de 19 pessoas, transportava peças de automóveis e tinha como destino o Uruguai .

No dia 8 de junho, a aeronave foi impedida de decolar pela Justiça argentina e os passaportes da tripulação foram retidos.

O caso representou mais um episódio de cerceamento de atividades e bloqueio de bens venezuelanos por conta das sanções dos EUA contra o país, já que tanto a estatal da Venezuela Conviasa quanto a empresa iraniana Mahan Air, que vendeu o avião à Emtrasur, estão sancionadas por Washington.

No último dia 2 de agosto, o Departamento de Justiça dos EUA pediu ao governo argentino que confisque a aeronave venezuelana pelas supostas “violações de leis de controle de exportações dos Estados Unidos”.

Nesta segunda, a Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (Alba-TCP) condenou a decisão de Washington e chamou a detenção do avião de “ilegítima e ilegal”.

“A Aliança repudia a manutenção das medidas coercitivas unilaterais contra o povo e o governo venezuelanos e faz um novo chamado à comunidade internacional para exigir o fim dessas medidas”, afirmou a organização em nota.

O ministro do Transporta da Venezuela, Ramón Velásquez Araguayán, participou da marcha realizada em Caracas nesta terça ao lado de trabalhadores da Conviasa e destacou que a detenção do avião da Emtrasur na Argentina viola os convênios internacionais sobre aviação.

“Há meses, nossos pilotos e tripulantes foram taxados de terroristas. Eles não são terroristas, não estão fazendo espionagem e muito menos são procurados pela Interpol”, afirmou o ministro.

O presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Jorge Rodríguez, também esteve presente no ato e afirmou que o bloco de deputados governistas no Legislativo trabalhará para defender “com todos os recursos possíveis nosso avião sequestrado e para que nossos compatriotas voltem ao país”. “Aqui há um rio de gente que se levanta contra as sanções, que se levanta contra o bloqueio, que se levanta contra a agressão à nossa empresa Conviasa”, afirmou o parlamentar.

Ouro e Citgo sob controle de Guaidó

As outras principais reivindicações dos protestos desta terça foram a liberação das 31 toneladas de ouro, equivalentes a US$ 1,9 bilhão (R$ 9,83 bilhões), presas no Banco da Inglaterra e a devolução da refinaria Citgo ao Estado venezuelano.

Ambos os recursos foram bloqueados por conta do reconhecimento dos governos de EUA e Reino Unido da presidência fictícia do ex-deputado Juan Guaidó.

As reservas de ouro da Venezuela estão congeladas há mais de dois anos em Londres porque a Justiça britânica não reconhece a autoridade do Banco Central venezuelano sobre os fundos. Ao contrário, os tribunais aceitam a existência de um “Banco Central” nomeado por Guaidó e alegam que esse suposto órgão deveria ser o responsável por gerir o ouro.

Em julho, a Justiça britânica voltou a dizer que a autoridade do opositor é “legítima”, ainda que não tenha liberado o acesso da oposição às reservas venezuelanas. O governo Maduro prometeu recorrer.

Já a rede de refinarias Citgo, que fica nos EUA e pertence à estatal petroleira da Venezuela PDVSA, é controlada por opositores nomeados por Guaidó com aval da Justiça estadunidense desde que o ex-deputado se autoproclamou “presidente”. A empresa está avaliada em US$ 8 bilhões e nos últimos anos esteve sob ameaça de ser vendida para sanar dívidas da PDVSA com credores internacionais.

Fonte: Brasil de Fato | Caracas (Venezuela)

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