O Instituto utilizou nessa análise os parâmetros do Banco Mundial de US$1,90 para extrema pobreza e US$ 5,50 para a pobreza, em termos de Poder de Paridade de Compra a preços internacionais de 2011, dentre outras linhas de pobreza utilizadas para diferentes propósitos no país.
“Quando falamos de pobreza, nesse estudo, estamos nos referindo à pobreza monetária, ou seja, por insuficiência de renda, sem considerar outras dimensões, como acesso à educação, saúde e moradia adequada”, ressalta Barbara Cobo, analista do IBGE.
A incidência de extrema pobreza em 2020 ficou estável quando comparada a 2012, início da série, aumentou frente a 2014, ano com menor nível no indicador, e caiu em relação a 2019. Já a proporção de pessoas em situação de pobreza em 2020 caiu em relação a 2012, ficou estável frente a 2014 e reduziu-se em comparação a 2019.
“É importante frisar que esse comportamento foi muito diferente regionalmente. Considerando a linha de US$ 5,50, por exemplo, Norte e Nordeste tiveram quedas em relação a 2019, enquanto Sul, Sudeste e Centro-Oeste apresentaram estabilidade. O comportamento Brasil foi muito influenciado pelo que aconteceu nas regiões Norte e Nordeste”, destaca Cobo.
Pela primeira vez, o IBGE avaliou o impacto dos programas sociais na incidência de pobreza e extrema pobreza no país. Em um cenário hipotético sem o pagamento de benefícios, de 2012 a 2019, a proporção de pessoas nessas condições estaria num patamar de 2 a 3 pontos percentuais mais elevado, mas o comportamento do indicador seria o mesmo.
Porém, em 2020, ano afetado pela pandemia de coronavírus, o impacto da concessão de programas sociais se intensifica: a diferença de patamar com e sem os benefícios seria de 7,2 pontos percentuais para extrema pobreza e 8,0 pontos percentuais para pobreza. Além disso, haveria uma inversão no comportamento do indicador em relação ao ano anterior, e a proporção de pessoas em extrema pobreza e pobreza teria aumentado ao invés de diminuído.
Para Cobo, isso mostra que, “de fato, os benefícios emergenciais serviram de colchão de amortecimento para os impactos mais severos da crise sobre a população mais vulnerável, incorporando os beneficiários do Bolsa-Família e ampliando o público-alvo elegível ao recebimento. O valor inicial do Auxílio Emergencial de R$600, por exemplo, foi três vezes superior ao valor médio do benefício do Bolsa-Família praticado logo antes da pandemia e, por isso, o impacto no rendimento domiciliar foi muito maior.”
Metade das pessoas em extrema pobreza vive no Nordeste
Nordeste foi a grande região que concentrou a maior parte das pessoas vivendo em situação de extrema pobreza e pobreza. Apesar de responder por 27,1% da população brasileira, quase a metade (49,4%) das pessoas em extrema pobreza e 45,5% das pessoas em pobreza viviam na região.
Na comparação com 2019, a incidência extrema pobreza caiu nas regiões Norte (de 11,9% para 8,5%), Nordeste (de 14,2% para 10,4%), ficou estável no Sudeste (de 3,3% para 3,6%) e Centro-Oeste (de 2,8% para 2,9%) e aumentou na região Sul (de 2,3% para 2,8%).
“Os rendimentos no Norte e no Nordeste são historicamente inferiores àqueles observados no Sul e no Sudeste e, com o Auxílio Emergencial concedido em um valor nacional único, o impacto sobre a renda tende a ser mais expressivo nessas regiões. E é lá onde estão os maiores graus de informalidade, ou seja, são mais pessoas atendidas também”, esclarece Cobo.
Índice de Gini de 2020 passaria de 0,524 para 0,573 sem os programas sociais
O índice de Gini, indicador que mede a desigualdade na distribuição de renda, ficou em 0,524 em 2020, registrando queda de 3,7% em relação a 2019 (0,544). Sem os programas sociais, no entanto, o índice de Gini de 2020 seria de 0,573, com aumento de 2,3% em relação a 2019 (0,560). No Nordeste, sem os benefícios, o índice de Gini aumentaria 4,5%, passando de 0,598 em 2019 para 0,625 em 2020, enquanto com os benefícios o índice caiu 6,1% (de 0,560 para 0,526).
Fonte: IBGE
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