PUBLICADO EM 23 de maio de 2022
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Sindicalistas defende independência de classe e intensificação das lutas

A tarde de sábado (21) foi dedicada a exposições de conjuntura por membros da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas, com abertura de debate no plenário em seguida, que sintetizou o acúmulo das discussões realizadas nos primeiros dois dias da reunião da Coordenação Nacional da Central. Na mesa, participaram os dirigentes Marcela Azevedo, Luiz Carlos Prates, o Mancha, Nancy Gouveia, Diego Vitello e Amaury Fragroso (que participou de forma online).

Marcela, do MML (Movimento Mulheres em Luta), abordou que a classe trabalhadora brasileira durante o período de pandemia não sofreu mais mortes devido à atuação de trabalhadoras e trabalhadores da saúde que estiveram à frente do SUS (Sistema Único de Saúde) e garantiram o avanço vacinal apesar da política negacionista do governo Bolsonaro.

A dirigente denunciou que enquanto a classe enfrentou uma inflação de 1,06% em abril, o índice mais alto para um mês de abril desde 1996 (1,26%), tendo de escolher qual conta pagar para sua sobrevivência, a burguesia seguiu enriquecendo durante a pandemia, nos anos de 2020 e 2021. Nesse período, os bilionários brasileiros aumentaram sua fortuna em 38%, de US$ 127,1 bilhões para US$ 176,1 bilhões. “Mesmo assim, houve aprofundamento de ataques aos direitos e às condições de vida do povo”, afirmou.

Marcela imputou ao governo Bolsonaro a responsabilidade pelo desmatamento nefasto da Amazônia e a farsa ao anunciar neste sábado que “conta” com o bilionário sul-africano Elon Musk para divulgar a Amazônia e combater as informações que ele supõe inverídicas sobre a região. Contudo, o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) mostrou que a área desmatada em abril deste ano chegou a 1.012 km², quase o dobro do maior número registrado no mês de abril até então. No ano passado, foram desmatados 580 km². Segundo ela, Bolsonaro quer construir uma cortina de fumaça sobre a destruição da Amazônia.

A resistência da classe trabalhadora também foi mencionada pela integrante do MML por meio das lutas como LG, Caoa Chery e Avibras contra o fechamento da empresa; mobilizações contra o racismo e o machismo; assim como as mobilizações dos servidores públicos e lutas operárias.

Em sua fala, Mancha refletiu prioritariamente sobre ação de setores majoritários do movimento sindical e da burguesia, que agiram para canalizar as mobilizações dos trabalhadores pelo Fora Bolsonaro para o processo eleitoral. Apontou que há cinco meses das eleições, Lula aparece como protagonista da Frente Ampla e Bolsonaro se mantém atrás nas pesquisas com queda, apesar de ter apresentado um crescimento mas que começa a estagnar.

O dirigente chama atenção de que Bolsonaro tem projeto de fechar regime, “não faz porque não teve correlação de forças para isso, mas é parte da conjuntura”, ressaltou.

Ao resgatar as lutas que estão acontecendo, Mancha destacou que “quem pensava que 2022 seria marcado pelas eleições, também está vendo ser marcado por lutas”. Em seguida, apontou as tarefas que entende como essenciais para esse período. Entre elas, trabalhar pela unificação das lutas e indicar a perspectiva de construir uma greve geral, que vem tendo as Centrais Sindicais como empecilho para essa preparação.

Mancha defende ainda que é necessário acrescentar aios debates do processo eleitoral uma alternativa de saída para o país, que não seja a conciliação de classes. “Por isso, precisamos agitar nas massas o nosso programa de emergência”, disse referindo-se ao programa elaborado pela CSP-Conlutas, um programa classista dos trabalhadores.

A professora Nancy falou em seguida e apontou índices relevantes que indicam o aprofundamento da crise do capitalismo como a queda abrupta do PIB e aumento da inflação. “A expectativa é que 205 milhões de empregos sejam perdidos até o fim de 2022. A OIT (Organização Internacional do Trabalho) indica que vai se fechar o ano de 2022 com cerca de 2 milhões de empregos a menos no mundo”. A OIT divulgou que, apenas em 2020, mais de 187 milhões de pessoas perderam seus postos de trabalho. A professora lembrou que o consumo das famílias caiu em R$ 270 bilhões, de 2011 a 2020.

Diante desses números globais, se concretiza a situação atual da crise social, disse: “A pandemia da Covid gestou meio bilhão de pessoas em pobreza extrema no mundo, pois tiveram famílias que se endividaram para sobreviver; 15 milhões de pessoas morreram de covid de acordo com o aumento de mortes no período; e no Brasil, não morreram mais pessoas porque o SUS nos manteve vivos”, disse.

No marco dessa situação, a dirigente chamou atenção para a crise climática cuja previsão é de que em 2030 haja um aumento de 1,5 grau no clima do planeta.

Entre as tarefas prioritárias, Nancy apontou a necessidade de derrotar Bolsonaro e não depositar nenhuma confiança no governo que sair das urnas, reafirmando que “a esquerda do Psol e CSP-Conlutas foram às ruas o tempo todo”.

O metroviário Diego elencou o caos pelo qual passa o país ilustrando com o rebaixamento salarial que a classe trabalhadora vem enfrentando, o aumento do número de moradores de rua, a queda da renda média no país para o pior patamar desde o Plano Real, em 1994, e o fato de mais da metade da classe estar na informalidade.

Destacou as greves que estão ocorrendo pela base, se enfrentando com burocracias sindicais, que, por sua vez, vêm freando lutas para girar para o processo eleitoral e se mostrarem confiáveis para a burguesia.

“A CSP-Conlutas dirige lutas importantes e precisamos explicar em cada uma delas que temos independência de classe, nos apresentando politicamente contra a burguesia”, disse ao criticar a chapa Lula-Alckmin que não defende bandeiras essenciais como direitos dos entregadores de aplicativos e a revogação absoluta da Reforma Trabalhista.

Dirigente do Andes-SN, Amaury destacou a crise econômica mundial aprofundada pela pandemia e pela guerra que poderá provocar a desglobalização nas relações comerciais e financeiras como recurso usado pelo capital para se proteger. “Quem é altamente dependente vai sofrer mais. Portanto, esse é um processo que vai nos afetar bastante e já temos um desemprego altíssimo, alta na carestia e as condições de vida do trabalhador brasileiro estão totalmente deterioradas com as políticas que estão sendo aprovadas no Congresso Nacional”, alertou.

Observou que fazer política engloba trabalhar com hipóteses e expôs duas: “Por exemplo, em fevereiro do ano que vem, nós, servidores públicos, poderemos estar fazendo greve por que Lula pode estar aplicando a reforma administrativa; porém, a reunião da Coordenação de fevereiro pode não estar sendo realizada porque Bolsonaro pode dar um golpe e os militares tomaram conta do país”, disse.

A partir de dessa análise, o dirigente se ateve no debate eleitoral ao defender uma “unidade de ação verdadeira” e que o processo eleitoral é real e tem de se participar, mesmo com setores da burocracia, enterrando a possibilidade de construir uma greve geral: “Quem acha que tem de ir pras ruas também está indo pras urnas”, salientou.

Disse ainda que quem apoia a Frente Ampla, se não abrir os olhos e for pras ruas, pode ser deparar com a hipótese de Lula ganhar e não assumir.

CSP-Conlutas e eleições

No debate de conjuntura não teve como o tema eleições não entrar na pauta e alguns posicionamentos se manifestaram.

Diego (CST – Corrente Socialista dos Trabalhadores), Mancha e Marcela (PSTU) integram o Polo Socialista, iniciativa que reúne diferentes organizações, e que está apresentando candidatos próprios para as eleições. Entre os setores há correntes, como a CST, qe defende que haja uma frente de esquerda, que agregue o PCB e a UP (Unidade Popular), proposta que não tem acordo do PSTU.

Nancy, da Luta Socialista, destacou que sua corrente está contra a candidatura de Lula como opção para o PSOL e defendeu que não haja nenhuma confiança no governo que sair das urnas.

Amaury defendeu que a CSP-Conlutas não aprove nenhuma posição sobre a eleição por ser uma entidade sindical, mas aponta a necessidade de uma unidade de ação ampla para derrotar Bolsonaro.

Ao final, Mancha reforçou que a CSP-Conlutas não tem se posicionado em defesa de um ou outro candidato nas eleições e que manterá este posicionamento nessas eleições, mas defende a legitimidade do debate político no interior da Central, bem como a defesa acima de tudo de um programa independente, classista e socialista em defesa dos trabalhadores.

Fonte: CSP-Conlutas

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