PUBLICADO EM 26 de maio de 2025

Sindicalistas de S. J. dos Campos são considerados anistiados políticos

Saiba mais sobre os sindicalistas de S. J. dos Campos e o reconhecimento de suas lutas durante a ditadura militar brasileira

Sindicalistas de S. J. dos Campos são considerados anistiados políticos

Sindicalistas de S. J. dos Campos são considerados anistiados políticos – Foto: Divulgação/MDHC

A Comissão de Anistia do Ministério de Direitos Humanos reconheceu, esta semana, a condição de anistiados de quatro militantes ligados ao movimento sindical e à ex-Convergência Socialista. Dois deles atuaram na organização da luta dos metalúrgicos da região durante a ditadura militar.

Além do reconhecimento, o Estado brasileiro pediu perdão aos anistiados pelas perseguições promovidas naquele período.

Foram anistiados:

  • José Donizetti de Almeida (ex-diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos);
  • Miriam de Oliveira Lazzarim (ex-cipeira da Embraer);
  • Nícia Bosco (ex-metalúrgica e ex-bancária) e;
  • Acácio Hermann Keufner Júnior (ex-comerciário e ex-integrante do movimento estudantil), que nos anos 2000 foi presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Nova Friburgo e hoje atua como assessor político no Sindicato de São José dos Campos.

Justiça

A decisão da Comissão de Anistia faz justiça a esses ativistas que enfrentaram a repressão, arriscando seus empregos e até mesmo a liberdade, num momento de ditadura cívico-militar a serviço do grande empresariado para superexploração dos trabalhadores.

Além do reconhecimento, o Estado pediu perdão aos anistiados pelas perseguições promovidas naquele período. Eles também conquistaram o direito à reparação econômica.

Os quatro anistiados eram integrantes da corrente política Convergência Socialista e foram perseguidos, na década de 1980, por participarem da organização de greves e manifestações da classe trabalhadora. A perseguição se concretizava com demissões.

Exceto Miriam, os anistiados hoje são militantes do PSTU. A história de cada um deles retrata a realidade vivida durante duas décadas por milhares de brasileiros. A seguir, um breve resumo dessas histórias.

Miriam de Oliveira Lazzarim iniciou sua militância na década de 1970. Em 1983, trabalhava na Embraer e era membro da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA). Apesar de ter estabilidade por ser cipeira, foi demitida.

O motivo: Miriam foi uma das lideranças da greve geral convocada contra a política econômica adotada pelo governo militar. Em todo país, milhões de trabalhadores cruzaram os braços no dia 21 de julho de 1983. A Embraer reagiu de forma violenta, utilizando-se de forte aparato policial. Miriam foi demitida no dia seguinte.

Em um documento da Aeronáutica, datado de 05 de agosto de 1983, consta que a Embraer demitiu Miriam e outros funcionários considerados como “principais agitadores no âmbito das empresas durante o malogrado movimento grevista e que faziam parte da Comissão de Operários que funciona dentro das empresas, como representantes do Sindicato”.

Acácio Hermann Keufner Junior iniciou sua militância estudantil em 1982, no Rio de Janeiro. Participava do movimento que pedia a reconstrução de um grêmio livre e do “Diretas Já”. Por suas atividades políticas, chegou a ser preso.

Ao longo da década de 80, trabalhando como comerciário, atuou nas principais greves ocorridas do período e ajudou a construir e organizar a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT).

Mesmo com o fim do governo militar, os órgãos de repressão e monitoramento continuaram existindo. Em 1986, Acácio foi demitido da empresa Embrafliper por ter participado da organização da greve geral por gatilho salarial.

Em 1987, começou a trabalhar no Itaú, mas não escapou do monitoramento realizado pelo banco, com o auxílio de órgãos de repressão que identificaram Acácio como membro do Convergência Socialista.

Em 1989, foi demitido quando se preparava para concorrer à eleição da diretoria do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro.

José Donizetti de Almeida foi militante da Pastoral Operária e da Convergência Socialista. Sua atuação o obrigou a mudar de emprego e residência, sistematicamente.

Na década de 1970, Donizetti participou de greves por melhores condições de trabalho e contra o regime ditatorial. Em 1977, começaram as perseguições, sempre em forma de demissão.

No ano de 1978, viu-se obrigado a buscar emprego no Vale do Paraíba, passando a trabalhar em terceirizadas que prestavam serviços para empresas como Petrobras, Rhodia e Kodak.

Essas empresas faziam parte do Centro Comunitário de Segurança do Vale do Paraíba (Cecose-VP), que, em acordo com os órgão de repressão das Forças Armadas, perseguia trabalhadores.

Um dos expedientes utilizados pelo Cecose-VP consistia na divulgação dos nomes de ativistas políticos. Eram as chamadas “listas sujas”, que garantiam as demissões e a não contratação de militantes e grevistas. Donizetti fez parte desta lista, perdendo o direito de trabalhar.

Nícia Bosco exerceu militância política desde a década de 1980. Esteve na direção de células e regionais da Convergência Socialista e era monitorada por serviços de inteligência do Estado.

Como resultado da sua militância, Nícia foi demitida do Banespa, apesar de ser concursada, e da metalúrgica Polimatic, fábrica no ABC Paulista, por liderar uma greve que também pedia liberdades democráticas.

Nícia teve suas atividades políticas vigiadas, inclusive em viagens internacionais, quando participou do congresso do partido de esquerda argentino MAS (Movimento ao Socialismo) em 1988.

“A anistia a esses bravos lutadores é uma importante conquista e confirma a necessidade de persistirmos de forma permanente na defesa das liberdades democráticas, duramente conquistadas. Ditadura nunca mais”, afirma o presidente do Sindicato, Weller Gonçalves.

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