PUBLICADO EM 06 de set de 2022
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‘Tem algo de podre no ar’, diz Lula sobre imóveis dos Bolsonaro pagos com dinheiro vivo

Em encontro com assistentes sociais, Lula lamenta abandono de população mais frágil pelo Estado, pede investigação da família Bolsonaro. ‘Gente de rua sofre desprezo, violência e come do lixo’, diz padre Júlio Lancellotti

“Tem muita coisa errada no Brasil, mas se a gente não der o exemplo no 1º de janeiro, de começar a acolher essas famílias que estão nessa situação de rua e não estão sendo olhadas pelo poder público, não estaremos sendo dignos da confiança que o povo vai depositar”, disse Fernando Haddad – Foto: Rovena Rosa/ABR

O candidato da coligação Brasil da Esperança à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), se reuniu nesta segunda-feira (5), em São Paulo, com trabalhadores, gestores e usuários do Sistema Único de Assistência Social (Suas). No evento, Lula disse que “essa não é uma eleição normal”, que é “mais difícil reconstruir do que fazer algo novo”. Ainda assim, prometeu recursos para reconstruir a área da assistência social no país.

“Não é possível que a gente não consiga fazer uma política tributária que garanta ao Estado arrecadar o suficiente para cuidar do seu povo. O papel do Estado é atender sobretudo os mais necessitados”, disse o ex-presidente.

Nesse sentido, Lula destacou a importância de eleger deputados e senadores comprometidos com a mudança social no país. “Se votarem nas pessoas que acreditam no Orçamento Secreto, não vai sobrar dinheiro para a gente cuidar do Suas”, ressaltou.

O ex-presidente citou também o escândalo imobiliário que envolve o presidente Jair Bolsonaro. Nos últimos 30 anos, a família negociou 107 imóveis, sendo 51 deles em dinheiro vivo. O montante ultrapassa R$ 25 milhões em espécie. “Eu não sei o que é. O que eu sei é que tem algo podre no ar”, disse Lula sobre as origens suspeitas para tanto dinheiro. “Não é com salário de deputado que alguém compra isso. Essa gente, em vez de ficar dizendo que são honestos, tem que se explicar.”

Por outro lado, Lula citou que os assistentes sociais estão sem reajuste de salário há anos. “Este ano, no orçamento que ele mandou, não tem aumento para o servidor. Não tem aumento para o salário mínimo. Há quantos anos que não aumenta? Se não aumenta o mínimo, as pessoas mais necessitadas que sobrevivem dos benefícios da previdência vão passando cada vez mais necessidade”.

‘Lula não fecha igrejas, Lula abre o coração’

“Foi difícil construir o que construímos para eles, em um decreto, desmontarem tudo”, disse Lula, sobre reconstruir assistência social; (Ricardo Stuckert)

Presente no encontro, o padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de São Paulo, disse é preciso eleger um presidente que lute contra a “aporofobia” – o ódio aos pobres. “Em todas as cidades brasileiras a população de rua está sendo tratada com violência, desprezo e desdém”, afirmou o religioso.

Nesse sentido, padre Júlio reivindicou que o decreto 7.053/2009, que instituiu a Política Nacional para a População em Situação de Rua (PNPSR), vire lei. “Que os irmãos e irmãs em situação de rua possam se sentir pessoas inteiras, respeitadas, que não comam mais do lixo”, clamou o religioso.

Além disso, ele afirmou a Lula que não tenha vergonha de ser chamado de “ex-presidiário”. Disse se trata de um “privilégio”, pois viveu o sofrimento por que passam os encarcerados. “Você sabe o quanto nós temos esperança e precisamos de alguém que olhe para o povo, de alguém que sentiu fome, desprezo, e que foi maltratado”, afirmou o padre Júlio ao ex-presidente. “Você carrega isso na pele, e deve isso a Deus”.

Por fim, ele ainda rebateu a fake news espalhada por setores bolsonaristas evangélicos que diz que Lula, se eleito, atuaria para fechar templos e igrejas. “Não entrem em fake news. Lula não fecha igreja. Lula abre o coração”, disse o padre.

‘Gente é para brilhar, e não para morrer de fome’

Citando canção de Caetano Veloso, o ex-prefeito e ex-ministro da Educação Fernando Haddad, candidato da coligação Juntos por São Paulo ao governo paulista, disse que “gente é para brilhar, e não para morrer de fome”. Assim, estabeleceu como compromisso acolher famílias em situação de rua. “Vamos dar as mãos, uns aos outros, e vamos realmente fazer a diferença. É a virada de chave que o povo precisa reconhecer nos governos progressistas.”

Enaltecendo o trabalho dos assistentes sociais, Haddad ressaltou a participação desses profissionais em programas fundamentais durante a sua gestão pela prefeitura de São Paulo, como o Transcidadania e o De Braços Abertos. Também lembrou da articulação entre Educação e Assistência Social enquanto esteve no ministério. Com a ajuda da assistência social, disse que conseguiu trazer para as escolas 400 mil crianças com deficiência que recebiam o Benefício de Prestação Continuada (BPC), mas não estavam matriculadas. Da mesma maneira, ressaltou o papel desses profissionais para combater a evasão escolar. Isso a frequência escolar era adotada como um dos critérios para o recebimento do Bolsa Família.

Contra o assistencialismo

Márcia Lopes, da Frente Nacional em Defesa do Suas: categoria da assistência social teve representantes de 19 estados em encontro com Lula (Ricardo Stuckert)

Os trabalhadores, gestores e usuários do Sistema Único de Assistência Social destacaram no encontro com Lula que o trabalho livrou o Brasil do assistencialismo e da caridade, profissionalizando o atendimento aos mais vulneráveis. Márcia Lopes, representante da Frente Nacional em Defesa do Suas e da Seguridade Social, disse que a assistência social sentiu as consequências do golpe do impeachment contra a ex-presidenta Dilma e o descaso do atual governo.

“As pessoas têm o direito à proteção social. São 37 milhões de famílias que estão no Cadastro Único. São 600 mil trabalhadores espalhados por esse país, e nós sabemos o que tem custado isso a partir do golpe de 2016. Nós resistimos e estamos resistindo até hoje, temos um legado, temos um futuro e por isso queremos Lula presidente”, declarou Lopes.

Durante a pandemia, o Suas sofreu com corte de verbas de até 70%. No orçamento e nas parcelas repassadas aos municípios. No Orçamento para o próximo ano, o governo Bolsonaro realizou cortes ainda mais drásticos, destinando apenas 48 milhões para ações e serviços. Também está prevista houve redução do auxílio brasil, que voltará para a faixa dos R$ 400.

O Sistema Único de Assistência Social, criado em 2003, durante o primeiro ano da gestão Lula, é responsável pelo atendimento à população mais vulnerável. São mais de 17 mil unidades, entre Centros de Referência de Assistência Social (Cras), Centros de Referência Especializados de Assistência Social (Creas), centros de Convivência, casas de acolhimento, entre outros serviços. Também atende a 87 milhões de pessoas que estão no Cadastro Único para Programas Sociais do governo federal (CadÚnico), que recebem o Auxílio Brasil, por exemplo.

Fonte: Rede Brasil Atual

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