No prefácio de 1996 do livro “Uma breve história do tempo” (a primeira edição é de 1982), o físico Stephen Hawking, que faleceu nesta quarta-feira (14), aos 76 anos, em sua casa, na Inglaterra, afirma que:
“Ninguém – nem meus editores, nem meu agente, nem eu mesmo – esperava que o livro fosse tão bem-sucedido. Ele permaneceu na lista dos mais vendidos do Sunday Times londrino por 237 semanas. (…) Já foi traduzido para mais ou menos quarenta idiomas e vendeu cerca de um exemplar para cada 750 homens, mulheres e crianças no planeta. É como Nathan Myhrvold (um antigo pós-doutorando meu) comentou: vendi mais livros sobre física do que a Madonna sobre sexo”.
A frase bem humorada, em um livro sobre ciência, é a cara de Hawking. Pura simpatia. O surpreendente é que, quando o publicou ele já convivia com a esclerose lateral amiotrófica (diagnostica aos 21 anos, em 1962) há vinte anos (e, como consequência, já tinha perdido a capacidade de falar e se mover). O livro, que vendeu mais de 10 milhões de cópias e projetou o cientista mundialmente, para além do círculo de físicos renomados, é resultado de seus importantes trabalhos sobre a origem e o funcionamento do universo.
É uma tradução de complicadas teorias, baseadas em teses filosóficas e matemáticas, para uma linguagem simples, compreensível à todos aqueles interessados em questões como “de onde viemos?”, e “por que o universo é do jeito que é?” (Suas obras seguintes incluem “O Universo numa Casca de Noz (2001)”, “Uma Nova História do Tempo (2005)”, além de livros infantis sobre o universo).
A história do homem por trás deste trabalho – o Stephen Hawking – está retratada no filme “A Teoria de Tudo”. O filme cumpre um papel importante ao falar sobre a vida, pouco conhecida, do físico. Sua dedicação integral ao trabalho é colocada como uma sublimação de sua peculiar condição física. Além disso, o filme reforça o apoio de amigos, da família e de sua primeira esposa, Jane, na vida e no sucesso de Hawking.
Tanto a capacidade de ter se tornado um dos principais cientistas contemporâneos, apesar das limitações de sua doença, quanto a generosidade, rara entre os cientistas, em se preocupar com que suas ideias sejam acessíveis ao maior número de pessoas, marcam a trajetória de Hawking.
Ele acredita que deve haver uma fórmula capaz de descrever, explicar e prever as ações do universo. Daí o nome “A teoria de tudo”. Em sua biografia “tudo” é a amizade, o companheirismo, o amor, a simplicidade, a doença, a ciência, o trabalho e a pesquisa, embalados pela questão fundamental da condição humana: qual o sentido de tudo isso?
Baseado nesta história inspiradora o filme é, desta forma, uma homenagem à vida e à paixão pelo conhecimento.
Veja o trailer:
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Carolina Maria Ruy é jornalista, coordenadora de projetos do Centro de Memória Sindical