PUBLICADO EM 29 de abr de 2019
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Socialistas vencem eleição espanhola, e ultradireita retorna ao Parlamento

PSOE, do premiê Pedro Sánchez, terá de negociar maioria; Vox, da direita radical, leva 24 cadeiras

Primeiro-ministro da Espanha e candidato do Partido Socialista dos Trabalhadores (PSOE), Pedro Sánchez, vota na eleição geral da Espanha em Pozuelo de Alarcón, nos arredores de Madri, Espanha

Os socialistas venceram as eleições parlamentares da Espanha neste domingo (28), mas não conquistaram maioria para governar sozinhos. Já seu principal rival, o Partido Popular (PP, de direita), sofreu um revés histórico, vendo sua bancada encolher mais de 50%.

Os resultados também confirmam a entrada, no Congresso de Deputados, do Vox, a primeira legenda de ultradireita a chegar ali desde 1979.

Não se materializou, porém a onda de conservadorismo radical que, segundo analistas, poderia alçar a sigla novata ao terceiro lugar, à frente de Cidadãos (centro) e Podemos (ultraesquerda).

Outro destaque é o alto comparecimento do eleitorado, de quase 76%, o maior desde 1996 (houve seis pleitos desde então). Segundo analistas, altas taxas de participação costumam beneficiar a esquerda no país, já que o eleitor progressista é menos assíduo nas urnas. Ou seja, se mais gente compareceu, é provável que haja mais eleitores esquerdistas.

Com 99,8% das urnas apuradas, o PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol) tinha conquistado 123 cadeiras, um crescimento expressivo em relação às 84 atuais e a melhor marca desde 2008.

O desempenho legitima Pedro Sánchez como líder partidário. Derrotado nas eleições gerais de 2015 e 2016, que não produziram maiorias claras para formar governo, ele queria um terceiro embate com o então premiê, Mariano Rajoy (PP).

Foi forçado por correligionários a recuar do plano e acabou deixando o comando da agremiação. Voltou no ano seguinte, impulsionado pela base, e conseguiu, em junho de 2018, fazer aprovar uma moção de desconfiança na gestão Rajoy que transformou ele, Sánchez, em premiê.

Dito isso, o economista vai precisar do apoio do Podemos e de outras legendas menores para governar pela segunda vez –o “número mágico” da maioria é 176.

Dependendo dos acordos feitos com pequenas siglas regionais que obtiveram assentos parlamentares no domingo, o atual premiê poderá prescindir de negociações com o separatismo catalão, que se mostrou volúvel na relação com o PSOE.

Os independentistas ajudaram a derrubar Rajoy, mas também forçaram Sánchez a adiantar eleições que só aconteceriam em 2020 ao rejeitar seu orçamento para 2019. Era uma resposta ao estremecimento do diálogo com Madri sobre o status da Catalunha.

Após o anúncio do resultado, o líder socialista discursou para a militância reunida diante da sede do PSOE, na capital. A multidão interrompeu em vários momentos o pronunciamento com gritos de “Com Rivera, não!”, referindo-se a Albert Rivera, chefe do Cidadãos, terceiro colocado (57 eleitos).

O partido de centro deu uma guinada à direita durante a campanha, e em muitos momentos foi mais virulento em críticas aos socialistas do que o próprio PP, oponente histórico do PSOE.

“Mandamos um recado à Europa e ao resto do mundo. É possível derrotar o autoritarismo e a ‘involução’”, afirmou Sánchez. “Não vamos estabelecer cordão sanitário, como eles [do Cidadãos].”

O socialismo deve acertar uma coalizão com o Podemos. A coligação liderada pelo partido de esquerda radical sofreu um baque, passando dos atuais 67 deputados para 42, e se enfraqueceu na disputa pela primazia no campo progressista.

“Gostaríamos de ter obtido um resultado melhor, mas foi o suficiente para frear a direita”, disse o líder Pablo Iglesias, antes de acenar para o diálogo com Sánchez.

Na seara da direita, o PP terá 66 assentos, contra 134 hoje. É o pior desempenho da história do establishment conservador espanhol e coloca em xeque a liderança de Pablo Casado, que substituiu Mariano Rajoy, escanteou a ala moderada da legenda e deu ao PP embocadura muito mais reacionária do que a cristalizada nos últimos anos.

“Não vou me furtar de responsabilidade. O resultado foi muito ruim”, afirmou ele. “Nosso desempenho vem piorando há várias eleições. Vamos começar a trabalhar agora [para identificar erros].”

Criado em 2013 por egressos do PP, o Vox ingressa no Legislativo nacional com 24 deputados, marca vigorosa, porém inferior à que as pesquisas mais recentes apontavam (entre 29 e 37).

Alguns analistas viam a formação chegar até a um patamar de 15%, por causa de sua fortíssima presença em redes sociais e de um possível fenômeno de “voto envergonhado”, não declarado a entrevistadores de institutos de pesquisas.

No centro, o Cidadãos, que buscou durante a campanha se posicionar como “o” partido para quem desejasse desalojar Sánchez do Palácio da Moncloa (sede do governo), passa de 32 cadeiras a 57, o que não será suficiente para defenestrar o tradicional PP.

Mas Albert Rivera não hesitou em se apresentar a simpatizantes reunidos em Madri como novo líder da oposição. “Hoje, o Cidadãos se ergue como futuro e esperança da Espanha”, disse. “Somos o refúgio da liberdade.”

Na Catalunha, que esteve no centro do debate eleitoral por causa de seu movimento secessionista, o maior representante dessa corrente na próxima legislatura será a Esquerda Republicana, que suavizou o tom de enfrentamento com Madri durante a campanha.

Seu líder, Oriol Junqueras, está preso por participar da organização do plebiscito ilegal sobre a independência, em outubro de 2017. O julgamento dele e de outros 11 líderes daquele movimento está em curso —a sentença deve ser conhecida em outubro.

O grupo passou de 9 para 15 cadeiras. Uma delas será ocupada pela sergipana Maria Dantas, 49, radicada há mais de 20 anos na Espanha. Será a primeira brasileira a ocupar uma vaga no Congresso do país ibérico.

Já a coligação Junts per Catalunya, mais hostil ao governo central, perdeu um assento, passando de 8 para 7. A figura mais conhecida desse grupo é Carles Puigdemont, presidente regional da Catalunha no momento do plebiscito e hoje auto exilado na Bélgica.

Fonte: Folha SP

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