Moisés Selerges foi eleito para Comissão de Fábrica em 1989. De lá para cá foi coordenador da Comissão; coordenou a Regional São Bernardo; tornou-se diretor de Organização do Sindicato, foi diretor administrativo e secretário-geral. Tomou posse como presidente dos Metalúrgicos do ABC no último dia 29 e nesta entrevista fala sobre sua trajetória e os desafios do mandato. Confira:
Como você se tornou metalúrgico?
Moisés – A primeira metalúrgica que trabalhei foi a Tratec, sou formado em ajustagem mecânica, mas nunca exerci a profissão. Depois trabalhei na Lares, aliás trabalhei um bom tempo sem registro e fui mandado embora por conta de uma greve.
Como foi isso?
Moisés – O chefe pedia pra gente ficar até mais tarde, só que ele não pagava hora extra. Lembro que foi na hora do almoço, eu estava articulando com o pessoal, combinamos que ninguém voltaria para o trabalho. Almoçamos e ficamos todos sentados na calçada em frente à fábrica. Quando o patrão perguntou o motivo, dissemos que se ele não pagasse as horas extras não trabalharíamos até mais tarde. Ele ameaçou que mandaria todo mundo embora caso não voltássemos, todo pessoal voltou, só ficou eu, meu irmão e mais um companheiro, aí fomos mandados embora. Nessa época eu não sabia nem o que era sindicato, só queria meu direito.
Como você entrou na Mercedes?
Moisés – Quem arrumou para mim foi meu pai, ele entrou lá em 1966 e ficou 21 anos. Eu entrei na linha de montagem pintando o quadro do chassi. Entrei em 1985 na Mercedes e em 1989 no Sindicato.
E como e por que você entrou pro Sindicato?
Moisés – Por pressão do pessoal na fábrica, na época eu não ligava para isso. Tinha um cara da comissão de fábrica, o Bezerrinha, que estava procurando alguém para entrar com ele, pois era um titular e um suplente para cada área. O pessoal pedia para me chamar, porque eu falava muito eu ia para cima. A peãozada fez pressão e o chefe da época também me pressionou para ir. Ele disse que o nosso Sindicato era o mais importante do Brasil e que eu não iria crescer muito dentro da fábrica, mas que no Sindicato eu cresceria. Faltavam dois dias para encerrar a inscrição de chapa e o Bezerrinha não tinha encontrado um parceiro, então topei. Para inscrever uma chapa tinha que colher 50 assinaturas de apoio, quando decidimos nos inscrever, só para inscrição ele recolheu 575 assinaturas.
Se tornar presidente do Sindicato era um sonho?
Moisés – Não, não me passava pela cabeça ser presidente, eu queria ajudar o Sindicato, queria ajudar a luta dos trabalhadores. Não importava o cargo que eu estivesse ou onde eu estivesse, eu queria somente ajudar. Eu não ficava pensando se queria ser diretor ou coisa assim. Eu tinha compreensão de que para você fazer política você não necessariamente precisa ter cargo, você pode ser presidente do Sindicato e fazer política ou você pode ser um militante dentro da fábrica e pode fazer política.
O que a categoria pode esperar do seu mandato?
Moisés – A categoria pode esperar o compromisso do Sindicato de lutar por melhores condições de trabalho, por salário mais justo, por uma sociedade mais fraterna, pelo nosso projeto, que eu costumo dizer, é ser feliz.
Este ano é um ano de eleições, qual será o papel do Sindicato na defesa da classe trabalhadora?
Moisés – A primeira coisa é lutar para tirar esse cara que está aí, não dá pra chamar isso de governo. Temos que deixar claro isso, nós vamos passar por cima, é obrigação nossa em nome da classe trabalhadora e do povo brasileiro. Aquilo que faz mal, temos que tirar da frente, e não está fazendo mal porque eu tenho uma opção política diferente, faz mal para toda a sociedade. Onde já se viu um presidente da República negacionista no meio de uma pandemia que está matando tanta gente? Temos que tirar e trabalhar por um projeto político que inclua os trabalhadores.
Num possível governo Lula, qual será a postura do Sindicato em relação à cobrança de direitos para os trabalhadores?
Moisés – O Sindicato nasceu contestador de patrões e de governos, Lula foi presidente deste Sindicato e sempre mostrou compromisso com os trabalhadores quando foi presidente da República. Mas se for preciso, vamos nos mobilizar, pois nossa categoria tem a luta nas veias. Ele terá que atender às reivindicações da classe trabalhadora.
Qual o papel dos Metalúrgicos do ABC para ajudar na recuperação industrial e econômica do Brasil?
Moisés – Primeiro precisamos discutir a indústria. Esse governo só quer investir no agronegócio, derrubar floresta para plantar soja e milho e não está preocupado com indústria. Precisamos derrubar esse governo para construir um projeto de reindustrialização do país. A indústria é fundamental na geração de empregos. Mas não dá para discutir com esse governo. A questão de geração de emprego de qualidade e do crescimento da indústria passa por esse ano de 2022. Dentro da nossa estratégia isso passa por um projeto de país. O Sindicato quer participar e propor políticas industriais, num possível governo Lula.
E o que o Sindicato quer propor?
Moisés – Queremos programas de formação profissional para os trabalhadores, o fortalecimento da indústria, uma indústria responsável ecologicamente, moderna, que gere empregos de qualidade e que coloque o Brasil como protagonista no mundo. Temos falado muito na Tribuna sobre nosso projeto para indústria e falaremos mais nas próximas edições.
Lutar para reverter a reforma Trabalhista vai ser uma pauta do Sindicato?
Moisés – Temos que discutir a questão do capitalismo de aplicativo, esses trabalhadores sem direito algum. Precisamos discutir uma regulamentação. Algumas experiências são positivas, e servem de exemplos, como a cooperativa criada em Araraquara, onde os motoristas recebem 93% do valor da viagem. Já sobre a reforma, não estou dizendo que tem que voltar atrás, mas também não tem que ser a escravidão que é. Temos que buscar um caminho que formalize, que dê direitos. Olha no que deu a negociação patrão direto com o empregado no quiosque na Barra da Tijuca.
São muitos os desafios, mas qual o principal nesse começo de mandato?
Moisés – Precisamos ampliar a proximidade com a nossa base e com movimentos sociais, além de derrubar esse governo. Este ano tem que ser marcado pela retomada do projeto dos trabalhadores e trabalhadoras e dos mais pobres deste país.
Qual recado pra categoria?
Moisés – Esperança, temos condições de mudar e acreditar em um futuro melhor. O Sindicato somos todos nós! Cada trabalhador e trabalhadora pode contar comigo e com toda a nossa direção. Juntos somos mais fortes! Viva os Metalúrgicos do ABC!
Fonte: Sindicato dos Metalúrgicos do ABC