PUBLICADO EM 08 de fev de 2024
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Sindicatos ressurgem com nova força na Alemanha

Sindicatos alemães se renovam com a entrada de associados jovens

Sindicatos alemães se renovam com a entrada de associados jovens

Os trabalhadores jovens alemães têm demonstrado interesse em se sindicalizar e em mais ação industrial, em meio ao progressivo inverno econômico do país. Depois da grande greve dos maquinistas do fim de janeiro, diversos serviços de transporte público suspenderam suas atividades nesta sexta-feira (02/02), e grande parte dos controladores de voo aderiu a uma paralisação de advertência em 11 aeroportos, neste fim de semana.

O sindicato Ver.di, o maior da Alemanha, que convocou as greves mais recentes, descreveu 2023 como seu ano de maior êxito desde que foi fundado, 22 anos atrás. Representando 1,9 milhão de prestadores de serviços de diversos setores, ele recebeu nesse ano 193 mil novos sócios, um ganho líquido de 40 mil filiações.

Outras associações sindicais apresentam uma tendência similar: o GDL, dos maquinistas, pequeno, porém de alta projeção, anunciou recentemente ter crescido 18% desde 2015. Por sua vez, o sindicato alemão mais antigo, o NGG, do setor de gastronomia, expandiu seus quadros com mais de 20 mil novos afiliados em 2023.

Stefan Körzell, da diretoria da Confederação dos Sindicatos Alemães (DGB), saudou o fato de cinco de suas oito associações integrantes terem acusado um aumento em suas filiações.

“Em primeiro lugar, estamos todos realmente felizes. É um sinal positivo. Temos uma pirâmide etária como todas as organizações de sócios, como os partidos, as Igrejas e os clubes. E acho que conseguimos reverter a tendência nos últimos dois, três anos, graças a uma política e uma representação de interesses inteligentes.”

Engajamento de filiados surpreende os próprios sindicatos

Contudo Körzell está também alerta para o fato de que o ano anterior foi uma anomalia, já que há décadas a sindicalização vem caindo continuamente na Alemanha. A DGB encolheu, de 9,3 milhões de membros em meados dos anos 1990, para 5,6 milhões, sobretudo devido a deslocamentos demográficos, em que uma geração mais velha de assalariados vai gradualmente entrando para a aposentadoria.

Apenas para compensar tais perdas “naturais”, um grande sindicato como o Ver.di precisaria recrutar pelo menos 150 mil novos sócios a cada ano. Nesse contexto, o atual incremento pode parecer uma bagatela, mas mesmo assim traz bons augúrios para o setor.

Pois os números também indicam interesse renovado entre as gerações mais jovens: o Ver.di assinala que 50 mil dos recém-afiliados têm menos de 28 anos de idade. “Vê-se isso em todos os âmbitos: mesmo os sindicatos que não aumentaram seus quadros, no total, tiveram mais membros jovens”, registra Körzell.

O pesquisador Thorsten Schulten, da Fundação Hans Böckler, ligada à DGB, crê que a Ver.di deve muitos de seus novos sócios sobretudo às disputas trabalhistas recentes. Porém isso não significa que as organizações estejam intencionalmente incitando greves para aumentar o próprio poder.

“Acho que os próprios sindicatos estão espantados com a força do apoio e da participação de seus membros. Parece-me que em certas áreas eles estão sendo incentivados pelos próprios membros.” Para o pesquisador, a atual onda de ação industrial é resultado das adversidades sociais crescentes.

“Não devemos esquecer que nos últimos anos tivemos taxas de inflação historicamente altas, que os assalariados tiveram que aguentar algumas pesadas perdas salariais reais. E isso criou problemas reais para os cidadãos de baixa renda. Então quem, se não um sindicato, para garantir que se obtenham uma compensação?”

Körzell concorda que a tendência atual é em parte devida à atuação sindical nas crises econômicas recentes, causadas pela pandemia de covid-19 e a guerra russa na Ucrânia: a seu ver, os sindicatos teriam sido essenciais para evitar desemprego em massa, colaborando para governos e companhias se adaptarem aos contratos de curto prazo e negociando pacotes de compensação.

Trabalhadores percebem a própria importância

Outro fator, segundo Schulten, é os trabalhadores estarem se dando conta que as empresas precisam deles mais do que nunca, perante a escassez no mercado de trabalho. “Eles não têm medo de perder seus empregos. A falta de trabalho especializado não resultou automaticamente em melhores condições de trabalho, há necessidade de engajamento ativo.”

Marcel Fratzscher, presidente do Instituto Alemão de Pesquisa Econômica (DIW) concorda: “Temos 1,8 milhão de vagas em aberto, e os empregados estão ficando mais confiantes e dizendo: ‘Queremos melhores condições de trabalho e melhores salários.'”

O problema é apenas 50% dos empregos da Alemanha são cobertos pelos acordos salariais coletivos negociados pelos sindicatos, destinados a garantir salários-mínimos em determinados setores – o que está bem longe da meta de 80%, estipulada pela União Europeia em 2022. Outros empregos estão efetivamente fora do raio de ação sindical.

“Claro, é difícil alcançar assalariados não incluídos nos acordos coletivos”, reconhece Körzell. “Mas temos visto, por exemplo, que até mesmo entregadores a domicílio estão lutando junto conosco para que suas companhias também participem desses acordos.”

Fonte: DW

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