PUBLICADO EM 27 de out de 2021
COMPARTILHAR COM:

Servidores do RS perdem metade da renda em sete anos

O Dia do Servidor (28/10) coincide com a divulgação de um dado alarmante: a perda de praticamente metade do poder de compra do funcionalismo público estadual. Levantamento feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a pedido do Sindicato dos Servidores de Nível Superior do RS (Sintergs), mostra que o salário de especialistas em saúde, analistas de projetos e políticas públicas e extranumerários encolheu 48,3% em sete anos, considerando a inflação medida pelo IPCA/IBGE. Estes profissionais atuam em praticamente todas as áreas do governo, como Saúde, Agricultura, Obras, Planejamento, Turismo, Cultura e Meio Ambiente.

“Quando o governador Eduardo Leite diz que colocou as contas do Estado em dia, esconde que foi em cima do sacrifício e do confisco do salário dos servidores. O governo está estrangulando a renda dos trabalhadores que executam as políticas públicas do Estado”, afirma Antonio Augusto Medeiros, presidente do Sindicato dos Servidores de Nível Superior do RS (Sintergs). O dirigente lembra que não conceder a inflação fere a previsão constitucional de irredutibilidade salarial, pois negar este repasse tem o mesmo efeito prático da redução.

Mesmo que a inflação fosse zero, os salários praticados no país são insuficientes para cobrir o custo de vida. “A realidade, que já era degradante antes da chegada da pandemia, revela o abandono e o descaso do governo com as políticas públicas desde 2016 e que se agravou de 2019 para cá”, destaca a economista Daniela Sandi, do Dieese. Somado à perda do poder de compra pela inflação, os funcionários públicos ainda amargaram atrasos e salários parcelados durante seis anos.

Custo do orçamento familiar aumenta além da inflação entre 2014 e 2021

Na cesta básica, o óleo de soja subiu 217,5% entre 2014 e 2021, tendo a maior alta entre os alimentos essenciais. A carne teve aumento de 116,3%, o arroz, 100%, e o feijão, 92%. A alta de preços destes itens contribuiu para a elevação de 96,2% no valor da cesta básica, ainda considerando a mesma base de comparação. Entre os itens essenciais do orçamento familiar, a cesta básica foi o terceiro indicador que mais subiu de preço em sete anos. (Veja tabelas)

“A inflação e o avanço assustador de preços escancara a corrosão dos salários dos trabalhadores do Poder Executivo”, pontua Medeiros, lembrando ainda que, além de não ter nenhum tipo de reajuste, os servidores perderam progressões na carreira que poderiam reduzir, pelo menos em parte, as perdas.

A piora das condições de vida da boa parte da população e dos trabalhadores está diretamente ligada às escolhas econômicas e políticas dos últimos anos, considera Daniela, que destaca baixo crescimento, forte desregulamentação dos direitos trabalhistas, redução dos serviços públicos e desestruturação do mercado de trabalho e de políticas de transferência de renda em nome de medidas neoliberais.

Produtos da cesta básica que mais aumentaram
Itens Nov/14 Set/21 Variação
Óleo de soja R$ 2,57 R$ 8,16 217,5%
Carne R$ 20,40 R$ 44,13 116,3%
Arroz R$ 2,28 R$ 4,56 100%
Feijão R$ 4,35 R$ 8,35 92%

Fonte: Dieese

Variação de preços de itens essenciais do orçamento familiar
(de novembro de 2014 a setembro de 2021)
Gás de cozinha 120,5%
Combustível (gasolina) 113,6%
Cesta básica 96,2%
Energia elétrica 91,4%
Tarifa ônibus municipal 62,7%
Refeição em restaurante 60,7%
Água – Corsan 58,6%
Água – Dmae 54,9%
IPCA/IBGE 48,3%

Fonte: Dieese, a partir de dados de IBGE, IEPE/UFRGS e Dieese

Custo de itens do orçamento em Porto Alegre
Itens Nov/14 Set/21  Variação
Tanque de gasolina (44 litros) R$ 129,40 R$ 276,30 113,6%
Mensalidade escolar R$ 510,90 R$ 948,10 85,6%
Cesto Básico IEPE – 51 itens (alimentos, higiene e limpeza e gás de cozinha) R$ 620,80 R$ 1.092,00 75,9%
Condomínio R$ 135,70 R$ 198,80 46,5%
Telefone celular R$ 53,60 R$ 70,70 31,8%
Aluguel R$ 1.089,60 R$ 1.282,40 17,7%
Gasto monetário (total) R$ 2.539,90 R$ 3.868,20 52,34%

Fonte: IEPE/UFRGS

 

Com a defasagem salarial, qualidade de vida dos servidores diminui

O salário de funcionário público de nível superior há dez ou quinze anos era atrativo, mas se tornou insuficiente para cobrir as despesas básicas de uma família. Foi o que aconteceu com Luciano Homrich Neves da Fontoura, engenheiro mecânico da Secretaria de Obras e Habitação do Estado. Para priorizar o investimento nos estudos da filha, o servidor abriu mão de residir em um bairro central e enxugou as despesas fixas para reorganizar o orçamento.

Luciano morava de aluguel e planejava comprar a casa própria no Menino Deus pela proximidade do Centro Administrativo Fernando Ferrari (CAFF). No bairro, um imóvel custaria em torno de R$ 500 mil, enquanto no Nonoai, distante sete quilômetros do trabalho, uma casa semelhante custava a metade. Luciano fez as contas e mudou de bairro.

“Antes, atravessava a rua e estava no parque (Marinha do Brasil). Agora, a minha qualidade de vida caiu um pouco, porque não consigo ir a pé para o trabalho, dependo de usar o carro”, afirma o servidor. Cancelou a assinatura da televisão a cabo, reduziu o pacote de internet e o plano do celular. Desde então, também não trocou mais de carro. “Essa é a minha realidade”, afirma.

Foi desta forma que conseguiu manter a filha, de 18 anos, em uma escola particular. Mas agora, com a filha prestes a concluir o Ensino Médio, Luciano começa a se preocupar com o ingresso na universidade. “Nós, como classe média, não conseguimos mais pagar uma universidade privada para os filhos. Só por meio de crédito educativo”, lamenta o servidor, que sempre valorizou a educação. Tanto que fez dois cursos de aperfeiçoamento – MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getulio Vargas e especialização em Gestão Pública pela Uergs.

A remuneração bruta de Luciano é a mesma de 2014. “As minhas aspirações financeiras não são grandiosas. Quero viver com equilíbrio e sem agredir o meio ambiente. Eu não estou pedindo nada mais que o justo, que é a reposição da inflação”, reivindica o servidor, que costuma fiscalizar obras de até R$ 10 milhões.

Sobre a atual política de Estado mínimo, Luciano acredita que os últimos governos estão errando na gestão. “O Estado tem que pensar em aumentar o número de servidores, e não em reduzir. Serviço público em um país como o nosso é distribuição de renda”, defende. O servidor acrescenta que a PEC 32, que tramita na Câmara dos Deputados, irá prejudicar, sobretudo, os trabalhadores que ganham menos. “É um país muito injusto, muito desigual.”

Fonte:  Assessoria de Comunicação SINTERGS

ENVIE SEUS COMENTÁRIOS

QUENTINHAS