Dados do Monitor da Violência mostram que em 2020 no Brasil 78% dos mortos pela polícia eram negros. O número refere-se às vítimas das polícias militar e civil e significa que quase quatro a cada cinco pessoas mortas pelas polícias em 2020 eram pretas ou pardas.
O levantamento foi realizado pelo G1, em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública e o Núcleo de Estudos da Violência da USP, com base nos confrontos com civis ou lesões não naturais com intencionalidade envolvendo policiais em atividade.
Dennis Pacheco, pesquisador do Fórum, explica que os números são um reflexo do racismo enraizado no país. “O motivo é histórico. A gente tem uma representação social da população negra no Brasil que foi construída por meio da escravidão. A perspectiva de que o negro é perigoso, de que ele é pobre, de que tem uma tendência maior a estar envolvido em atividades criminosas acaba tendo impacto na forma como essas pessoas são abordadas”, afirma.
Responsabilidade das instituições
Além dos agentes de segurança, a responsabilidade por esses números também deve ser atribuída às instituições do sistema de justiça, ressalta Jurema Werneck, diretora executiva da Anistia Internacional no Brasil.
“Isso está acontecendo na frente de todo mundo, de todo o sistema de justiça, e esse ciclo não está sendo interrompido. A justiça criminal tem de ser responsabilizada. E, por outro lado, o restante das instituições estatais e da sociedade também. Entre essas instituições está o Ministério Público, que tem obrigação constitucional de fazer o controle externo da polícia”, diz.
“Reconhecer que o racismo continua presente na sociedade e influencia as ações dos agentes de segurança é o primeiro passo para se pensar formas de mudar a realidade da letalidade policial contra a população negra.” É o que explica a pesquisadora associada do Núcleo de Estudos da Violência da USP, Ariadne Natal.
Falta de transparência
O levantamento revela outro problema sobre a atuação das forças de segurança: a falta de transparência das informações. Isso porque 11 estados brasileiros não divulgaram dados sobre raça das pessoas mortas pelas corporações.
A falta dessas informações impede a criação de políticas públicas eficientes na área de segurança pública, conforme aponta Dudu Ribeiro, coordenador da Rede de Observatórios da Segurança da Bahia e co-fundador da Iniciativa Negra Por Uma Nova Política Sobre Drogas.
“Essa falta de transparência é parte do projeto de distribuição de morte, enquanto operação conduzida pelo Estado. É a partir da não produção de dados qualificados e da falta de transparência que a gente tem mais dificuldade de encontrar saídas e políticas públicas. Isso também representa um processo desumanizador de nossas comunidades devido à falta de prioridade no orçamento público”, afirma.
Fonte: Rádio Brasil Atual