PUBLICADO EM 20 de jan de 2022
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Sinalização de Lula ao centro ‘desmobiliza narrativa bolsonarista’, diz cientista política

Cientista política Mayra Goulart acredita que o mercado já “precificou a vitória de Lula”, mas não acredita que as elites financeiras possam aderir à candidatura do petista

Durante a entrevista coletiva, Lula manteve sua posição de revogar de parte da reforma trabalhista e a lei do teto de gastos, além de defender uma mudança na política de preços da Petrobras, que elevou o preço dos combustíveis – Foto: RICARDO STUCKERT

As declarações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva direcionadas a uma possível formação de chapa com o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, nas eleições presidenciais, é uma maneira de o petista acenar para o centro, desmobilizar a narrativa que o aponta como “radical” e, ainda assim, manter suas políticas progressistas. A análise é da professora de Ciência Política Mayra Goulart da Silva, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Na última quarta-feira (19), Lula concedeu uma entrevista à mídia independente e disse não “haver problemas” para compor uma coalizão com o ex-tucano. Para a cientista política, a união entre os dois está quase certa, restando saber apenas o partido em que estará Alckmin. “Essa chapa está cada vez mais próxima e faz parte da caminhada de Lula rumo ao centro, o que é uma estratégia válida diante de um governo autoritário. Lula vai tentar expandir a intenção de voto para além da esquerda. Ao sinalizar para o centro, ele desmobiliza a narrativa bolsonarista de que não é moderado”, disse ela a Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual.

O ex-presidente e dirigentes nacionais do PT defendem a discussão sobre uma possível revogação de parte da reforma trabalhista além da derrubada da lei do teto de gastos e de uma mudança na política de preços da Petrobras. Mayra acredita que o mercado já “precificou a vitória de Lula”, mas não acredita que as elites financeiras defenderão a candidatura do petista, pois vão priorizar os candidatos que rentabilizam seus ganhos.

“Lula sinaliza que é um candidato de esquerda, por isso coloca a oposição entre desigualdade e teto de gastos, dizendo que quer um Estado forte. Tudo isso compõe o ideário que ele apresenta, embora amparado ao centro, sem abrir mão de fazer um governo de esquerda. Isso causa menos assombro ao mercado, pois se sabe que Lula não será nada radical”, afirmou a especialista.

Lula, Alckmin e o PSB
Ainda ontem, o ex-presidente disse que conversa com ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (PSD). Na avaliação de Mayra Goulart, para uma coalizão de governo e apoio legislativo, uma chapa com Alckmin no PSD seria mais interessante ao petista, já que o PSB costuma votar a favor de pautas progressistas.

Entretanto, ela acredita que o caminho mais fácil de viabilização da chapa é o PSB, pois o partido de Kassab tem o obstáculo de ter muitos deputados conservadores. “No PSD, há mais deputados que terão a perder se estiverem numa composição com Lula, pois possuem uma base eleitoral conservadora, enquanto o PSB tem parlamentares mais ligados à esquerda e o petista não seria um impedimento eleitoral. E a eleição legislativa é o principal campo de disputa desses partidos, que querem aumentar a representação na Câmara”, afirmou.

Numa possível aliança com o PSB e Alckmin, Lula diz que o partido poderia fechar um acordo e o senador Humberto Costa retiraria pré-candidatura em Pernambuco, abrindo espaço para um candidato pessebista. Lula manifestou apoio a Marcelo Freixo ao governo do Rio de Janeiro, porém, ao falar sobre as eleições de São Paulo, disse que haverá uma avaliação pra ver se Marcio França ou Fernando Haddad tem mais chance, mas aobservou que nunca um candidato petista teve tanta chance de ganhar.

Para a cientista política, o PSB não está numa posição de fazer tantas demandas ao PT. “Principalmente por estar numa chapa com um candidato franco favorito, ou seja, ganhando um patamar de visibilidade que não conseguiria de outra forma. É um jogo duro sem muito cacife”, analisou ela.

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