Vamos celebrar a Cultura Popular Brasileira! Chegou o período das Festas Juninas. Saiba mais sobre esta festa!
Vamos celebrar a Cultura Popular Brasileira! Arquivo: Fotos Públicas
Expressão máxima da cultura popular brasileira, as Festas Juninas reúnem tradição, comida típica e muita música, dança, decoração, vestimenta, jogos e brincadeiras.
História
A origem da festa junina é pagã. Antes da Idade Média, povos camponeses europeus se juntavam em determinado período do ano para celebrar a colheita e pedir proteção.
“As pessoas se reuniam em volta de grandes fogueiras e dançavam para as entidades da natureza em rituais de fertilidade e agradecimento, daí vem o costume de acender fogueiras nas festas juninas”, explica a arte-educadora Laura Aidar. A fogueira “simboliza a proteção contra os maus espíritos”, reforça a professora Márcia Fernandes, licenciada em Letras.
Na idade média, a igreja católica buscou converter as pessoas para o cristianismo incorporando elementos e rituais pagãos. Foi assim que a festa da colheita transformou-se em um evento para homenagear Santo Antônio, São João e São Pedro.
A festa junina chegou ao Brasil com os portugueses, no século 16, na época da “colonização”. Em Portugal, a festa tinha o nome de joanina. “Possivelmente pelo fato de acontecer em junho ou talvez por causa de São João, que é o principal santo da comemoração – motivo pelo qual as festas juninas também são chamadas de Festa de São João”, diz Márcia Fernandes. Com o tempo, passou a mesclar elementos de outras culturas.
A quadrilha tem origem inglesa e posteriormente nas danças nobres francesas, o “pau de fita”, dança que se realiza segurando uma fita de cetim em volta de um mastro de madeira, vem da península ibérica e o costume de soltar balões (hoje proibido no Brasil, por questões de segurança) vem de Portugal.
A comemoração também sofreu influências das culturas africanas e indígenas. Por isso, ela possui características peculiares em cada parte do Brasil.
Quadrilha Junina
Nas festas juninas ouve-se e dança-se a música caipira/sertaneja raiz, o forró e o baião. A dança típica é a quadrilha, com os casais vestidos de caipiras em uma coreografia chamada de casamento caipira, em homenagem a Santo Antônio, o santo casamenteiro.
Os homens costumam vestir camisas xadrez, usar chapéus de palha e desenhar bigodes ou cavanhaques no rosto. As mulheres usam vestidos coloridos, maquiagem e costumam fazer tranças ou maria-chiquinha no cabelo.
Em grandes festivais e concursos de quadrilhas, as características mais simples e caipiras costumam ser deixadas de lado para dar lugar à sofisticação exigida em competições, assim como ocorre nos desfiles das grandes escolas de samba no Carnaval.
Na quadrilha junina há um orador, também chamado de marcador ou animador, para dizer frases que determinam os movimentos da dança: “Olha a cobra!”, “É mentira!”, “Olha a chuva!”, “Já passou!”, “A ponte quebrou!”, “Nova ponte!”, “O caminho da roça”.
Personagens
Os personagens mais importantes são o noivo e a noiva, o padre, o pai da noiva, o juiz e o delegado e os passos da quadrilha são os cumprimentos, o balancê, o passeio pela roça, o túnel, a coroação, o casamento e a despedida.
O casamento na roça é uma encenação divertida, que pode ser improvisada livremente, de um casório entre uma noiva grávida e um noivo que pretende fugir do altar, mas o sogro o ameaça com um espingarda (de brinquedo) e o obriga a casar.
Passos da Quadrilha Junina
CAMINHO DA FESTA: os noivos ficam na frente da fila. Os pares ficam de braços dados, as damas à esquerda dos cavalheiros. Os pares entram.
ANARRIÊ: as damas e os cavalheiros se separam formando duas colunas.
OS CAVALHEIROS CUMPRIMENTAM AS DAMAS: eles se aproximam das damas cumprimentando-as. Flexionam o tronco, mantendo a cabeça erguida e voltam a seus lugares caminhando de costas.
AS DAMAS CUMPRIMENTAM OS CAVALHEIROS: agora é a vez das damas irem até os cavalheiros para cumprimentá-los. Elas também voltam de costas para os seus lugares.
SAUDAÇÃO GERAL: tanto as damas quanto os cavalheiros andam para a frente e se cumprimentam.
BALANCÊ: damas e cavalheiros balançam os braços naturalmente.
PREPARAR PARA O GALOPE: a noiva e o noivo se encontram e saem de mãos dadas para o alto pulando de lado até o final da fila. Todos os casais fazem assim até os noivos voltarem a ser os primeiros.
OLHA O TÚNEL: as damas de frente para os cavalheiros elevam os braços para cima e de mãos dadas fazem o túnel. Os primeiros a passar pelo túnel são os noivos e os outros vão em seguida e formam os pares para começar a formar a roda.
OLHA O GRANDE PASSEIO: começam a formar a roda as damas para o lado de dentro.
DAMAS AO CENTRO: as damas formam a roda e giram e os cavalheiros também.
COROA DE ROSAS: os cavalheiros, de mãos dadas, erguem os braços na vertical sobre a cabeça das damas, como se as coroassem. Depois abaixam os braços passando-os pela frente, até a altura da cintura, girando para a esquerda ou para direita.
DESCOROAR: os cavalheiros tiram os braços e formam a roda.
DAMAS PROCURAM SEUS CAVALHEIROS: os cavalheiros param e as damas continuam rodando até encontrar o seu par, parando à esquerda do seu cavalheiro.
CARACOL: as damas e os cavalheiros formam uma grande roda. A noiva solta uma das mãos do noivo e vai puxando os outros para dentro da roda. Todos devem estar de mãos dadas, formando o caracol. Chegando ao centro, a noiva faz o caminho de volta. Formando novamente a grande roda.
CAMINHO DA ROÇA: um anda atrás do outro com as mãos para trás e o corpo um pouco curvado para a frente.
OLHA A CHUVA: todos dão meia-volta (viram para o outro lado) e colocam a mão na cabeça.
JÁ PASSOU: todos dão meia-volta novamente e dizem “ah!”.
OLHA A COBRA: todos pulam, gritam e dão meia-volta.
JÁ MATARAM: todos dão meia-volta novamente e dizem “ah!”.
A PONTE QUEBROU: todos dão meia-volta novamente.
JÁ CONSERTOU: voltam a dançar no outro sentido e dizem “ah!”.
PREPARAR PARA O VIVA: todos em roda dão as mãos e sempre que disserem “VIVA” vão para o centro da roda e erguem os braços e gritam “VIVA”.
VIVA OS NOIVOS: “Viva!”.
VIVA OS CONVIDADOS: “Viva!”, e vão falando outros vivas.
PREPARAR PARA O GRANDE BAILE: cada dama pega o seu par e os dois começam a dançar juntos.
O GRANDE BAILE ESTÁ ACABANDO, VAMOS NOS DESPEDIR DO PESSOAL: os pares começam a dançar juntos.
AGORA, A DESPEDIDA: em fila os pares vão se despedindo dos convidados. As damas acenam com as mãos e os cavalheiros com os chapéus, encerrando-se assim os passos de quadrilha.
Músicas e interpretações sugeridas
Para quem planeja fazer uma quadrilha tradicional, com músicos ao vivo, os principais instrumentos musicais utilizados são a viola, o violão, a sanfona, o triângulo e a zabumba. Tudo, porém, pode mudar de região por região, inclusive com a incorporação de músicas não tradicionais, contemporâneas, mas que igualmente animam a festa. Se a apresentação ao vivo com músicos não for viável, a criação de trilhas sonoras pode ser uma alternativa interessante.
Festa na Roça – Mário Zan; Cai, Cai, Balão – Assis Valente; Chegou a Hora da Fogueira – Lamartine Babo; Antônio, Pedro e João – Benedito Lacerda/Oswaldo Santiago; São João do Carneirinho – Luiz Gonzaga; Isso é lá com Santo Antônio (Matrimônio! Matrimônio!) – Lamartine Babo; O Sanfoneiro Só Tocava Isso – Haroldo Lobo/Geraldo Medeiros; Esperando na Janela – Targino Gondim/Raimundinho do Acordeon/Manuca Almeida. Intérprete: Gilberto Gil; Capelinha de Melão – Braguinha/Alberto Ribeiro; Olha Pro Céu – Luiz Gonzaga/José Fernandes; Moreninha Linda – Tonico/Priminho/Maninho; Você Não Vale Nada – Dorgival Dantas; Pagode Russo – Luiz Gonzaga/João Silva. Quadrilha Brasileira – Gerson Filho/José Maria de Aguiar Filho; Pula a Fogueira – Getúlio Marinho (Amor)/João Bastos Filho; Pedras que Cantam – Dominguinhos/Fausto Nilo; Mastro de São João – Arraial do Pavulagem; Isso Aqui Tá Bom Demais – Nando Cordel/Dominguinhos; O Xote das Meninas – Zé Dantas/Luiz Gonzaga; São João É Isso – Jackson do Pandeiro; O maior tocador – Luiz Guimarães. Intérprete: Luiz Gonzaga; São João na Roça – Luiz Gonzaga/Zé Dantas. Intérprete: Cia Cabelo de Maria; Noites brasileiras – Luiz Gonzaga Zé Dantas. Intérpretes: Gonzagão, Gonzaguinha e Fagner; Brincadeira na fogueira – Antônio Barros. Intérprete: Trio Nordestino; São João na estrada – Moraes Moreira; São João nas capitá – Luiz Gonzaga/Luiz Ramalho; Bomba de São João – Ricardo Trip. Intérprete: Peixelétrico; Balão Dourado – Wadinho Marques/Jonny. Intérprete: Trio Virgulino; Feijoada – Sivuca; O tempo e o vento – Don Tronxo Lula Cortes. Intérprete: Alceu Valença; Espumas ao vento – Flávio José.
Artistas da chamada MPB também se inspiraram e fizeram canções sobre o tema. Não deixe de ouvir: Prova de Fogo (Lenine/Zé Rocha), Festa do Interior (Moraes Moreira/Abel Silva) e São João, Xangô menino (Gilberto Gil/Caetano Veloso), entre outras que valem a pena pesquisar e curtir.
Período das Festas
Os festejos iniciam-se no dia 12 de junho, véspera de Santo Antônio, tem seu auge na noite de 23 para 24 (dia de São João) e termina no dia 29 (dia de São Pedro). No dia 13 de junho, costuma-se distribuir o pãozinho de Santo Antônio
O dia 13 de junho é também o Dia do Padeiro (Dia do Trabalhador da Categoria), quando as padarias e empresas do setor de panificação e confeitaria devem pagar um abono aos trabalhadores e trabalhadoras conforme os acordos coletivos firmados com o Sindicato dos Padeiros de São Paulo.
A decoração com bandeirinhas era inicialmente estampada com figuras de santos e hoje é uma maneira tradicional de colorir a festa. Com relação aos formatos das fogueiras, para Santo Antônio é quadrada, para São João é redonda e para São Pedro é triangular. O mastro representa com imagens, bandeiras ou fitas coloridas os três santos populares: São João, Santo Antônio e São Pedro.
Comes e bebes
No Brasil, a festa junina tem como culinária típica as comidas feitas de milho: bolo de milho, cuscuz, pamonha, curau, espiga de milho cozido, mingau de milho e pipoca. “Ainda é uma forma de celebrar a colheita desse alimento”, destaca Laura Aidar.
Outras comidas e bebidas tradicionais e /ou regionais: paçoca, pé de moleque, canjica, maça do amor, cachorro-quente, cocada, arroz-doce, pinhão, tapioca, broa e bolo de fubá, bolo de amendoim, salsichão, churrasco, arroz carreteiro, feijão tropeiro, pão de queijo, mungunzá, caruru, baião de dois, tacacá com tucupi, maniçoba, vatapá do Norte, bolo e broa de macaxeira (mandioca), caruru, vinho quente, quentão etc.
Jogos e brincadeiras
São inúmeros os jogos e brincadeiras: pescaria; correio elegante; cadeia; tomba lata (tiro ao alvo); argolas; boca do palhaço; corrida de saco; corrida de carrinho de mão; cabo de guerra; corrida do milho; dança da laranja; corrida do ovo; corrida de três pernas; pau de sebo; saltar a fogueira; simpatias.
Onde rola a festa?
A festa junina hoje no Brasil é realizada tanto em pequenos espaços (quintais, terreiros, escolas, ruas, clubes e colônias de férias etc.) quanto em grandes eventos, se estendendo às vezes para julho.
São muito famosas as festividades no Nordeste. A de Campina Grande (Paraíba) é considerada a maior festa de São João do mundo.
Também se destacam a de Caruaru (Pernambuco), São Luís (Maranhão), Mossoró (Rio Grande do Norte), Teresina (Piauí) e outras cidades e regiões, que reúnem muitas pessoas vindas de vários lugares, contribuindo para a economia e a valorização da cultura popular brasileira.
Viva a cultura popular!
“O Sindicato dos Padeiros de São Paulo valoriza muito a cultura popular brasileira, defende a preservação da festa junina no País e, através desta pesquisa, visa contribuir com mais conhecimento sobre o tema, e sobre quem somos, e incentivar as pessoas a participarem e/ou organizarem seus próprios festejos. Boas festas para todos e todas!”, diz Chiquinho dos Padeiros, presidente do Sindicato dos Padeiros de São Paulo e da Febrapan (Federação Brasileira dos Trabalhadores nas Indústrias de Panificação, Confeitarias e Padarias) e Secretário Nacional de Organização, Formação e Políticas Sindicais da UGT.
Pesquisa, redação e edição: Susana Buzeli – Assessora de Imprensa do Sindicato dos Padeiros de São Paulo
Enciclopédia Larousse Cultural
Laura Aidar – Arte-educadora, artista visual e fotógrafa. Licenciada em Educação Artística pela Universidade Estadual Paulista e formada em Fotografia pela Escola Panamericana de Arte e Design.
Márcia Fernandes – Professora, produz conteúdos educativos de língua portuguesa e relacionados a datas comemorativas. Licenciada em Letras pela Universidade Católica de Santos e formada no Curso de Magistério.
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