PUBLICADO EM 31 de mar de 2025

Trabalhadores postais nos EUA contra privatização: “Lutem como o diabo!”, dizem

Trabalhadores postais se uniram em Chicago para protestar contra os planos de privatização do Serviço Postal dos EUA.

Trabalhadores postais e ativistas participam de um comício organizado pela National Association of Letter Carriers na Federal Plaza em Chicago, Illinois, domingo, 23 de março de 2025. Foto: Roberta Wood/People´s World

Trabalhadores postais e ativistas participam de um comício organizado pela National Association of Letter Carriers na Federal Plaza em Chicago, Illinois, domingo, 23 de março de 2025. Foto: Roberta Wood/People´s World

Por Brandon Chew

Trabalhadores postais sindicalizados se reuniram na Federal Plaza, em Chicago, para denunciar os planos do governo Trump de retirar o status independente do Serviço Postal dos EUA (USPS) e condenar os apelos de Elon Musk para privatizar a agência.

Esse foi um dos vários protestos “Lutem como o diabo!” organizados em todo o país no domingo pela Associação Nacional de Carteiros (NALC, na sigla em inglês). O evento ocorreu poucos dias após o Dia Nacional de Ação do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios dos EUA (APWU), contra a tentativa do governo Trump de uma “tomada hostil e ilegal” do Serviço Postal.

A manifestação aconteceu uma semana depois de o Diretor-Geral dos Correios, Louis DeJoy, anunciar planos para cortar 10.000 funcionários nos próximos 30 dias, por meio de um programa voluntário de aposentadoria antecipada. O anúncio de DeJoy inclui o corte de bilhões de dólares no orçamento da agência, em colaboração com o Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) de Elon Musk.

DeJoy, um doador do Partido Republicano que possuía uma empresa de logística sem sindicato antes de ser nomeado para o cargo em 2020, afirmou que pretende deixar sua função atual.

“Precisamos manter o Serviço Postal público”, disse Keith Richardson, presidente do APWU da Área de Chicago Local 1. “Ele pertence ao povo. Não pertence às corporações”, acrescentou Richardson. “Se os bilionários colocarem as mãos no Serviço Postal, ele não existirá da forma que conhecemos.”

No mês passado, Trump afirmou que está considerando fundir o Serviço Postal com o Departamento de Comércio dos EUA. Essa medida — que exigiria aprovação do Congresso — enfraqueceria a Lei de Reorganização Postal de 1970, que impede o presidente de ter jurisdição direta sobre as operações do serviço postal. O USPS registrou um prejuízo líquido de US$ 9,5 bilhões no ano fiscal de 2024, mas reportou um lucro de US$ 144 milhões no quarto trimestre deste mês.

“Queremos um serviço postal eficiente e que não gere enormes prejuízos”, disse Trump. “Estamos pensando em fazer isso, será uma espécie de fusão, mas continuará sendo o Serviço Postal, e acho que funcionará muito melhor do que nos últimos anos. Tem sido um grande prejuízo para este país.”

Como relatado anteriormente pelo People’s World, a privatização do serviço postal poderia colocar em risco os empregos de 640.000 trabalhadores sindicalizados e gerar US$ 81 bilhões para Wall Street com a venda de prédios e terrenos “excedentes”, de acordo com um estudo da Wells Fargo Securities.

Negros, latinos, mulheres

A maioria dos trabalhadores do USPS são pessoas negras, latinas, mulheres ou ambas. O serviço postal, assim como os governos federal, estadual e local, tem sido um caminho para empregos melhores e muitas vezes sindicalizados para trabalhadores que enfrentaram discriminação no setor privado.

Em 2018, durante o primeiro mandato de Trump, um relatório do Departamento do Tesouro concluiu que a privatização do serviço postal afetaria negativamente o acesso ao correio em comunidades rurais. Essa preocupação foi reforçada por muitos que participaram da manifestação de domingo.

“É um serviço essencial, que atende a todas as pessoas neste país, seja no centro de Chicago ou na estrada mais remota de Illinois”, disse Holly Kim, tesoureira do condado de Lake.

Muitos alertaram que os serviços não apenas seriam reduzidos, mas também se tornariam mais caros caso o serviço postal fosse privatizado.

“Seria um grande impacto, não apenas pela perda potencial de empregos, mas também pelo aumento dos preços”, disse Monet S. Wilson, vereadora do 2º distrito de Calumet City.

“Sempre que um serviço é privatizado, os preços aumentam para o consumidor médio”, acrescentou Wilson. “Meus eleitores que vivem com renda fixa teriam dificuldades para receber seus remédios pelo correio. Muitos deles são idosos. Nem todos têm um computador em casa, o que limita a comunicação que podem receber. Pequenos negócios também seriam afetados.”

Outros políticos também discursaram no evento, incluindo o senador democrata Dick Durbin, de Illinois, e o prefeito de Chicago, Brandon Johnson, que relacionou a luta dos trabalhadores postais à de outros servidores públicos cujos empregos estão ameaçados pelo DOGE de Musk. O bilionário, que é o homem mais rico do mundo e assessor do presidente Trump, pediu neste mês a privatização do Serviço Postal e da Amtrak.

“Eles precisam ouvir, de costa a costa, que vamos garantir a proteção de todos os nossos serviços públicos”, disse o prefeito Johnson. “Seja o correio, a educação, a justiça ou o meio ambiente, estamos lutando pelo povo trabalhador deste país.”

A manifestação também incluiu pedidos para que os cidadãos se envolvam na defesa do serviço postal e de outras agências federais, seja por meio de organização popular ou entrando em contato com representantes locais, estaduais e federais.

“As pessoas precisam parar de ser meros espectadores. Há muita gente sentada nos bares ou nos sofás assistindo a tudo isso sem agir. Elas precisam se levantar, se envolver e se manifestar”, disse Don Villar, secretário-tesoureiro da Federação do Trabalho de Chicago.

“Precisamos trabalhar juntos”, acrescentou Villar. “Precisamos educar o público, informar as pessoas sobre o que está em jogo. Quando as pessoas descobrem o que está acontecendo, elas reagem e percebem: ‘Espere, isso não pode acontecer!’ Esses são serviços essenciais. Todos nós dependemos deles de alguma forma.”

Quem quiser apoiar os trabalhadores dos serviços públicos em sua comunidade pode acessar http://www.savepublicservices.com, um site patrocinado pela Rede de Sindicalistas Federais.

Esta reportagem inclui declarações coletadas pelo Chicago Tribune e pela ABC7 Chicago. 

Brandon Chew é um jornalista do norte de Michigan.

Texto traduzido do People´s World por Luciana Cristina Ruy

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