por Eileen Jones (Jacobin)
Eu devia provavelmente me recusar a rever os filmes de Sofia Coppola.
Anos atrás, eu trabalhei como recepcionista por seis meses no Zoetrope Studios, de seu pai, Francis Ford Coppola. Lá, eu ocasionalmente assisti a adolescente Coppola e seu irmão de vinte e poucos anos, Roman, flanarem para dentro e para fora dos escritórios do Zoetrope – ambos taciturnamente bonitos e livres como o ar.
Eu estava lá quando Francis Coppola deu a seus filhos uma pequena empresa de filmagens para eles próprios gerirem – a Commercial Pictures, que teve vida curta. Eu até assisti quando um grande guindaste içou a escrivaninha de Marlon Brando, em “O Poderoso Chefão”, para que ela fosse puxada pelas janelas do novo escritório de Roman – a escrivaninha de Dom Corleone era simplesmente muito enorme para ser arrastada para cima pelas escadas ou ser colocada dentro do elevador.
Os críticos de cinema quase sempre comentam sobre o modo como os filmes de Sofia Coppola lidam exclusivamente com o mundo dos ricos e ultraprivilegiados, o mundo que ela conhece. Mas poucos críticos tiveram um assento ao lado do ringue, como eu tive, ao luxo maravilhoso no qual ela foi criada. Tanta facilidade, tanto esplêndido lazer, tanto acesso imediato para todas as oportunidades do showbiz, com tantos dos amigos brilhantemente talentosos de seu pai por aí, tendo interesse nas várias ambições de carreira de Sofia – roteirista, fotografia, moda, atuação, e, finalmente, direção.
De qualquer forma, o ponto é eu odiei “On the Rocks”, seu novo filme na Apple TV, ainda mais do que a maioria dos filmes de Sofia Coppola. Mas, pode meu ódio ser confiável? É ódio muito puro. De acordo com a campanha publicitária da Apple, é para ser uma comédia. Talvez seja o meu viés falando, mas “On the Rocks” com certeza parece mais como uma risada livre, caminhada de quatro horas. (Tecnicamente, ele corre noventa e seis minutos).
Extraordinariamente enfadonho, “On the Rocks” é desatento para seu próprio mundo de riqueza, privilégio e acesso. Inspirou uma peça sarcástica da Slate, intitulada “What Is the Bougiest Status Symbol in Sofia Coppola’s New Movie?” (Nota: qual é o símbolo de status mais pequeno burguês no novo filme de Sofia Coppola?) O maior símbolo pequeno burguês é provavelmente o primeiro listado: uma bolsa Chanel vintage usada pela protagonista, Laura (Rashida Jones, ela mesma filha de mãe e pai famosos), com o preço de seis mil dólares, emparelhada com uma bolsa tote bag legal, com o preço de menos de 30 dólares, que transmite essa mensagem sobre quem a usa:
É um duo que diz “Eu posso pular para alta costura quando quero, mas eu não me importo de folhear livros usados.”
O filme é sobre a disfunção entre pai e filha, envolvendo Laura e seu charmoso, mas dominador, pai, Felix (Bill Murray). Coppola é cautelosa sobre o quanto a relação é baseada na sua própria com Francis Coppola, mas em certas entrevistas, ela admite que, em amplas pinceladas, ela forneceu inspiração:
“Eu me lembro de quando jovem, meu pai me dizendo: ‘Isso é o que os caras estão pensando’, sua geração, seu ponto de vista. Então eu estava pensando sobre isso. Eu queria que eles fossem um pouco como uma dupla estranha, uma jovem mulher moderna e esse cara do velho mundo com aquelas atitudes”.
Eu acho que nunca Bill Murray menos divertido do que ele está aqui, interpretando Felix. Reconhecidamente, não há muito para ele trabalhar no script, mas era uma vez, ele poderia sobreviver sem linhas de riso inteiramente – toda a sua atitude em relação à vida era inerentemente engraçada. Agora, ele adotou um tipo de preciosidade tímida e de olhos arregalados, que é mais desconcertante do que engraçada.
Felix convence Laura a ir em bares e restaurantes chiques de Manhattan em busca de seu marido, Dean (Marlon Wayans), um empresário cuja empresa de tecnologia está surgindo na classe de muito dinheiro. Laura também é muito bem sucedida. Ela é uma escritora que já recebeu um grande adiantamento por um livro não escrito, mas ela bloqueio criativo. Ela tem duas filhas e agora tem que acordar cedo por elas, significando que ela tem que escrever durante o dia. Ela costumava escrever durante toda a noite, entende?
Aqui, Sofia Coppola está desenhando sua própria vida, tentando abordar uma premissa “ridícula” com “algum realismo”. Assim como “Lost in Translation” foi inspirado por sua própria crise juvenil de incerteza criativa ao lado de um casamento fracassado com o diretor Spike Jonze, “On the Rocks” é um filme altamente pessoal de vinte anos depois, mapeando uma crise de meia idade baseada em sua própria luta para se manter criativa enquanto navegando pela maternidade.
Mas não é muito difícil, uma vez que todos tendem a ser ultra bem sucedidos no universo cinematográfico de Sofia Coppola. Felix, por exemplo, é um negociante de arte que usa ternos chamativos e tem um chofer para dirigir para ele por aí. Mas a questão em seus filmes é o quão desconectados eles são de qualquer modo – não dificuldade verdadeira. Quantas caminhadas alienadas eles fazem, quanto eles olham desconsoladamente pelas janelas, quão neuróticos eles são bagunçando suas vidas chiques, enquanto parecem nunca perceber que quase todos os problemas que eles têm não são apenas prontamente resolvíveis, mas, de fato, dificilmente contam como um problema na estimativa da maioria das pessoas?
Para uma visão realmente estimulante da vida entre os ricos e famosos, você pode olhar para os infinitamente mais cativantes e perspicazes escritos da atriz-memorialista Carrie Fisher. Filha da estrela de Hollywood dos velhos tempos Debbie Reynolds e da sensação de uma vez do canto Eddie Fisher – e famosa por direito próprio como atriz depois de interpretar a Princesa Leia em “Star Wars” – Fisher sempre viu a aberração de sua pequena bolha de elite, e ela escreveu sobre isso como uma outsider podia: hilariamente e mordazmente.
Fisher estava sempre reconhecendo a insularidade bizarra da fama, como o modo que sua mãe contava com uma rede de amigos estrelas de cinema para ajudá-la durante a adolescência – Gary Grant foi convocado para aconselhar uma adolescente Carrie sobre uso de drogas, baseado em sua própria experiência com o LSD. Ava Gardner, vivendo em Londres, uma vez respondeu a um telefonema frenético de Debbie Reynolds, que mandou Gardner correr para um hotel de Londres para salvar a jovem Carrie Fisher de uma overdose de drogas.
Fisher amava documentar o modo que sua família e amigos todos viviam no colo do luxo, mas ainda tendiam a fazer tais confusões profanas em suas vidas, às vezes literalmente, como quando seu irmão, Todd, encontrou uma arma da família escondida e acidentalmente atirou em si mesmo na coxa , pulverizando todo o quarto de estrela de cinema branco em branco de Debbie Reynolds com sangue.
Não existe tal autoconsciência nos filmes de Coppola, mas ainda, seus fãs são uma legião e incluem muitos críticos de cinema. No interesse da justiça, eu vou citar alguém que admira “On the Rocks”. Stephanie Zacharek, da Time, diz:
Não há drama torturado, nenhuma grande revelação… como com todos os filmes de Coppola, é a camada de detalhes que conta, o acréscimo de astutas, mas não menores, observações que vem a formar o todo, as pinceladas pontilhadas de uma pintura de Seurat… esse é um olhar inteligente e habilidoso do modo que a vida moderna, mesmo uma confortável vida moderna, pode jogar bolas curvas complicadas – e um lembrete de que ter dinheiro nunca protege você da solidão e confusão.
Se você está interessado em um lembrete de que mesmo os ricos não podem subornar inteiramente emoções humanas comuns, tais como solidão e confusão, então esta é a pintura cinematográfica de Seurat só para você.
Eileen Jones é crítica de cinema na Jacobin e autora de Filmsuck, EUA. Ela também hospeda um podcast chamado Filmsuck.
Tradução: Luciana Cristina Ruy
Veja aqui o trailer de On The Rocks:
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ANDRÉ LUIZ FERRER DOMENCIANO
Li dois parágrafos. Quase desisti. Fui até o final sentindo aquela “vergonha alheia” que os invejosos sempre provocam em mim. Ficou claro que a autora deste texto não reclamaria se tivesse nascido graças ao esperma do Francis.
humberto teski
texto enfadonho que não consegue entender que cada autor tem uma maneira de contar suas histórias.
Para a autora, saiu de um determinado “modo” de olhar esse recorte social, está errado.
Sinceramente? É direito dela não gostar, mas o texto apresentado é de uma baboseira ideológica imprecionante.
Rita De c v gava
Existem diretores e diretores, dificil superar Coppola. Alguns conseguem não acredito que seja o caso.
…mas também as vezes faz parte ver filmes mais ou menis5oy menos…sempre algo a aprender