Apesar disso, economistas ouvidos pelo Valor ainda estimam uma contribuição positiva do comércio e do consumo das famílias para o Produto Interno Bruno (PIB) do país no terceiro trimestre.
Dados divulgados ontem pelo IBGE mostram que as vendas do varejo – descontada a inflação – recuaram 1,3% em setembro, frente a agosto. Foi o pior resultado para o mês desde 2000, início da série da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC). A leitura ficou no piso das estimativas, bem abaixo da média das projeções de analistas ouvidos pelo Valor Data, de queda de 0,2%.
A abertura da pesquisa mostra uma bateria de números negativos, com seis dos oito ramos acompanhados registrando queda frente agosto. O golpe mais duro veio do setor de hiper e supermercados, que concentra metade da receita do varejo na pesquisa do IBGE. As vendas do setor recuaram 1,2% no mês, o pior resultado para setembro desde 2002 (-2,4%).
Além da conjuntura de desemprego elevado e da falta de confiança de consumidores, o tombo do varejo em setembro estaria ligado à menor injeção de recursos do PIS/Pasep na economia. Em agosto, os saques dessas contas foram os principais responsáveis pelo aquecimento da venda do varejo, que cresceu 2% (revisado de uma alta de 1,3%).
Segundo Vitor Velho, analista da LCA Consultores, dados da Caixa e do Banco do Brasil mostram que os saques de PIS/Pasep para menores de 60 anos teriam desacelerado para R$ 2,5 bilhões em setembro, em relação aos R$ 11 bilhões do mês anterior. “Isso deu impulso em quase todos os segmentos do setor de varejo [em agosto]”, disse.
Apesar da forte queda de setembro, as vendas do varejo ficaram estáveis no terceiro trimestre em relação aos três meses anteriores. Só não houve queda porque a base de comparação é baixa, devido à greve dos caminhoneiros. Já o varejo ampliado – que inclui o comércio de veículos e material de construção, além dos outros oito ramos do varejo – cresceu 2,1% nessa comparação.
Mesmo com os novos números, economistas preveem contribuição positiva do comércio para a atividade econômica do terceiro trimestre. Nas contas da LCA, o PIB do comércio – que inclui varejo e atacado – vai crescer 2,3% frente ao segundo trimestre e 3% na comparação com o mesmo período de 2017. O Ibre, da FGV, estima alta do PIB do comércio de 1,9% e 2,7%, respectivamente.
A economista Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Ibre/FGV, lembra que a PMC do IBGE, por medir o resultado do varejo (sem o atacado), é especialmente relevante para o cálculo do consumo das famílias. Para ela, esse componente da demanda deverá crescer 1% ante o segundo trimestre de 2018 e 1,8% na comparação com igual período de 2017.
Isso não significa que o mercado esteja animado com o setor para o restante do ano. O desemprego e as incertezas continuarão pesando. Flavio Serrano, economista do Haitong, diz que mesmo as recentes surpresas positivas do mercado de trabalho formal medido pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) não são suficientes para suportar a recuperação mais firme do setor.
“Há uma situação de desemprego bastante elevado e essa ociosidade alta acaba limitando a expansão do consumo. O comércio está bastante relacionado à dinâmica de consumo”, diz Serrano. “Vimos no segundo e terceiro trimestres alguma volatilidade dos indicadores de atividade por causa da greve e das incertezas em relação ao cenário externo e eleitoral; isso não foi favorável à dinâmica.”
Especificamente para o mês de outubro, o Itaú Unibanco prevê um avanço de 0,5% nas vendas do setor, pelo conceito restrito, e estabilidade nas vendas pelo conceito ampliado. Essa projeção preliminar tem como base indicadores coincidentes do varejo para o mês. A MCM Consultores tem números um pouco diferentes: estabilidade no varejo restrito e avanço de 0,9% no varejo ampliado em outubro.
Para Alberto Ramos, economista do Goldman Sachs, as perspectiva para o consumo das famílias e vendas do varejo seguem de recuperação moderada. Pelo lado positivo, ele aponta para uma ambiente de inflação baixa, o crescimento do emprego e a consolidação dos fluxos de crédito. Por outro lado, avalia que a ociosidade significativa no mercado de trabalho pode limitar o dinamismo do consumo privado e das vendas no varejo.
A Confederação Nacional do Comércio (CNC), por sua vez, prevê perda de ritmo do setor no consolidado do segundo semestre. O volume de venda do varejo ampliado deverá crescer 2,4% no segundo semestre deste ano ante ao mesmo período de 2017, quase a metade do ritmo verificado na primeira metade do ano (5,4%), de acordo com as estimativas da entidade.
Fonte: Valor Econômico