Além de os programas de crédito anunciados pelo governo não serem amplos nem completos, o financiamento existente não está chegando na ponta, nas empresas que mais precisam para sobreviver e manter os empregos.
Ao mesmo tempo, o governo mostra a todo momento que não tem intenção de socorrer micro, pequenas e médias empresas. Entre elas o ministro da Economia, Paulo Guedes, na reunião ministerial de 22 de abril, disse: “Nós vamos ganhar dinheiro usando recursos públicos pra salvar grandes companhias. Agora, nós vamos perder dinheiro salvando empresas pequenininhas.”
O diretor executivo do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wellington Messias Damasceno, destacou que os bancos estão dificultando o acesso ao crédito, com aumento dos juros e spread (diferença entre juros que o banco paga para captar recursos e cobra para conceder empréstimo) e exigências de garantias muito além do razoável.
“A fala do Guedes na reunião deixa claro que esse governo anuncia medidas, mas na verdade não trabalha para que se concretizem”, criticou
Crédito não chega
O próprio governo federal anunciou que dos R$ 40 bilhões previstos no Pese (Programa Emergencial de Suporte a Empregos), nem R$ 2 bilhões foram liberados em financiamento.
Além disso, entidades empresariais reclamaram da falta de crédito, com pesquisas que indicaram a falta de acesso às linhas de financiamento. O Simpi (Sindicato das Micro e Pequenas Indústrias do Estado de São Paulo) fez um a pesquisa com 208 empresas e mostrou que 91% dos pequenos empresários não conseguem dinheiro no banco. E 45% dessas empresas tiveram aumento na taxa de inadimplência em relação ao período anterior à pandemia.
A Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos) fez o levantamento com seus associados e mostrou o problema de crédito em destaque entre os empresários. Dos 32,4% que já tinham procurado os bancos, apenas um terço teve acesso ao crédito. Entre os motivos estão altas taxas de juros, cadastro negativo e excesso de garantias.
Cobrança do Sindicato
Os Metalúrgicos do ABC encaminharam propostas ao governo de São Paulo, ao Consórcio Intermunicipal Grande ABC, que reúne as sete prefeituras da região e às associações empresariais
“Defendemos o emprego, o fortalecimento da indústria brasileira e a necessidade de programa de crédito de verdade. As medidas de crédito são fundamentais para a própria sobrevivência da empresa, para que tenha capital de giro para se manter, pagar os trabalhadores e também ter condições de fornecimento na retomada”, disse.
“Estamos em tratativas com as associações empresariais sobre a melhor modelagem de liberação e acesso ao crédito. Se as empresas não se articularem, junto aos trabalhadores, em busca de saídas para a crise e pensando na retomada, teremos um processo de desindustrialização ainda mais grave no país”, alertou.
Além da liberação de crédito, o Sindicato tem defendido propostas de reconversão industrial, nacionalização de peças, componentes, máquinas e equipamentos, renovação de frota e estímulos a pesquisa, desenvolvimento e inovação.
Sustentação das empresas e dos empregos
O deputado federal Zé Neto (PT-BA) apresentou o Projeto de Lei que trata da sustentação da atividade econômica das empresas, dos empregos e da renda, com programa de financiamento a micro, pequenas e médias empresas, além de microempreendedores individuais. A luta é para que o projeto entre na pauta para ser votado com urgência.
“O plano de sustentação é para botar novamente a máquina para rodar, com financiamento para pagamento da folha, capital de giro e investimentos em novas tecnologias. Das micro até as grandes empresas precisam de atenção qualificada, empréstimo simplificado, juros menores, carência de pelo menos seis meses para terem condição de pagar salários, pagar seus impostos e fazer novos investimentos”, explicou o deputado em entrevista à TVT.