Os estudos são do Centro de Estudos da Metrópole (CEM), sediado na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que reúne pesquisadores dedicados a estudar a dinâmica social e espacial do cenário urbano.
Dados de 11 semanas de bilhetagem eletrônica e do GPS dos veículos, fornecidos pela São Paulo Transporte (SPTrans), representaram aproximadamente 9,5 milhões de cartões únicos no sistema, com aproximadamente 803 milhões de transações no período.
A cidade foi dividida em quatro áreas de assentamentos precários e outras quatro de áreas de classe média alta e, com auxílio de um algoritmo, foram identificados grupos de passageiros com perfis semelhantes, para se avaliar e comparar seus padrões espaço-temporais.
Os resultados mostraram diferentes os perfis na dinâmica urbana do transporte público. Há grupos que se deslocam para áreas com concentração regular de empregos e, pelo menos, dois grupos apresentaram características que sugerem associação com emprego de baixa remuneração.
De acordo com o estudo, a maioria dos moradores de baixa renda dos assentamentos de São Paulo iniciam sua primeira viagem entre 5h e 7h, enquanto a maioria dos moradores de áreas de classe média alta, mais tarde: entre 7h e 9h. “Essas informações trazem um valor agregado ao planejamento de transportes especialmente com foco na população de baixa renda”, afirmou Pieroni.
A expectativa é que a pesquisa possa ajudar nas políticas de melhorar a mobilidade urbana, para que os governos possam oferecer um serviço mais adequado, com tempo de viagem reduzido.
“O tempo perdido nos transportes públicos pode afetar o desenvolvimento das pessoas, pois poderia ser usado para educação, lazer ou saúde”, afirmou ao jornal da USP André Leite Rodrigues, geógrafo e mestre em Engenharia de Transportes pela Poli.
Também com o objetivo de criar um método rápido e de fácil atualização para mensurar as desigualdades nos deslocamentos cotidianos entre moradores de áreas precárias e de classe média alta, Rodrigues analisou os dados do serviço de telecomunicações. Ao longo de um mês, foram coletados os dados de uso de celulares em São Paulo, focados nas áreas vulneráveis, a partir da seleção pela Estações Rádio Base (ERB), cujo sinal abrange a cidade. Desses celulares, foi obtido o dado de posicionamento, seguido de um processo para garantir o sigilo pessoal e anonimização de todos os registros e usuários.
O pesquisador destaca que nenhuma informação cadastral foi utilizada para identificar os indivíduos: os celulares e usuários receberam um ID criado apenas para pesquisa e as informações de posicionamento foram generalizadas em uma grade de 200 metros quadrados — o que não permite a identificação do local exato de uso. Além disso, coletou-se informações sobre data e hora das posições dos usuários. Também foram usadas informações de geocodificação de dados do IPTU, disponibilizados pelo GeoSampa, da prefeitura de São Paulo.
O estudo mostrou que, durante o horário comercial, os moradores de favelas estão, em média, mais distantes de seu local de residência do que os outros. “Isso mostra de maneira mensurável e de fácil atualização onde a gestão pública pode atuar para reduzir os impactos do deslocamento cotidiano”, completa.
“Muito mais do que olhar para uma fotografia no tempo, o uso de big data para analisar os deslocamentos de um grande grupo é mais barato e dinâmico de atualizar do que uma pesquisa em campo com entrevistas e, se forem tratados da maneira correta, são seguros e garantem o anonimato das informações individuais”, afirma o autor. Segundo ele, o estudo pode ser um aliado do planejamento urbano e implicar novas formas de gestão pública, de modo a reduzir o tempo das viagens, melhorar as condições dos habitantes e diminuir as desigualdades.
Fonte: Jornal da USP